Teologia sistemática

A teologia sistemática é uma disciplina dentro da teologia cristã que organiza e apresenta as doutrinas de maneira coerente e sistemática. Envolve o estudo abrangente e a síntese de vários tópicos teológicos, doutrinas e temas para construir uma estrutura unificada e lógica da crença cristã.

A teologia sistemática visa fornecer uma compreensão abrangente da fé cristã, examinando as doutrinas de Deus, Cristo, o Espírito Santo, a criação, a salvação, a igreja e a escatologia, entre outras. Procura explorar as inter-relações entre essas doutrinas e suas implicações para a crença e prática cristãs.

Na Europa continental, teologia sistemática é referida como teologia dogmática. Contudo, o termo teologia dogmática também se refere a uma disciplina teológica específica, focada nos ensinamentos oficiais ou dogmas de uma determinada tradição ou denominação religiosa. A teologia dogmática está preocupada com as crenças e doutrinas autorizadas que são proclamadas e afirmadas por uma comunidade religiosa específica. Ele normalmente se baseia em fontes como credos, confissões, declarações oficiais e os ensinamentos de teólogos reconhecidos dentro dessa tradição.

Nem todas as tradições teológicas possuem o costume de sistematizar sua teologia. Boa parte da cristandade conceitua sua teologia de forma diversa, sobretudo pela teologia vivida. Na tradição ortodoxa oriental a teologia é encontrada principalmente na liturgia, enquanto nas igrejas livres (pentecostais, anabatistas e outros) no mundo ocidental e majoritário, o culto e a vida devocional são as principais fontes para a teologia. Nesses casos, a sistematização é secundária, tendo mais caráter didático que relevância denominacional.

Os principais tópicos ou loci da teologia, da teologia sistemática, podem variar dependendo da tradição, abordagem ou sistema teológico. No entanto, existem várias áreas comuns de estudo que geralmente são consideradas fundamentais para a investigação teológica. Aqui estão alguns dos principais tópicos ou loci da teologia:

  • Prolegômena: ou o estudo dos métodos e meios de se alcançar o conhecimento teológico.
  • Teologia própria ou teo-ontologia: O estudo de Deus, incluindo conhecimento relacional, trindade, atributos, natureza e existência. Também fundamenta o entendimento acerca da revelação divina, inclusive do papel da Bíblia (bibliologia) na fé cristã.
  • Cristologia: O estudo da pessoa e obra de Jesus Cristo, incluindo sua encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão.
  • Pneumatologia: O estudo do Espírito Santo, incluindo seu papel na vida dos crentes, da igreja e do mundo.
  • Antropologia (teológica): estuda a humanidade, incluindo tópicos como a natureza humana, o pecado (hamartiologia) e a dignidade humana.
  • Demonologia: inclusive satanologia, com intersecções com teodiceia (problema do mal), ponerologia (problema da maldade), pecado (hamartiologia) e angeologia.
  • Soteriologia: O estudo da salvação, incluindo a obra de Cristo na redenção da humanidade, justificação, regeneração, santificação e glorificação.
  • Eclesiologia: O estudo da igreja, incluindo sua natureza, missão, estrutura, sacramentos e ministério. Também lida com o ecumenismo, relações e diálogos interreligioso, a questão da pluralidade e salvação, dentre outros. A herisiologia também é um ramo.
  • Escatologia: O estudo das últimas coisas ou do fim dos tempos, incluindo tópicos como morte, ressurreição, julgamento, céu, inferno e a segunda vinda de Cristo.

A teologia sistemática pode ser auxiliada por disciplinas como:

  • Estudos Bíblicos ou Ciências Bíblicas: O estudo da Bíblia, incluindo hermenêutica (interpretação), linguagens bíblicas, crítica textual e o contexto histórico dos textos bíblicos.
  • Ética: O estudo dos princípios e valores morais, incluindo tomada de decisão ética, ética social, bioética e ética cristã.
  • Filosofia da Religião: O estudo de questões filosóficas relacionadas à religião, como a existência de Deus, experiência religiosa, fé e razão, os limites do conhecimento (epistemologia) e da linguagem religiosa, o problema do mal.
  • Liturgia: estudo do culto cristão.
  • Apologética: a defesa da fé e modo de vida cristão.
  • Estudos pastorais, formação ministeriais, teologia prática ou teologia aplicada.

Parábola

Parábola refere-se a um pequeno ditado ou narrativa com um argumento ou lição de forma memorável.

As parábolas podem envolver simbolismo, metáfora, ironia ou algum tipo de duplo sentido. Às vezes, simplesmente provocam reflexões acerca de uma verdade.

As parábolas são associadas ao ensino judaico, particularmente ao período do Segundo Templo. Jesus aparece nos Evangelhos como o grande contador de parábolas.

Há diferenças técnicas do gênero “parábola” quando comparados com fábulas (objetos ou animais fantásticos) ou outros tipos de histórias simbólicas, mas em nível facilmente apreensível.

Parábolas (como em 2 Samuel 12:1-4; Isaías 28:4) e alegorias (Isaías 5:1-7) ainda não foram encontradas em documentos sumérios, acadianos ou ugaríticos.

BIBLIOGRAFIA

Scott, Bernard Brandon. Hear Then the Parable: A Commentary on the Parables of Jesus. Minneapolis: Fortress, 1989.

Mal olhado

Mau olhado, em hebraico עין הרע Ayin hara, e seus termos correlatos βασκανία, vaskania, ophtalmos poneros, oculus malus, fascinatio, invidia é a crença de que uma pessoa ou ser sobrenatural pode enfeitiçar ou prejudicar um indivíduo apenas olhando para ele, muitas vezes independentemente de dolo.

