Congregação Cristã nos Estados Unidos

A Congregação Cristã nos Estados Unidos, em inglês Christian Congregation in the United States, abreviação CCUS, é uma comunhão de igrejas locais com raízes no avivamento pelo Espírito Santo na cidade de Chicago em 1907.

Como o movimento se alastrou para diversas cidades da América do Norte e outras nações, sobretudo o Brasil, aos poucos foi ganhando contornos denominacionais. Em 1927 foi reunida a convenção de Niagara Falls para estabelecer entre essas igrejas a associação de fato Unorganized Italian Christian Churches of North America (Igreja Cristã Italiana da América do Norte), embora cada igreja local poderia adotar outro nome de placa, como de na prática continuaram. Os nomes mais comuns das igrejas locais eram Assembleia Cristiana, Italian Christian Church e Congregazione Cristiana.

No final dos anos 1970 surgiu a vontade de reunir congregações locais independentes e grupos de crentes migrantes principalmente de Portugal, Brasil e América Hispânica com raízes históricas e doutrinárias nesse avivamento de 1907.

Assim, a partir de 1980 a Christian Congregation in the United States foi organizada com apoio anciãos brasileiros, entre eles Miguel Spina e Victorio Angare, e iniciativa de Joel Spina. Aderiram inicialmente a Italian Christian Assembly of Alhambra, Los Angeles (anciãos Alexander Puglia e Salvatore Licari); Buffalo Christian Congregation (anciãos Arno Scoccia e Louis Terragnoli Junior) e Christian Congregation de Chicago (onde viriam a ser anciãos Samuele Calabrese e Joel Spina).

Desde o início, a CCUS mantém vínculos de comunhão espiritual e doutrinária com outras Congregações Cristãs ao redor do mundo, mas especialmente com o Canadá e México. Também manteve apoio e missões na América Central e Caribe. Historicamente enviou e representantes para as reuniões ministeriais da Congregação Cristã no Brasil e na Congregazione Cristiana in Italia, também recebendo representantes dessas igrejas co-irmãs. A CCUS é signatária da Convenção Internacional das Congregações Cristãs, firmada em São Paulo em 2003.

Por razões doutrinárias, a CCUS não possui centrais. Cada igreja local com patrimônio e condições de pessoal próprios são registradas (incorporadas) como entidades legais em cada estado. As assembleias gerais dos anciãos, as equivalentes às Reuniões Gerais de Ensinamento no Brasil, são realizadas de forma rotativa a cada ano, historicamente em Buffalo, Alhambra e Chicago.

No início de 2024 a CCUS contava com cerca de 90 congregações pelo país.

Doutrinariamente, a CCUS possui artigos de fé similares com outras Congregações Cristãs no Mundo; todavia, não adotou as alterações realizadas unilateralmente no Brasil em 1995 e 2013.

SAIBA MAIS

ALVES, Leonardo Marcondes. Congregação Cristã na América do Norte: sua origem e culto. 2011. pp. 4-5

www.ccus.org

 World’s Faith Missionary Association

A Associação Missionária de Fé Mundial (WFMA) foi uma organização evangélica fundada em 1887 pelo pelo pregador de Santidade Charles S. Hanley e sua esposa Minnie Hanley em Shenandoah, Iowa, para promover o cristianismo evangélico globalmente.

Inicialmente concebida como uma plataforma para ensinamentos radicais do movimento de Santidade, a associação também operava sob o nome de “Organização Sarça Ardente”.

Como organização, não controlava congregações locais, mas efetivamente era uma denominação. Levantava fundo para missões, promovia reuniões de avivamento e credenciava minisros. Dentre seus convertidos estava William H. Durham, o qual seria ordenado pela WFMA.

Após o falecimento de C.S. Hanley em 1925, a WFMA passou por disputas que levaram à sua fragmentação. Depois houve o restabelecimento de facções separadas, cada uma competindo pela legitimidade da WFMA. Uma delas, liderada CS Osterhus criou a WFMA em Robbinsdale, Minnesota, enquanto outra facção, liderada por rev. Montgomery, iniciou operações em Webster Groves, Missouri. Para distinguir as duas entidades, esta última facção adotou o nome de “Associação Ministerial Fundamental” em 1931, enfatizando a unidade doutrinária da organização.

