Hahn’sche Brüder

A comunidade Michael Hahn’sche (Hahn’sche Brüder, Michelianer, Michael Hahn’sche Gemeinschaft) é um movimento de cristãos pietista alemão.

Embora a comunidade esteja organizada como uma associação de cerca de 200 grupos locais, ela é independente da Associação Evangélica de Gnadauer. A Hahn’sche Brüder é uma comunidade interna da Igreja Evangélica Alemã (Luterana e Reformada).

O movimento tem origens das visões de Michael Hahn (1758-1819) no início do século XIX em Württemberg, Alemanha. A comunidade cresceu em torno das interpretações de Hahn da Bíblia, e ele escreveu cerca de 2.000 hinos para a comunidade.

Frequentam os cultos da Igreja Evangélica Alemã nos domingos de manhã e à tarde reunem-se para oração, cântico de hinos, leituras da Bíblia e dos ensinamentos de Hahn. Sentam-se separados as irmãs dos irmãos. As pregações são feitas pelos irmãos. No dia-a-dia, vestem trajes modestos.

O grupo rejeitou a cultura dominante, incluindo a mídia de entretenimento, e enfatiza a vida espiritual interior e os sinais do fim dos tempos. Não propaga seu grupo e doutrinas via internet.

Os membros do Hahn’sche Brüder são encorajados a votar de acordo com sua própria consciência nas eleições públicas, mas o engajamento político além disso é desencorajado. A comunidade sustenta a doutrina da restauração de todas as coisas no fim dos tempos.

Fribaptistsamfundet

Fribaptistsamfundet ou União Batista Livre, foi uma denominação batista primitivista sueca que existieu entre 1872 e 1992, iniciada pela pregação de Helge Åkeson.

Helge Åkeson (1831-1904) foi um membro da Igreja da Suécia de tendências pietistas e na década de 1850 aderiu aos batistas. Começou a pregar, mas logo teve conflitos na União Batista Sueca por suas posições doutrinárias. Não acreditava que a crença na trindade deveria ser exigida. Pacifista, recusava o serviço militar. Argumentava que os ministros não deveriam receber salários, deveriam manter-se com trabalhos seculares e serem ordenados sem requisitos educacionais. Ensinava que o tormento dos condenados não era eterno, mas temporalmente limitado. A expiação seria objetiva e não penal ou vicária.

A Fribaptistsamfundet ganhou seguidores principalmente em Scania, Gotland, Dalarna, Västmanland e Västergötland. No início de 1900, a denominação teve seu auge com cerca 5.000 membros. Enfatizavam o não credalismo, o pacifismo, o ministério leigo.

Em 1994, a Free Baptist Union fundiu-se com a União e Santidade, e em 1997 fundiu-se com a Missão Örebro para formar a Igreja Evangélica Livre na Suécia. Antes da fusão, havia cerca de 30 congregações e 1.000 membros.

Mukyōkai

O movimento Mukyōkai, Non Church, Não Igreja, Mukyōkaishugi é um movimento cristão japonês, com características não denominacionais, anti-institucionais e primitivistas.

O movimento Mukyokai foi fundado pelo intelectual japonês Uchimura Kanzō em 1901. No início do século 21, cerca de 35.000 pessoas pertenciam ao movimento no Japão, Taiwan e Coreia.

O movimento Mukyōkai é caracterizado por pequenos grupos de cristãos que se reúnem em casas ou outros locais fora da igreja para adoração e comunhão, em vez de em igrejas tradicionais. Esse movimento é frequentemente associado à rejeição da religião institucionalizada e ao desejo de formas de culto mais pessoais e informais. Consideram que uma denominação ou igreja local institucionalizada seria na verdade um obstáculo à fé cristã, e os sacramentos cristãos, como o batismo e a santa ceia, não são essenciais para a salvação. São liderados por anciãos informais, pessoas com maior experiência na fé e conhecimento bíblico, com cada grupo local dissolvendo com a mudança ou morte de seus líderes. Não possuem locais permanente de culto, reunindo-se em salas cedidas ou alugadas, cafés, auditórios de escolas ou residências privadas.

Seus cultos consistem em cantar hinos, orar em silêncio, pregação. Depois do culto discutem o conteúdo do sermão, conversam, socializam comendo doces e tomando chá.

Uma editora e uma convenção rotativa anual serve de pontos de contato entre as diversas comunidades locais.

