Fundo da agulha

O fundo da agulha, olho da agulha ou buraco da agulha, em grego ρυπήματος ῥαφίδος, é uma expressão proverbial presente nos Evangelhos Sinópticos (Mateus 19:24, Marcos 10:25, Lucas 18:25), utilizada por Jesus em um ensinamento sobre a relação entre a riqueza e a entrada no Reino de Deus. Essa passagem ocorre no contexto da narrativa em que Jesus orienta um jovem rico a vender seus bens, e em seguida afirma que “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”.

O contraste entre o camelo, o maior animal comum na Palestina, e o buraco de uma agulha, uma das menores aberturas imagináveis, serve para ilustrar uma impossibilidade. Tal hipérbole é comum na literatura rabínica. Por exemplo, o Talmude menciona um elefante passando pelo buraco de uma agulha como um evento impossível. Desse modo, Jesus utilizava uma expressão idiomática bem compreendida no contexto judaico de sua época.

A reação dos discípulos, expressa na pergunta “Então, quem pode ser salvo?”, reflete a crença comum de que a riqueza era um sinal de bênção divina para os justos. A resposta de Jesus enfatiza a soberania divina ao afirmar que “com Deus todas as coisas são possíveis”. O objetivo aparente da passagem é demonstrar a inadequação de confiar em riquezas como meio de alcançar a salvação, destacando a necessidade de depender de Deus.

Ao longo da história, surgiram interpretações alternativas para amenizar a dificuldade do ensinamento. Uma proposta do século V sugere que o termo grego kamelos (camelo) deveria ser lido como kamilos, significando corda ou cabo de ancoragem. Apesar de versões armênias e georgianas adotarem essa leitura, ela não é amplamente aceita devido à escassez de evidências textuais e por não aliviar significativamente a hipérbole. Outra sugestão, originada no século XV, identifica o “buraco da agulha” com um suposto pequeno portão nas muralhas de Jerusalém, pelo qual um camelo só poderia passar com grande dificuldade, ajoelhado e sem carga. Contudo, não há fundamento literário, histórico ou arqueológico que comprove a existência de tal portão.

Estudos modernos enfatizam a interpretação literal do dito como uma metáfora para impossibilidades humanas em contraste com o poder divino. A discussão contemporânea sobre essa expressão continua a explorar seu significado cultural e teológico, especialmente no que diz respeito à relação entre riqueza, espiritualidade e a ética do Reino de Deus.

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