Em 1958, durante a convenção anual realizada no Trinity Seminary e no Bible College em Chicago, Illinois foi promulgada uma reforma organizacional, renomeada Aliança da Igreja Evangélica (ECA). Hoje a ECA conta com mais de 1.600 constituintes, incluindo pastores, professores, missionários e capelães de diversas origens denominacionais.

BIBLIOGRAFIA
DeLong, Joseph I. “It Ought to Be Written”: The Story of Charles and Minnie Hanley, Founders of the World Faith Missionary Association, and the Origin of the Evangelical Church Alliance, Inc. Lulu, 2006.

Dorothee Sölle

Dorothee Sölle (1929-2003) foi uma teóloga e escritora protestante alemã, ativista pela paz.

Sölle nasceu em Colônia em 1929 como Dorothee Nipperdey. Educada em uma família protestante de classe média que valorizava a arte e a filosofia. A família escondeu uma judia no sótão por um tempo e foi forçada a evacuar durante o bombardeio de Colônia. Um dos irmãos mais velhos de Sölle foi mobilizado e morreu no cativeiro. 

Estudou línguas clássicas e filosofia em Colônia e Freiburg, mas dois anos depois passou a estudar alemão e teologia em Göttingen. Apesar de não se identificar como religiosa, possuir uma atitude nominal e secular em relação à Igreja Evangélica Alemã. Não se deixou impressionar pela neo-ortodoxia que insistia em que Deus “completamente diferente”.

Após sua formatura em 1954, tornou-se professora de religião no ensino médio. Casou-se com o artista Dietrich Sölle, com quem teve três filhos.  O casamento duraria dez anos.

Começou a escrever sob contratos esporáticos e a participar de programas de rádio, falando principalmente sobre história da arte.

Apesar das dificuldades, Sölle escreveu sua fundamentação teológica em Stellvertretung (1965). Entrelaçou a visão cristológica clássica de Cristo representando os humanos diante de Deus com uma noção mais incomum: Cristo também representa Deus entre nós, o Deus ausente e invisível que muitos percebem como “morto”. Além disso, Sölle acreditava que a humanidade representaria Cristo aos outros até o retorno definitivo de Cristo. Isto despertou resistência entre os teólogos eclesiásticos, considerando o seu trabalho demasiado liberal. A mudança de Sölle para a teologia política, entrelaçada com sua vida pessoal, casando-se com Fulbert Steffensky. Ela defendeu a responsabilidade política dos cristãos, o que lhe valeu o rótulo de “socialista cristã”.

Sölle escreveu sobre teologia da libertação, filosofia marxista e teologia feminista. A teologia de Sölle centrava-se em agir contra a injustiça e a opressão no mundo. Escrevia para um público mais amplo, traduzindo conceitos de uma teologia política altamente engajada com uma atitude mística de fé. 

Foi uma teóloga da controvérsia e da contradição. O caráter fragmentário de sua obra torna difícil de sistematizar seu pensamento e classificá-lo em grandes correntes.

BIBLIOGRAFIA

Sölle, Dorothy. “Theology for Skeptics” (1968)

Sölle, Dorothy. “Mysticism and Resistance” (1997).

Movimento de Teologia Bíblica

O Movimento de Teologia Bíblica, floresceu nas décadas de 1940-1960 e pretendia transcender as polaridades teológicas, apresentando a Bíblia como um recurso teológico unificado.

O trabalho de G. Ernest Wright, “The God Who Acts: Biblical Theology as Recital” (1952), defendeu a compreensão da Bíblia como um evento mais interpretação – uma narrativa confessional sobre Deus. Ao contrário das abordagens tradicionais focadas na facticidade histórica, este movimento centrou-se na função da narrativa dentro do cânone bíblico. Esperava assim transcender a dicotomia entre teologia liberal e evangelical.

Enfatizando a unidade teológica da Bíblia, o movimento da teologia bíblica empregava um arcabaouço da história da redenção. Pretendia dar uma exploração sintética da natureza, da vontade e do plano de Deus na criação e na redenção. O movimento uniu estudiosos no ressurgimento da teologia e no compromisso de desvendar a revelação de Deus na história.