O caráter intelectualizado do movimento atraiu membros de classe média alta, como professores, cientistas, juristas, escritores e diplomatas.

Movimento de Restauração

O Movimento de Restauração ou o Movimento Stone-Campbell é uma família denominacional cristã que começou na fronteira dos Estados Unidos durante o Segundo Grande Despertar (1790-1840). Procurou reformar a igreja por dentro e a unificação de todos os cristãos em um único corpo modelado após a igreja do Novo Testamento. Em geral, rejeitam a identidade protestante, insistindo na primazia da identidade cristã primitivista.

O movimento se desenvolveu a partir de várias fontes independentes. Uma delas resulta das igrejas avivadas lideradas por Barton W. Stone, iniciadas em Cane Ridge, Kentucky, e identificadas como “cristãs”. Nessa região, Stone e mais cinco outros ministros em 1803 retiraram-se do Sínodo de Kentucky da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América, levando à sua dissolução. O grupo formou o Presbitério Springfield como um presbitério independente. Outra fonte começou no oeste da Pensilvânia e na Virgínia liderada por Thomas Campbell e seu filho, Alexander Campbell, ambos educados na Escócia sob influência dos Scotch Baptists e dos irmãos Haldane; sendo identificados com o nome de “Discípulos de Cristo”. Fontes menores originam-se com James O’Kelly que em 1792, insatisfeito com o papel dos bispos na Igreja Metodista Episcopal, formou na Virgínia e na Carolina do Norte um movimento chamado de Metodistas Republicanos, depois simplesmente Igreja Cristã. Paralelamente, na Nova Inglaterra Elias Smith de Vermont e Abner Jones de New Hampshire organizaram um movimento similar.

Em comum, esses movimentos mantinham um cristianismo não confessional, celebravam a Ceia do Senhor no primeiro dia de cada semana; acreditavam que o batismo dos crentes adultos era necessariamente por imersão em água, as igrejas tinham total autonomia local, sendo dirigidas por presbíteros.

O grupo de Stone, O’Kelly e Smith fundiram-se na Conexão Cristã (1810). Em 1832 o grupo de Campbell fundiu-se com a Conexão Cristã. Divergências quanto teologia, liturgia e governo eclesiástico levou às separações dos grupos Discípulos de Cristo , Igrejas de Cristo (1906), Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo (1927-1971), Igrejas de Cristo (não instrumental) e Igrejas de Cristo (não institucionais).

Outros grupos correlatos são as Igrejas de Cristo Internacional e os Cristadelfos.

Dada a automia dos movimentos, não há uma expressão teológica unificada. Em comum enfatizam a unidade não denominacional da Igreja, uma visão sacramental do batismo adulto e por imersão, a celebração memorial semanal da ceia do Senhor e uma soteriologia próxima ao arminianismo. Alguns grupos não aceitam instrumentos musicais nos cultos. Em geral, não aderam às tendências das correntes principais do evangelicalismo americano, rejeitando o nacionalismo cristão (sem uso de bandeiras ou hinos patrióticos nos cultos). A escatologia tende a ser amilenista ou preterista.

Dentre os membros notórios estão os presidentes americanos James A. Garfield, Lyndon B. Johnson e Ronald Reagan; o missionário e escritor Max Lucado; os teólogos sistemáticos Everett Ferguson, Richard Beck,  John Mark Hicks, Bob Cornwall, Chris Altrock, Ron Highfield, John Wilson; o historiador do cristianismo Richard T. Hughes. A Abilene Christian University é uma das instituições de ensino e pesquisa associado ao movimento.

BIBLIOGRAFIA

Foster, Douglas A., et al., eds. The encyclopedia of the Stone-Campbell movement. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2004.

Holloway, Gary; Foster Douglas A. . Renewing the World: A Concise Global History of the Stone-Campbell Movement. ACU Press, 2015.

Harrell, Jr., David “From Consent to Dissent: The Emergence of Churches of
Christ in America,” Restoration Quarterly 19.2 (1976) 98-111.

Williams, Benjamin J. ed. Why We Stayed: Honesty and Hope in the Churches of Christ. Los Angeles: Keledei Publications, 2018.

http://experimentaltheology.blogspot.com/2011/10/churches-of-christ-versus.html

Batistas Primitivos

Os Batistas Primitivos são uma denominação Batista tradicionalista que surgiu nos Estados Unidos no final do século XVIII e início do século XIX.

