A Escola de Princeton, princetonianismo ou a teologia de Princeton foi uma vertente teológica reformada e presbiteriana centrada no Seminário Teológico de Princeton, desde a sua fundação em 1812 até a década de 1920. Os princetonianos apresentaram-se como os guardiões da ortodoxia reformada, embora fossem frutos da modernidade do século XIX.
Os teólogos de Princeton, incluem Archibald Alexander, Charles Hodge e B. B. Warfield, aderiram a uma mistura de confessionalismo calvinista presbiteriano, um evangelicalismo conversionista e uma retórica erudição. Possuíam um apreço pelo contexto americano, uma combatividade contra pensamentos e movimentos concorrentes, métodos positivistas e pressupostos da filosofia do senso comum escocês.
As origens de Princeton remontam ao Log College (1735) , uma escola durante o Primeiro Grande Despertar liderada por William Tennent, Sr. época foram treinados lá. O College of New Jersey surgiu do Log College em 1746.
O Seminário foi fundado em 1812 com o lema “Piedade do coração e aprendizado sólido”. O corpo docente inicial incluía Archibald Alexander , Samuel Miller e Charles Hodge. Archibald Alexander (1772-1851) era originário da Virgínia. Tinha experiência como presidente do Hampden-Sydney College e pastor antes de se tornar o primeiro professor do Seminário de Princeton. Samuel Miller (1769-1850) ingressou no corpo docente depois de servir como pastor na cidade de Nova York. Charles Hodge (1797-1878) ingressou no corpo docente em 1820, depois de estar entre os primeiros formandos do Seminário de Princeton.
Enraizados na tradição protestante reformada, os teólogos de Princeton viam-se como herdeiros do legado teológico de João Calvino. Antes de publicarem suas próprias teologias, como a Teologia Sistemática de Hodge, empregavam a dogmática de Francis Turretin como obra didática. A sua preferência pelos sistemas teológicos dos séculos XVI e XVII auxiliava no discurso de mantenedores das doutrinas tradicionais. Apesar de abraçarem a investigação científica, os teólogos mantiveram uma postura crítica em questões como o darwinismo, mesmo que seus expoentes, como B.B. Warfield, admitia um teísmo evolucionista.
Charles Hodge, estudou na Europa com Friedrich Schleiermacher e pautou a Escola de Princeton contra o que consideravam o liberalismo teológico e a “alta crítica” (crítica das fontes, no caso). Warfield articulou a doutrina da inspiração plenária verbal das Escrituras, defendendo sua inerrância.
A bibliologia de Princeton foi moldada através de embates polêmicos com exegetas crítico-históricos, pregadores revivalistas, teólogos arminianos-wesleyanos e quakers crentes no continuísmo. Os teólogos de Princeton formularam e propuseram firmemente uma versão de doutrinas para a inspiração verbal e a inerrância da Bíblia, afirmando que todas as referências nas Escrituras estavam isentas de erros em quaisquer matérias, de história a ciência. Pressupondo uma doutrina de inspiração mecânica, equiparavam as Escrituras à revelação divina, argumentando que a verdade poderia ser deduzida ou induzida diretamente da Bíblia. As doutrinas, consideradas absolutas, poderiam ser racionalmente destiladas das Escrituras, devido sua clareza e perspicuidade. A linguagem das Escrituras era considerada inequívoca, representando fielmente a realidade. A Revelação, vista como estática, era apreensível pelo senso comum. Os princetonianos viam a Bíblia como a fonte de princípios revelados, com versículos atomizados servindo como proposições a serem reorganizadas para transmitir verdades doutrinárias. Notavelmente, insistiram que nenhuma outra forma de discurso inspirado era necessária para a vida da igreja além das Escrituras canônicas.
A sua abordagem à apologética, exemplificada por Warfield, procurou demonstrar a crenças do calvinismo princetoniano através de argumentos racionais, ao mesmo tempo que reconhecia a necessidade da obra do Espírito Santo.
Os teólogos de Princeton, embora combatessem movimentos como o de Finney, Moody, Holiness e Pentecostal, , também valorizavam a experiência religiosa. Viam a teologia e a piedade como correlatas, lutando por um equilíbrio entre os elementos intelectuais e afetivos da fé cristã. Apesar disso, foram os fundadores do cessacionismo moderno como doutrina.
Os pincetonianos, embora cautelosos em relação a avivamentos, engajaram-se ativamente no evangelismo. Archibald Alexander e J.W. Alexander promoveram reuniões de eavivamentos, e a Sociedade Estudantil de Investigação sobre Missões de Princeton contribuiu significativamente para o atividades missionárias. O próprio presbiterianismo no Brasil chegou via missionários e pastores influenciados ou aderentes à teologia de Princeton.
As ideias dos princetonianos foram difundidas por periódicos, incluindo o Biblical Repertory e The Princeton Theological Review (1825-1929). As “Stone Lectures” de Abraham Kuyper em 1898 integraram as agendas do princetonianismo com muitos aspectos do neocalvinismo kuyperiano holandês, especialmente sobre uma interação informada com a cultura ampla.
Marcante para o método de produção teológica dos princetonianos era a polêmica. Constantemente estavam em controvérsia com pensamentos divergentes. No início, atacavam os movimentos da região de fronteira — os presbiterianos cumberland, metodistas, os batistas, o movimento restauracionista Campbell-Stone e o avivalismo de Finney. Direcionavam também suas polêmicas mesmo contra reformados, como a teologia de Mercerburg e a teologia de New Haven, bem como preferiam ignorar posições reformadas que discordavam de suas doutrinas, principalmente a 2a Confissão Helvética e o Catecismo de Heildeberg . Mais tarde, atacariam o evangelho social, os irmãos, o movimento de Moody, os acadêmicos bíblicos, o movimento de santidade, o movimento pentecostal, dentre outros.
Nos anos 1920, o Seminário Teológico de Princeton estava envolvido na controvérsia fundamentalismo-liberalismo. Como consequência, nas décadas seguintes os que se consideravam representantes da ala conservadora acabaram saíndo e formando o Westminter Theological Seminary.
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