O movimento desvaneceu quando James Barr criticou o Movimento de Teologia Bíblica por impor categorias modernas a textos antigos, simplificando demais a diversidade da Bíblia e negligenciando o contexto histórico. Barr notou a influência da filosofia hegeliana, questionou a centralidade da teologia da aliança e advertiu contra uma abordagem cristocêntrica que ofuscava o valor distinto do Antigo Testamento.

Francesco Turrettini

Francisco Turrettini, Francesco Turrettini, François Turrettin (1623–1687) foi um teólogo da escolástica protestante.

Nasceu em Genebra em 1623 de uma família protestante, com seu avô sendo Giovanni Diodati. Teve atividades acadêmicas em Leiden, Utrecht, Paris, Saumur, Montauban e Genebra. Como pároco em Genebra, também se encarregou dos cuidados pastorais da comunidade italiana.

Turrettini sucedeu a Theodor Tronchin na cátedra de teologia da Academia de Genebra, onde acabou se tornando reitor.

Fervoroso defensor de uma visão calvinista mais estrita, Turrettini se opôs às visões calvinistas associadas à Academia de Saumur. Participou ativamente do Consenso Helvético, defendendo as formulações de predestinação do Sínodo de Dort.

A principal obra de Turrettini, “Institutio Theologiae Elencticae” (3 partes, Genebra, 1679-1685), exemplifica a escolástica reformada. Abordou várias questões controversas, defendendo a noção da Bíblia como a palavra inspirada de Deus, o infralapsarianismo e a teologia federal. Suas obras, incluindo “De Satisfactione Christi disputationes” (1666) e “De necessaria secessione nostra ab Ecclesia Romana et impossibili cum ea sincretismo” (publicado em 1687), abordavam assuntos teológicos críticos.

A influência de Turrettini sobre os puritanos e teólogos posteriores ganharam reconhecimento. Suas obras eram os manuais didáticos de vários seminários, incluindo o de Princeton.

A sua doutrina da liberdade, rejeitando a noção de indiferença, enfatizava a soberania de Deus e a espontaneidade racional da vontade humana.

Francisco Xavier de Oliveira

Francisco Xavier de Oliveira, dito Cavaleiro de Oliveira (1702–1783) foi um escritor estrangeirado português, apologista do protestantismo.

Nascido em Lisboa, era o filho mais velho de José de Oliveira e Sousa, figura que serviu como Balcão de as Contas Reais e Secretário de D. João Gomes da Silva, Conde de Tarouca. A mãe de Francisco Xavier de Oliveira era Isabel da Silva Neves.

Aos 14 anos, em 1716, Francisco Xavier de Oliveira foi admitido no Tribunal dos Contos do Reino, provavelmente pelos serviços prestados pelo seu pai à instituição. Em 1729, aos 27 anos, foi nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo e, em 1730, casou-se com Ana Inês de Almeida. Ana Inês faleceu em 1734, deixando duas filhas falecidas na infância e um filho chamado José Anastácio.

Em 1734, Francisco Xavier de Oliveira foi nomeado para a embaixada de Portugal em Viena, sucedendo ao seu pai. Durante a sua missão diplomática, teve conflitos com o embaixador e desenvolveu uma estreita relação com os Príncipes da Valáquia. Em 1739, casou-se com Maria Euphrosine de Punchberg, que faleceu apenas nove meses depois.

Após um período de viagens, mudanças e mudanças de casamentos, Francisco Xavier de Oliveira fixou residência em Londres em 1740. Seus escritos, como “Carta ao Senhor Isaac de Sousa Brito” (1741) e “Mémoires de Portugal” (1741), ganharam atenção, mas a Inquisição em Portugal proibiu a sua distribuição em 1741 e 1742. “Opúsculos Contra o Santo Ofício” (1742), constituem alguns dos ataques mais veementes contra a Inquisição, responsabilizando-a pelo aparente atraso de Portugal. Em 1746, converteu-se oficialmente ao protestantismo.