Os Batistas Primitivos caracterizam-se por suas práticas simples de culto, que frequentemente incluem canto a cappella, oração e pregação extemporâneas. A denominação é descentralizada, com cada congregação sendo independente e auto-governada, com um grupo leigo de anciãos (elders) e diáconos. Praticam o batismo na idade do consentimento e por imersão total. No geral, suas capelas são mantidas por ofertas voluntárias, já que não possuem sociedades missionárias, funcionários em tempo integral ou pastores assalariados. Em comum, rejeitam organizações de serviço fora ou acima da igreja local.

Essas práticas eram comuns a todos os batistas até o final do século XVIII. Depois da Revolução Americana, os batistas americanos começaram a imitar outras denominações. Uma minoria tradicionalista insistiu nessas distintivas até que uma reunião na Igreja Batista de Black Rock em 28 de setembro de 1832 em Butler, Maryland, marcou a separação entre os Batistas Primitivos e outros batistas. As igrejas batistas primitivas predominam nas regiões montanhosas do sul dos Estados Unidos, principalmente nos Apalaches e Ozarks.

As crenças dos Batistas Primitivos podem variar amplamente, com alguns seguindo a teologia calvinista, enquanto outros abraçam o arminianismo ou o universalismo. Apesar dessas diferenças, eles dão grande importância às raízes históricas da tradição Batista e acreditam em manter os “velhos caminhos” e práticas de culto simples e puros dos primeiros cristãos. Eles geralmente são contrários às inovações modernas na teologia e no culto e resistiram a muitas das mudanças que ocorreram em outras denominações Batistas.

Irmãos Morávios

Irmãos Morávios, Igreja Morávia ou Unitas Fratrum (“Unidade dos Irmãos”) é uma comunhão cristã organizada no século XVIII, mas cuja origem remonta do movimento hussita no século XV na Boêmia e na Morávia, atualmente República Tcheca.

Na Alemanha, o título oficial da Igreja é Evangelische Brüder-Unität; na Áustria, Evangelische Brüder-Kirche; em inglês, Moravian Church. Também são chamados de Herrnhuttistas.

História

Um movimento hussita

Jan Hus (c. 1370 –1415) foi um teólogo e filósofo tcheco que rejeitou muitas doutrinas e práticas católicas romanas. Todavia, alguns anos após sua morte, a maioria de seus seguidores se dividiu em duas facções rivais nas Guerras Hussitas. A facção utraquista foi reconhecida pelo papa como a Igreja nacional da Boêmia (1433), enquanto os radicais taboritas foram derrotados na batalha de Lipan (1434).

Alguns hussitas desejavam preservar seus ensinamentos espirituais. Convencidos de que a Igreja Utraquista era moralmente corrupta, fundaram várias comunidades independentes, primeiro em Kremsir e Meseritsch na Morávia, e depois em Wilenow, Diwischau e Chelčick na Boêmia.

Entre os hussitas radicais, Petr Chelčický liderou uma renovação espiritual. Chelčický ensinava o Sermão da Montanha, rechaçou as guerras e juramentos, opôs-se à união da Igreja e do Estado. Seria o dever de todos os verdadeiros cristãos romper com a Igreja nacional e retornar ao ensino simples de Cristo.

Este grupo anhou apoio de João Rockycana, arcebispo eleito de Praga e pároco de Thein (1444). Rockycana obteve permissão do rei Jorge Podiebrad para fundar uma comunidade com esses princípios em Kunwald, na baronia de Senftenberg em 1457. O líder era um leigo, Gregório, apesar de apoiados pelo padre local. Outros hussitas radicais e utraquistas, bem como valdenses e alunos da Universidade de Praga passaram a frequentar o local. Então foi organizada a Jednota Bratrska, a União dos Irmãos — Unitas fratrum em latim. Popularmente eram chamados de Irmãos Boêmios.

No Sínodo de Lhota (1467), a Unitas fratum rompeu totalmente com o papado e elegeram seus próprios ministros. O antigo pároco de Kunwald Michael Bradacius foi consagrado bispo por Estevão, um bispo valdense. A ênfase era na reforma moral, organizacional e litúrgica, não tanto na doutrina. Por isso, a disciplina era rígida.

