Artigos de Fé

Artigos de Fé refere-se a proposições fundamentais, básicas ou fundamentais da fé cristã.

A partir do século XI, a expressão “artigo de fé” passou a ser usada como proposição lógica (sententiae) das crenças contidas ou inferidas a partir do credo apostólico pela escolástica. No protestantismo os artigos de fé são declarações sucintas de crença comum. Normalmente, aparecem como títulos para confissões ou declarações de fé, como os doze “Pontos de doutrina e da fé que uma vez foi dada aos santos”.

Principados e potestades

Um conjunto de poderes humanos e espirituais chamados Tronos (θρόνοι), Dominações (κυριότης), Potências, Autoridades ou Potestades (ἐξουσίαι), Principados ou Regentes (ἀρχαί) aparece principalmente nos escritos paulinos para denotar um sistema de forças influentes. Essas passagens são interpretadas variadamente como seres demoníacos, hierarquia de anjos, poderes deste mundo ou entidades espirituais moralmente ambivalentes. Todavia, qualquer que seja o entendimento, biblicamente aparecem sujeitos a Cristo.

Em Romanos 8:37–39, Paulo diz que nada pode nos separar do amor de Deus, inclusive tais poderes. A vitória de Cristo sobre todas as forças opostas é assegurada, sendo os crentes mais que vencedores por meio de Cristo.

Colossenses 1:16 afirma que Deus é o Criador e Governante de todas as autoridades, quer se submetam a Ele ou se rebelem contra Ele. Esses poderes podem até forçar algum poder, mas ainda sob o controle de Deus, e Ele usa até mesmo os ímpios para cumprir Seu plano.

Colossenses 2:15 declara o poder supremo de Jesus sobre todos os poderes, tendo-os desarmado por meio de Sua morte na cruz. Ao fazer isso, triunfou e libertou a humanidade de seu domínio. As acusações contra os crentes são destruídas, sendo vindicados como inocentes perante Deus.

Em Efésios 3:10–11, os principados e potestades nas regiões celestiais testemunham a sabedoria e o propósito de Deus. As hostes contemplam a glória de Deus e a preeminência de Cristo.

Efésios 6:12 infere uma guerra espiritual contra os poderes das trevas. Apesar de seu desarmamento e da vitória prometida, exorta a confiar na sabedoria e no poder de Deus.

Em Tito 3:1 refere-se às autoridades governamentais designadas por Deus para nossa proteção e bem-estar.

As autoridades terrenas ainda estão sujeitas ao domínio divino (Romanos 13:2).

No final do século XIX, a existência de seres espirituais com poder havia sido descartada por muitos trabalhos acadêmicos como superstições pré-modernas. No entanto, a teologia dos Blumhardts e de Karl Barth trouxe de volta a atenção para a relevância do mal sistêmico.. Alguns autores recentes têm discutido amplamente o tema:

Charles H. Kraft, enfatiza a realidade das forças espirituais malévolas conhecidas como principados e potestades. Kraft argumenta que essas forças buscam escravizar a humanidade e se opor ao reino de Deus, exigindo que os cristãos se envolvam em uma guerra espiritual capacitada pelo Espírito Santo.

Walter Wink, oferece uma abordagem não violenta para entender os principados e potestades. Ele sugere que, embora essas forças sejam sistêmicas e possam ser corrompidas pelo pecado e pela violência humana, elas não são inerentemente más. Wink defende a guerra espiritual por meio da resistência não violenta e do amor pelos inimigos, desafiando estruturas opressivas.

Clinton Arnold procura recuperar a crença cristã pré-moderna na existência de seres sobrenaturais malignos. Ele reconhece a existência “real” de um reino espiritual e entidades demoníacas governadas por Satanás, contrariando a tendência de desmitificar os principados e potestades na erudição ocidental.

Marva J. Dawn expande a compreensão dos principados e potestades além das entidades espirituais. Ela os vê como estruturas sociais e culturais que moldam as relações e instituições humanas. Dawn convoca os cristãos a se envolverem em uma guerra espiritual, incorporando o amor e a justiça de Deus, confrontando sistemas opressivos.

Esther Acolatse explora poderes e principados na perspectiva bíblica, comparando contextos africanos e ocidentais. Investiga diferenças culturais e teológicas, examina passagens bíblicas relevantes e explora cosmovisões africanas. Acolatse enfoca as forças espirituais e seu impacto, abordando a tensão entre as crenças tradicionais e os ensinamentos bíblicos. Seu objetivo é aprofundar a compreensão dos poderes e principados em ambos os contextos.

Apesar das diferentes interpretações sobre a ontologia (realidade) desses seria, há o consenso quando esses poderes obscuros passam a serem adorados pelas pessoas, como as forças da violência, ganância e idolatria, os governantes humanos são influenciados e se envolvem em ações anti-criação e corruptoras.

BIBLIOGRAFIA

Acolatse, Esther E. Powers, Principalities, and the Spirit: Biblical Realism in Africa and the West. Eerdmans, 2018.

Arnold, Clinton E. Powers of darkness: principalities & powers in Paul’s letters. InterVarsity Press, 2009.

Berkhof, Hendrik. Christ and the Powers. Scottdale, Pa.: Herald, 1977 [1953].

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Dawn, Marva J. Powers, weakness, and the tabernacling of God. WB Eerdmans, 2001.

Forbes, Chris. “Pauline Demonology And/or Cosmology? Principalities, Powers and the Elements of the World in Their Hellenistic Context.” Journal for the Study of the New Testament 24, no. 3 (2002): 51-73.

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MacGregor, George Hogarth Carnaby. “Principalities and Powers: The Cosmic
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Visser’t Hooft, W. A. The Kingship of Christ: An Interpretation of Recent European Theology. New York: Harper and Brothers, 1948.