Francisco Xavier de Oliveira enfrentou problemas financeiros e prisão por dívidas entre 1746 e 1748. Publicou obras como “Discours pathétique au sujet des calamités” (1756) após o terremoto de Lisboa de 1755.

Em 1761, foi condenado pela Inquisição e sentenciado à revelia, o que levou à queima de sua efígie em auto-de-fé. Continuou a criticar a Inquisição e as práticas católicas, publicando obras como “Reflexões de Félix Vieira Corvina dos Arcos” (1767) e um manuscrito inédito intitulado “Tratado do Princípio, Progresso, Duraçam, e Ruína do Reinado do Anti-Christo”. “

Francisco Xavier de Oliveira, ora é caracterizado como um homem do mundo e defensor da liberdade, ora sua sinceridade na adoção do protestantismo é questionada.

Camisards

Os Camisards eram um grupo de protestantes franceses ou huguenotes, que viveram na região acidentada de Cévennes, no sul da França, durante o final do século XVII e início do século XVIII. Desempenharam um papel significativo na história da perseguição e resistência religiosa na França.

Os protestantes franceses tiveram uma presença significativa na região de Cévennes no início do século XVI. Muitas vezes enfrentaram perseguições e restrições às suas práticas religiosas, levando-os a adorar em áreas remotas, como florestas, cavernas e ravinas. O Édito de Nantes de 1598 proporcionou algum alívio aos protestantes, mas não garantiu totalmente a sua liberdade religiosa. A situação agravou-se com a revogação do Édito de Nantes em 1685, que levou à proibição dos cultos protestantes e à destruição dos seus templos.

Em resposta à revogação do Édito de Nantes, os huguenotes que permaneceram em Cévennes levantaram-se em defesa da sua liberdade religiosa. Eles pegaram em armas contra as tropas reais e iniciaram um período de resistência armada de 1702 a 1704. Os combates esporádicos continuaram até 1715.

Os Camisards lutaram contra adversidades significativas, com cerca de 3.000 protestantes enfrentando 30.000 soldados reais. Os seus esforços para resistir à perseguição religiosa e defender as suas crenças tornaram-se um símbolo de resistência religiosa.

A Revolta Camisard

A resistência dos Camisards, muitas vezes referida como Revolta Camisard, foi caracterizada por táticas de guerrilha. Com apoio das suas comunidades locais e no seu conhecimento do terreno montanhoso, emboscavam as tropas reais e interrompiam as comunicações. Os comandantes dos Camisards, escolhidos pelas suas capacidades proféticas, lideraram estes bandos rebeldes e defenderam a destruição da Igreja Católica.

O conflito entre os Camisards e a monarquia francesa foi marcado por episódios de violência, incluindo o incêndio de aldeias nas montanhas e pogroms militares dirigidos à população civil. Apesar da derrota final dos Camisards, a sua resistência garantiu que o protestantismo persistisse na região de Cévennes.

Aspectos Proféticos e Carismáticos

O movimento Camisard foi caracterizado por elementos proféticos e carismáticos. Profetas e profetisas desempenhavam um papel crucial na comunidade, fornecendo orientação espiritual e previsões. Os Camisards acreditavam ter recebido revelações diretas do Espírito Santo, o que os capacitou para resistir à Igreja Católica e à monarquia.

A inspiração profética muitas vezes incluía manifestações emocionais, como falar com grande agitação e soluçar, cair no chão e entregar profecias. Esta tradição profética foi fundamental para fortalecer a determinação dos Camisards e inspirá-los a continuar a sua resistência.

Uma característica distintiva do movimento Camisard foi o envolvimento ativo de mulheres e crianças em papéis de liderança. Mulheres e crianças manifestavam com falar em línguas, profetizar e liderança reuniões. Os Camisards viram isto como um sinal divino de aprovação à sua resistência. Foi relatado que as crianças, em particular, falavam em línguas estrangeiras, o que interpretaram como um sinal de julgamento sobre o rei francês e a Igreja Católica.