Reforma e quase destruição

No período anterior à Reforma, seu bispo principal, Lukáš de Praga (c.1460-1528), já 1505 publicou um Catecismo e um Hinário, as primeiras dessas obras publicadas por evangélicos. Lukáš correspondeu e debateu com Lutero. Ambos concordaram em muitos pontos, especialmente sobre a presença espiritual na Santa Ceia, mas discordaram da doutrina da justificação pela fé somente.

Em 1565 João Blahoslaw traduziu o Novo Testamento para o tcheco. Mais tarde, em 1593 veio o Velho Testamento, formando a Bíblia de Kralitz.

Durante a Reforma o crescimento dos Irmãos Boêmios foi rápido. Em 1549, eles estavam firmes na Grande Polônia. Em 1609, quando Rodolfo II concedeu liberdade de culto, já eram a metade dos protestantes na Boêmia e mais da metade dos protestantes na Morávia.

Na Guerra dos Trinta Anos (1618) o protestantismo boêmio foi dizimado. Na batalha da Colina Branca (1620), os protestantes boêmios foram derrotados e os irmãos boêmios foram expulsos de suas terras. O ramo polonês foi absorvido pela Igreja Reformada da Polônia. Os sobreviventes na Boêmia eram chamados de “semente oculta”. Por cem anos, os Irmãos estiveram quase extintos.

O último bispo sobrevivente Jan Amos Comenius (1592–1672) manteve-os unidos. Mesmo perseguido e errante pela Europa, Comenius conseguiu manter o moral elevado. Arrecadou fundos para os crentes secretos, a “semente oculta”, na Morávia. Consagrou como bispo e sucessor seu genro, Peter Jablonsky, que, por sua vez, passou o ofício ao filho Daniel Ernest Jablonsky.

O reavivamento dos irmãos morávios

Um irmão boêmio alemão, Christian David, um carpinteiro que fugiu da Morávia, levou um grupo de refugiados para a Saxônia. David estabeleceu-se perto da propriedade do conde Zinzendorf em Berthelsdorf e, com sua permissão, construiu a vila de Herrnhut (1722–1727).

Em pouco tempo, exilados da Boêmia e da Morávia, bem como pietistas da Alemanha e além, foram atraídos para Herrnhut. A comunidade realizava serviços em um salão de reuniões em Herrnhut e tomava os sacramentos na igreja paroquial luterana na aldeia vizinha de Berthelsdorf.

Um luterano devoto e pietista, Zinzendorf tentou manter os refugiados dentro da igreja estatal. Zinzendorf acreditava na “ecclesiola in ecclesia” de Spener. O objetivo era que “pequenas igrejas dentro da igreja” agissem como um fermento, revitalizando e finalmente unificando as igrejas em uma única comunhão luterana. Em vez de reviver as ordens morávias imediatamente, Zinzendorf impôs aos colonos o luteranismo. Contudo, relutantemente, ele os ajudou a reviver suas próprias tradições.

Conflitos entre os luteranos e os morávios logo surgiram, mas a dissensão foi dissipada em um serviço especial de comunhão em 13 de agosto de 1727, quando um avivamento eclodiu. É lembrada essa data quando os habitantes de Herrnhut aprenderam a amar uns aos outros, após uma experiência que atribuíram a uma visitação do Espírito Santo, semelhante à do dia de Pentecostes.

Herrnhut tornou-se a comunidade mãe da igreja dos Irmãos Morávios e de uma rede de células pietistas dentro das igrejas luteranas e reformadas, a chamada “diáspora”. Uma reunião rotativa de oração continuou com intercessões por quase um século.

Os primeiros missionários deixaram Herrnhut para trabalhar entre os escravizados no Caribe em 1732. Em duas décadas, já havia missões na Groenlândia, Suriname, África do Sul, Argélia e entre os indígenas norte-americanos.

Logo estourou a perseguição contra Herrnhut. O conde Zinzendorf enviou um grupo emigrantes para a Geórgia, acompanhados por David Nitschmann, um bispo consagrado por Jablonsky (1735). Em 1749 o parlamento britânico reconheceu os Irmãos como “uma antiga Igreja Episcopal Protestante” e permitiu suas atividades no Reino Unido, onde influenciaria os irmãos Wesley.

Na Alemanha e Escandinávia eles construíram assentamentos nas propriedades de nobres simpatizantes, ergueram casas de irmãos e irmãs para uma vida espiritual como uma ordem monástica. Buscaram renovar as igrejas luteranas e reformadas, influenciando figuras como Schleiermacher, Goethe e o Avivamento Continental.