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Zuendel, Friedrich . The Awakenings: One Man’s Battle with Darkness. Farmington, Pa.: Plough Publishing House, 1999.

Agora e ainda não

A escatologia agora e ainda não é um termo usado para descrever a tensão entre a realidade presente do reino de Deus e a consumação futura do reino de Deus. Enfatiza que o reino de Deus já foi inaugurado por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e que esse reino inaugurado agora está presente na vida dos crentes por meio da obra do Espírito Santo.

Ao mesmo tempo, porém, esta escatologia reconhece que o reino de Deus ainda não foi plenamente realizado e que há um aspecto futuro do reino que ainda está por vir. Esse aspecto futuro inclui o julgamento final, a ressurreição dos mortos, a renovação de todas as coisas e a plena realização do reinado de Deus sobre toda a criação.

O conceito decorre das Duas Eras presentes na Bíblia. Em hebraico- “ Olam hazzeh” que é “esta era” e “Olam Habah”, “a era vindoura.” O grego do Novo Testamento emprega essas mesmas duas divisões de tempo cerca de trinta vezes: “Aion ho houtos, “esta era” e “Aion ho mellon”, “a era do porvir”. A “Era vindoura” se sobrepõe a “esta Era” com a obra de Cristo em expulsar demônios e, especialmente, em sua ressurreição dentre os mortos. Enquanto a “era porvir” ainda está apenas em sua forma incipiente, pois o segundo advento virá no futuro em sua plena realização.

A escatologia “agora e ainda não” reconhece a tensão entre o já presente e os aspectos ainda não totalmente realizados do reino de Deus. Encoraja os crentes a viverem na realidade do reino de Deus agora, ao mesmo tempo em que espera seu cumprimento final no futuro.

Nova Conexão Metodista

A Nova Conexão Metodista, pejorativamente chamada de Killhamites, foi uma denominação metodista britânica existente entre 1797 e 1907. Sua ênfase na participação leiga e a redação de seus artigos de fé infuenciaram muitas denominações evangélicas posteriores.

Depois da morte de John Wesley em 1791, o metodismo britânico tornou-se rapidamente institucionalizado enquanto algumas lideranças insistiam em manter o movimento subordinado à Igreja Anglicana. Em reação, Alexander Kilham (1762 – 1798), um pregador itinerante metodista, defendia a independência denominacional para os metodistas.

Kilham propôs que os membros leigos deveriam participar da gestão da Igreja, havendo representação igual com os ministros nas conferências decisórias. Kilham defendia que o ministério não deveria possuir autoridade oficial ou prerrogativa pastoral, mas deveria apenas executar seus ministérios de acordo com as diretrizes das congregações e das conferências.

Na conferência dos metodistas britânicos em 1796, Kilham foi expulso por defender os princípios eclesiológicos acima. Em seguida, nas cidades industrais vários metodistas das classes trabalhadoras e de classe média educada aderiram à Nova Conexão Metodista organizada por Kilham. No entanto, ele morreria no ano seguinte.

A segunda esposa de Kilham, Hannah Spurr Kilham (1774–1832), com quem se casou poucos meses antes de sua morte, foi missionária e linguista no oeste da África.

A Nova Conexão Metodista fez parte da vertente radical do metodismo do século XIX. Essa vertente mantinha a soteriologia wesleyana, mas insistia em um primitivismo quanto à eclesiologia e um ativismo social em prol dos desfavorecidos. A NCM foi formada em 1797, os Metodistas Primitivos em 1807, os Cristãos da Bíblia em 1815, os Metodistas Livres em 1860 e o Exército de Salvação em 1865.

Recebiam a alcunha de “Thomas Paine Methodists” pelos valores democráticos que os inspiravam. Em suas reuniões, as pregações eram seguidas por uma discussão livre.

Catherine e William Booth, o fundador do Exército de Salvação, foram membros da Nova Conexão Metodista e inspiram em seus Artigos de Fé para a redigir os pontos de doutrina de seu novo movimento.

Em 1907 a Nova Conexão Metodista, então com 37 mil membros, uniu-se com outras denominações metodistas britânicas para formar a Methodist Church of Great Britain.

BIBLIOGRAFIA

Blackwell, J. Life of Alexander Kilham. 1838.

Kilham, Alexander; Thom, William. Out-lines of a constitution; proposed for the examination, amendment and acceptance, of the members of the Methodist New Itinerancy. 1797.

Thompson, Edward Palmer. The making of the English working class. 1968.

Confissões bíblicas

Em grego o termo homologeō, confesso, (e seus correlatos confissão, confessar) aparece com dois sentidos no Novo Testamento e na Septuaginta:

  • Reconhecimento de culpa, do pecado.  1 Jo 1:9; Lc 15:21, cf. 2 Sm 12:13; Sl 32:5.
  • Reconhecimento pessoal ou público de uma crença. Rm 10:9; Mt 16:15-16, Jo 9:22; 12:42-43.

Nesse último sentido, temos algumas confissões importantes nas Escrituras.

Declaração de Princípios da Igreja Cristã Livre na Itália

Em 1870 a Igreja Cristã Livre na Itália adotou essa seguinte declaração de Princípios. Esses artigos de fé refletem a teologia do risveglio e uma busca pela unidade entre evangélicos italianos. Certamente constituem um predecessor dos artigos de fé de Niagara Falls de 1927, com o qual compartilha muito de sua estrutura e terminologia.

Pontos de Doutrina 10: serviço cristão

No que implica o serviço cristão de cuidado com o próximo. Da unção dos enfermo à Igreja como comunidade de cuidado há dons e ministros para seu benefício.