Escola de Princeton

A Escola de Princeton, princetonianismo ou a teologia de Princeton foi uma vertente teológica reformada e presbiteriana centrada no Seminário Teológico de Princeton, desde a sua fundação em 1812 até a década de 1920. Os princetonianos apresentaram-se como os guardiões da ortodoxia reformada, embora fossem frutos da modernidade do século XIX.

Os teólogos de Princeton, incluem Archibald Alexander, Charles Hodge e B. B. Warfield, aderiram a uma mistura de confessionalismo calvinista presbiteriano, um evangelicalismo conversionista e uma retórica erudição. Possuíam um apreço pelo contexto americano, uma combatividade contra pensamentos e movimentos concorrentes, métodos positivistas e pressupostos da filosofia do senso comum escocês.

As origens de Princeton remontam ao Log College (1735) , uma escola durante o Primeiro Grande Despertar liderada por William Tennent, Sr. época foram treinados lá. O College of New Jersey surgiu do Log College em 1746.

O Seminário foi fundado em 1812 com o lema “Piedade do coração e aprendizado sólido”. O corpo docente inicial incluía Archibald Alexander , Samuel Miller e Charles Hodge. Archibald Alexander (1772-1851) era originário da Virgínia. Tinha experiência como presidente do Hampden-Sydney College e pastor antes de se tornar o primeiro professor do Seminário de Princeton. Samuel Miller (1769-1850) ingressou no corpo docente depois de servir como pastor na cidade de Nova York. Charles Hodge (1797-1878) ingressou no corpo docente em 1820, depois de estar entre os primeiros formandos do Seminário de Princeton.

Enraizados na tradição protestante reformada, os teólogos de Princeton viam-se como herdeiros do legado teológico de João Calvino. Antes de publicarem suas próprias teologias, como a Teologia Sistemática de Hodge, empregavam a dogmática de Francis Turretin como obra didática. A sua preferência pelos sistemas teológicos dos séculos XVI e XVII auxiliava no discurso de mantenedores das doutrinas tradicionais. Apesar de abraçarem a investigação científica, os teólogos mantiveram uma postura crítica em questões como o darwinismo, mesmo que seus expoentes, como B.B. Warfield, admitia um teísmo evolucionista.

Charles Hodge, estudou na Europa com Friedrich Schleiermacher e pautou a Escola de Princeton contra o que consideravam o liberalismo teológico e a “alta crítica” (crítica das fontes, no caso). Warfield articulou a doutrina da inspiração plenária verbal das Escrituras, defendendo sua inerrância.

A bibliologia de Princeton foi moldada através de embates polêmicos com exegetas crítico-históricos, pregadores revivalistas, teólogos arminianos-wesleyanos e quakers crentes no continuísmo. Os teólogos de Princeton formularam e propuseram firmemente uma versão de doutrinas para a inspiração verbal e a inerrância da Bíblia, afirmando que todas as referências nas Escrituras estavam isentas de erros em quaisquer matérias, de história a ciência. Pressupondo uma doutrina de inspiração mecânica, equiparavam as Escrituras à revelação divina, argumentando que a verdade poderia ser deduzida ou induzida diretamente da Bíblia. As doutrinas, consideradas absolutas, poderiam ser racionalmente destiladas das Escrituras, devido sua clareza e perspicuidade. A linguagem das Escrituras era considerada inequívoca, representando fielmente a realidade. A Revelação, vista como estática, era apreensível pelo senso comum. Os princetonianos viam a Bíblia como a fonte de princípios revelados, com versículos atomizados servindo como proposições a serem reorganizadas para transmitir verdades doutrinárias. Notavelmente, insistiram que nenhuma outra forma de discurso inspirado era necessária para a vida da igreja além das Escrituras canônicas.

A sua abordagem à apologética, exemplificada por Warfield, procurou demonstrar a crenças do calvinismo princetoniano através de argumentos racionais, ao mesmo tempo que reconhecia a necessidade da obra do Espírito Santo.

Os teólogos de Princeton, embora combatessem movimentos como o de Finney, Moody, Holiness e Pentecostal, , também valorizavam a experiência religiosa. Viam a teologia e a piedade como correlatas, lutando por um equilíbrio entre os elementos intelectuais e afetivos da fé cristã. Apesar disso, foram os fundadores do cessacionismo moderno como doutrina.