No Brasil, durante o período regencial houve uma tentativa de trazer missionários morávios para a evangelização indígena. No entanto, não houve presença dos irmãos morávios no Brasil.

Atualmente ossui campos missionários no Oriente Médio, Labrador, na Costa de Mosquitia (Nicarágua), Suriname, Guyana, Caribe, África do Sul e presença em quase todos os países protestantes da Europa. Nos Estados Unidos há comunidades de origem tcheca no Texas e duas províncias cobrindo o resto do país.

Organização

O ministério possui a ordem tríplice de bispos, presbíteros e diáconos. Entretanto, os bispos não têm dioceses territoriais nem estão hierarquicamente acima de outros ministros. Sua principal função é ordenar e atuar como pastor para os pastores.

Cada país ou região constitui uma província, que pode funcionar como uma denominação independente ou como uma sociedade de renovação espiritual dentro das denominações locais. O conselho deliberativo supremo é o Sínodo Geral, composto por delegados eleitos por cada província, alguns membros ex officio e representantes do campo missionário. O Sínodo Geral se reúne, em média, a cada dez anos em Herrnhut, e seus regulamentos são obrigatórios em todas as províncias.

Em assuntos provinciais, cada província é independente, realiza seus próprios sínodos, faz suas próprias normas e elege seu próprio conselho de administração. Há um tribunal permanente de apelação disciplinar.

As atividades missionárias são intensas e, de certa forma, a Igreja dos Irmãos Morávios é uma agência missionária.

Havia aproximadamente um milhão de membros em 2020. Além da Unitas Fratrum, a Igreja Evangélica dos Irmãos Tchecos e a Igreja Hussita da Tchecoslováquia continuam o legado hussita na República Tcheca e na Eslováquia hoje.

Doutrina

Os irmãos Morávios consideram que “as Sagradas Escrituras são a única regra de fé e prática” e interpretam-nas de acordo com os credos dos Apóstolos e Nicenos, mas não possuem um credo distinto próprio. Os morávios aceitam várias confissões protestantes, mas consideram o princípio “Na unidade essencial; no não essencial, liberdade; em tudo, amor”.

O interesse de Zinzendorf de restaurar a Igreja primitiva levou-o a considerar vários traços de primitivismo em eclesiologia e liturgia. Sua teologia centrada na obra sacrificial de Cristo para benefício de toda a humanidade, associada à devoção pelo sangue do Cordeiro, influenciariam movimentos posteriores de renovação protestante.

A Igreja seria o corpo remido por Cristo. As igrejas locais e as organizações denominacionais, mesmo a Unitas Fratrum, seriam meramente associação de crentes, sendo a Igreja uma entidade exclusivamente espiritual.

Zinzendorf enfatizou a obra do Espírito Santo para a convicção da fé, regeneração e santificação. O Espírito Santo também compelia à vida pia, o amor ao evangelho e ao próximo.

Culto

No culto matinal, o serviço consiste em uma litania, lições das escrituras, sermão, canto, oração livre e bênção final. No serviço noturno, uma litania raramente é usada. Até o século XIX era comum o uso de véus (hoje usado em ocasiões especiais), a ágape, o lava-pés e o ósculo santo.

O batismo infantil é praticado. Existem três modalidades de admissão: batismo infantil, batismo de adultos (por aspersão) ou confirmação ou recepção. A invocação do nome de Cristo, junto da Trindade, no batismo é uma marca morávia. A Comunhão é celebrada uma vez por mês.

O canto alegre dos morávios inspirou uma renovação na hinódia protestante. Nos países de língua inglesa essa renovação foi visível pela hinódia metodista.
O uso de versos para a leitura devocional pelos morávios impactou todo a cristandade ocidental. Devocionais como “Pão Diário” ou “caixinhas de promessa” têm origem das práticas morávias.

BIBLIOGRAFIA

Atwood, Craig D. “Understanding Zinzendorf’s Blood and Wounds Theology.” Journal of Moravian History (2006): 31-47.
Bowman, Matthew. “Primitivism in America.” Oxford Research Encyclopedia of Religion. 2016.
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Hutton, Joseph Edmund. “Moravian Brethren”. Encyclopædia Britannica, 1911.
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Zinzendorf, Nikolaus Ludwig. Sixteen Discourses on the Redemption of Man by the Death of Christ; 1740.