Essa crença comum a várias culturas e presente no mundo do Mediterrâneo, é aludida em Dt 15:7-9; 28:54-57; pv 23:6-8; 28:22; Mt 6:22-23; 20:-15; Mc 7:22; Lc 11:33-36; Gl 3:1.

Dragão

Dragão era um monstro mítico presente na iconografia doAntigo Oriente Próximo, além das variantes virtualmente globais.

O dragão aparece como o inimigo primordial de Deus, vencido na criação (Sl 74:13-14; 89:10;Is 51:9;Jó 26:12-13), mas reaparecendo no final dos tempos para sua derrota completa (Is 27:1). 

No livro do Apocalipse, o dragão (identificado com o diabo) e seus agentes fazem campanha contra as forças de Deus até serem finalmente derrotados (Ap 12-13; 16:13-14; 20:2-3; 7-10:2).

Doutrina da processão

A doutrina trinitária da processão refere-se à compreensão de como as três pessoas da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – estão eternamente relacionadas umas com as outras. É uma explicação da maneira pela qual as três pessoas existem em sua natureza distinta, porém unificada, dentro da Divindade.

Nesta doutrina, processão refere-se à origem eterna ou relacionamento entre as pessoas da Trindade. Destaca como o Pai é a fonte ou origem do Filho e do Espírito Santo. Diz-se que o Filho é eternamente gerado ou gerado pelo Pai, enquanto o Espírito Santo procede do Pai (e em algumas tradições, do Pai e do Filho). Essas relações de processão são entendidas como eternas e intrínsecas à natureza de Deus.

A doutrina da processão ajuda a articular as distinções pessoais únicas dentro da Trindade. Afirma que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são simplesmente modos ou manifestações diferentes de Deus, mas pessoas distintas que compartilham um relacionamento coigual e eterno. O Filho e o Espírito Santo têm sua origem no Pai, mas são da mesma essência divina.

É importante notar que a compreensão e formulação precisas da doutrina da processão têm sido objeto de reflexão e debate teológico ao longo da história cristã, levando a algumas diferenças de ênfase e linguagem entre as tradições cristãs orientais e ocidentais. No entanto, a ideia fundamental da processão continua sendo um aspecto central da teologia trinitária, ressaltando as relações eternas e a interação das três pessoas da Trindade.

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Filioque

Filioque

O Filioque é um acréscimo teológico ao Credo Niceno-Constantinopolitano, especificamente a frase “e o Filho” (do latim Filioque) na cláusula referente à processão do Espírito Santo. Esta adição afirma que o Espírito Santo procede tanto do Pai quanto do Filho, enquanto o credo original afirmava que a processão vinha exclusivamente do Pai.

O Filioque tornou-se um ponto de discórdia teológica entre a Igreja Ortodoxa Oriental (ortodoxia grega) e a Igreja Ocidental (catolicismo romano) e desempenhou um papel significativo no Grande Cisma de 1054. A Igreja Ortodoxa Oriental se opôs à adição do Filioque, vendo-o como uma distorção do credo original e uma alteração não autorizada feita pela Igreja Ocidental.

A diferença na compreensão da processão do Espírito Santo relaciona-se com o Filioque. Na teologia ortodoxa oriental, o Espírito Santo procede somente do Pai (monopatrismo), enfatizando o Pai como a única fonte. A Igreja Ocidental, incluindo o Catolicismo Romano, mantém a crença de que o Espírito Santo procede tanto do Pai quanto do Filho (diopatrismo ou dupla processão). Essa diferença de entendimento reflete desacordos teológicos e eclesiásticos mais amplos entre as duas tradições.

A controvérsia Filioque continua sendo um ponto contínuo de discussão teológica e um obstáculo significativo para a reconciliação entre o cristianismo oriental e ocidental. Esforços têm sido feitos nos últimos anos para se engajar no diálogo ecumênico e encontrar um terreno comum no que diz respeito à compreensão da processão do Espírito Santo.

Príncipe deste Mundo

Arcon deste Cosmos ou Príncipe deste Mundo, em grego pode simplesmente se referir a autoridades políticas humanas, mas também tinha um significado especial acerca de entidades espirituais.

Este sentido de poder espiritual aparece nos últimos textos da Septuaginta, como Dan 10:13.

O conceito de arcon ou arconte te pertence às perspectivas da Antiguidade Tardia. Muitos persas zoroastrianos, judeus enoquiano, pessoas helenizadas gnósticas acreditavam que o cosmos tinha sido escravizado — demonstrado pela morte — tanto por nosso pecado quanto pelo governo maligno dessas entidades espirituais que reinariam sobre a terra desde os céus e que mantêm espíritos escravizados abaixo da terra.

Esses Arcontes teriam domínio sobre as nações – convencionalmente contados como as 70 nações sob os céus. Sejam caídos, amotinados ou meramente incompetentes, esses seres permanecem como um abismo de separação entre a humanidade e o Deus bom.

O cristianismo apresenta Cristo como conquistador e vitorioso sobre esses arcontes. (Ap 1:5)

Paulo se refere a eles como principados e potestades. Em Mateus 4:8, Lucas 4:6, João 12:31, 14:30 e 16:11, 1 João 5:19 mencionam os arcons no controle do mundo e dos demônios. O Evangelho de João chama esse ser de “o arconte deste mundo” a ser derrotado e julgaldo, retratando a morte de Jesus como uma missão principal nesta batalha cósmica (João 12:20-36).

BIBLIOGRAFIA

Heiser, Michael S. The unseen realm: Recovering the supernatural worldview of the bible. Lexham Press, 2015.

Walton, John H. Demons and Spirits in Biblical Theology: Reading the Biblical Text in Its Cultural and Literary Context. Wipf and Stock Publishers, 2019.