Os pincetonianos, embora cautelosos em relação a avivamentos, engajaram-se ativamente no evangelismo. Archibald Alexander e J.W. Alexander promoveram reuniões de eavivamentos, e a Sociedade Estudantil de Investigação sobre Missões de Princeton contribuiu significativamente para o atividades missionárias. O próprio presbiterianismo no Brasil chegou via missionários e pastores influenciados ou aderentes à teologia de Princeton.

As ideias dos princetonianos foram difundidas por periódicos, incluindo o Biblical Repertory e The Princeton Theological Review (1825-1929). As “Stone Lectures” de Abraham Kuyper em 1898 integraram as agendas do princetonianismo com muitos aspectos do neocalvinismo kuyperiano holandês, especialmente sobre uma interação informada com a cultura ampla.

Marcante para o método de produção teológica dos princetonianos era a polêmica. Constantemente estavam em controvérsia com pensamentos divergentes. No início, atacavam os movimentos da região de fronteira — os presbiterianos cumberland, metodistas, os batistas, o movimento restauracionista Campbell-Stone e o avivalismo de Finney. Direcionavam também suas polêmicas mesmo contra reformados, como a teologia de Mercerburg e a teologia de New Haven, bem como preferiam ignorar posições reformadas que discordavam de suas doutrinas, principalmente a 2a Confissão Helvética e o Catecismo de Heildeberg . Mais tarde, atacariam o evangelho social, os irmãos, o movimento de Moody, os acadêmicos bíblicos, o movimento de santidade, o movimento pentecostal, dentre outros.

Nos anos 1920, o Seminário Teológico de Princeton estava envolvido na controvérsia fundamentalismo-liberalismo. Como consequência, nas décadas seguintes os que se consideravam representantes da ala conservadora acabaram saíndo e formando o Westminter Theological Seminary.

BIBLIOGRAFIA

DeBie, Linden J. Speculative Theology and Common-Sense Religion: Mercersburg and the Conservative Roots of American Religion. Vol. 92. Wipf and Stock Publishers, 2008.

Mikoski, Gordon S., and Richard Robert Osmer. With piety and learning: The history of practical theology at Princeton Theological Seminary 1812-2012. Vol. 11. LIT Verlag Münster, 2011.

Nelson, John Oliver. The rise of the Princeton theology: a genetic study of American Presbyterianism until 1850. Yale University, 1935.

Osterhaven, M. Eugene”The Experientialism of the Heidelberg Catechism and Orthodoxy,” in Controversy and Conciliation, ed. Derk Visser (Allison Park, Penn.: Pickwick Publications, 1986, 197-203.

Quebedeaux, Richard. The Worldly Evangelicals. San Francisco: Harper & Row Publishers, 1978.

Sandeen, Ernest “Princeton Theology: One Source of Biblical Literalism in American Protestantism,” Church History 31 (September
1962):319 n. 6.

Stewart, John William. The tethered theology: biblical criticism, common sense philosophy, and the Princeton theologians, 1812-1860. University of Michigan, 1990.

Felice Lisanti

Felice Lisanti (1889-1964) foi um ministro pentecostal ítalo-canadense e missionário na Itália.

Felice Lisanti nasceu em Matera, no sul da Itália. De família pobre, teve pouca educação formal. Aprendeu sozinho a ler e escrever.

Em 1913 migrou ao Canadá. Estabeleceu-se em Toronto, onde conheceu o evangelho por meio dos metodistas, quando fazia cursos em uma missão. Lisanti trabalhou tanto no comércio quanto na construção civil.

Em 1914, os primeiros crentes pentecostais ítalo-canadenses de Hamilton, Ontário, enviaram Carlo Pavia, Ferdinando Zaffuto e Frank Rispoli a Toronto para divulgar a mensagem da obra do Espírito Santo. Depois de alguns meses, já no começo de 1915, os metodistas Felice Lisanti e Luca di Marco foram os primeiros na cidade a aceitar essa mensagem.

Em 1917, Felice casou-se com Catarina Piedimonte de Holly, Nova York. Junto com seu concunhado, Luigi Ippolito, passaram a ministrar nas igrejas italianas como ancião em Toronto, além de atenderem Saint Catherines, Welland, Hamilton e Thorold. Nessa época, frequentou aulas noturnas no Eastern Pentecostal Bible College, em Toronto. Seu trabalho seria embrionário tanto na formação da Italian Pentecostal Church of Canada, hoje Canadian Assemblies of God, quanto na Christian Congregation in Canada.

Lisanti em 1921 retornou à sua nativa Matera, onde um missionário proveniente de Chicago (ou Nova Iorque), Antonio Plasmati, tinha iniciado a igreja. A missão de Lisanti provou-se frutífera, com um grande número de convertidos. Felice adquiriu e preparou um lugar de culto numa gruta. Logo, foi registrada a Chiesa Cristiana Evangelica, a qual seria uma das primeiras a ter uma declaração de fé dentro do movimento da obra pentecostal italiana.

Lisanti também proporcionava apoio (inclusive arranjos de casamento) para crentes da Basilicata. Além disso, providenciava conexões que resultavam em migrações, especialmente para o Canadá. Dentre essas famílias, destacam-se os Manafò em Montreal e os Susca no Brasil.

Esteve na Itália em missões por cinco vezes. Depois da 2a Guerra Mundial, foi à Itália junto com seu sobrinho Daniele Ippolito, atendendo principalmente a região de Matera e organizando as primeiras escolas dominicais estruturadas nas igrejas da região. Por ocasião dessa viagem, em 1948 batizou 25 pessoas em Matera.

Depois do desligamento de Francescon da CCNA em 1948-1949, Lisanti manteve sua comunhão com a Congregazione Cristiana de Chicago, embora se mantivesse filiado à Italian Pentecostal Church of Canada. Contudo, nos anos 1950 houve uma divisão na igreja italiana de Toronto. E em 1962 Felice Lisanti foi o principal condutor do grupo que organizou a Congregazione Pentecostale Italiana (Italian Pentecostal Congregation), em plena comunhão com a rede informal ligada à Congregazione Cristiana de Chicago. Receberiam visitas do Brasil, como João Finotti, Miguel Spina e Victório Angare. Dessa igreja, viria depois formar a Christian Congregation in Canada- Toronto e a Weston Road Pentecostal Church. Dois anos depois, Lisanti faleceu.

BIBLIOGRAFIA.

Bracco, Roberto. Il Risveglio Pentecostale in Italia. Roma: ADI, 1956.

Castiglione, Miriam. I Neo-Pentecostali in Italia : (Dal Jesus Movement Ai Bambini Di Dio). Claudiana, 1974.

DeGregorio, A. Lisanti – notas.

Episcopo, Joseph. Comunicação pessoal, 2007.

Fernandes, Lucas. Comunicação pessoal, 2023.

Lisanti, F. Testimonianza. Toronto, s.d.

Manafò, Joseph. Comunicação pessoal, 2001.


Rosario Di Palermo

Rosario Di Palermo (1905–1988) foi ministro no movimento pentecostal siciliano.

Di Palermo nasceu em uma família de agricultores em Corleone, Itália. Sua conversão ocorreu em 1936 durante a perseguição ao Movimento Pentecostal, quando foi apresentado à mensagem evangélica mediante a igreja conduzida por Gaspare Grasso. Em meio à violenta perseguição de 1938, cuidou da comunidade quando o ancião Giuseppe Piraino esteve preso.

Após a Segunda Guerra Mundial, Di Palermo desempenhou um papel vital no restabelecimento das conexões regionais entre as igrejas e tornou-se tesoureiro na comunidade pentecostal siciliana. Em 1947, com a formação da Assemblee di Dio na Itália, Di Palermo continuou seu serviço. Apesar de ter perdido o braço direito em um acidente, persistiu em seu trabalho evangélico, suportando perseguições até a decisão judicial de 1954 favorecendo o pentecostalismo.

Reconhecido como ancião em 1955, serviu como tesoureiro nacional até 1963. A partir desse ano, retirou-se da Assemblee di Dio e ingressou na Congregazioni Cristiane Pentecostali, ministrando posteriormente em Catânia até sua morte.