Irvingismo

O Irvingismo ou Irvinguismo foi um movimento de avivamento carismático britânico durante a era vitoriana. O movimento surgiu das conferências sobre profecias que Henry Drummond realizou em sua propriedade Albury Park, no condado de Surrey, em 1826 e dos cultos avivados na congregação presbiteriana escocesa de Londres conduzidos por Edward Irving (1792-1834).

Edward Irving (1792-1834) era um pregador escocês que em 1822 foi apontado para uma congregação presbiteriana em Londres. Em suas pregações enfatizava uma restauração espiritual e iminentes eventos escatológicos. Suas viagens de verão pela Escócia em 1827 e 1828 atraíram dezenas de milhares de ouvintes, com manifestações extáticas e com o falar em línguas.

Irving acabou expelido da Igreja Presbiteriana e nunca liderou (ou foi apóstolo) do movimento que levou seu nome. A pregação de Irving e as notícias de milagres despertaram o interesse de Henry Drummond (1786-1860). Os membros da conferência concluíram que estavam vivendo nos últimos dias e que a Igreja estava sendo restaurada. A Igreja seria constituída por quatro dons ministeriais (apóstolos, mestres, pastores e evangelistas). Em 1832, na conferência de Albury Park seis apóstolos foram apontados, considerados enviados por Cristo para preparar seu retorno. Outros apóstolos foram apontados e enviados ao redor do mundo para proclamar essa restauração.

Inicialmente, não se viam como uma nova igreja, mas como um último reavivamento que recriaria a igreja cristã original antes do retorno de Cristo. O novo movimento esperava ganhar a adesão das igrejas existentes, mas na prática gerou uma nova denominação, a Igreja Católica Apostólica. Ganhou grande número de adeptos na Alemanha e Austrália. Desenvolveu uma rica e deslumbrante liturgia com elementos de derivação anglicana, católica e ortodoxa.

Como muitos esperavam o retorno de Cristo durante a vida do restaurado colégio apostólico, a cada morte dos apostólos não eram eleitos sucessores. Com a morte do último apóstolo, Francis Valentine Woodhouse (1805-1901), o movimento enfraqueceu. Apenas os apóstolos podiam consagrar “anjos” (o equivalente a bispos) e apenas “anjos” podiam ordenar sacerdotes. O último “anjo” morreu em 1960, o último sacerdote em 1971 e o último diácono no ano seguinte. Uma fundação fiduciária administra os bens que restaram, principalmente no Reino Unido, e alguns aderentes esparços sobrevivem. As comunidades remenscentes se reúnem para recitar litanias, cantar hinos, ler passagens da Bíblia e sermões anteriores a 1971. Na Inglaterra, ainda há uma associação voluntária angligana, a Guild of Prayer for the Return of Our Lord, que mantém viva as doutrinas e expectativas irvingianas.

Em 1862, Heinrich Geyer na Alemanha profetizou que uma pessoa seria um novo apóstolo, mas o colégio de apóstolos discordou. Em razão disso, no ano seguinte foi organizada na Alemanha a Igreja Nova Apostólica. O número de apóstolos não é limitado. O apóstolo chefe está baseado em Zurique. Realiza três sacramentos: batismo , comunhão e selo do Espírito (imposição das mãos para o recebimento do Espírito Santo). Não adota a liturgia pomposa da antiga Igreja Católica Apostólica. Possuem dez artigos de fé. Os três primeiros descrevem a Trindade nos termos do Grande Catecismo de Lutero e do Livro de Concórdia. Os artigos 4 e 5 versam sobre o ministério apostólico. Artigos 6 e 8 é sobre os sacramentos. O 9o é sobre esperança escatológica e o último sobre relação com o Estado. Estão presentes na Alemanha, Suíça, Holanda, Austrália, Índia, Brasil, Filipinas, África do Sul, Escandinávia e Estados Unidos. Outros grupos independentes existem, boa parte integrantes da Igreja Apostólica Unida.

Collegiantes

Os collegiantes foram uma denominação protestante radical na era áurea neerlandesa (séculos XVII ao XVIII).

Originários de uma congregação reformada na Holanda que não quis apoiar os partidos gomarista ou arminiano, os collegiantes apregoavam a liberdade de consciência.

Seus cultos eram abertos à manifestação livre das falas dos participantes, tanto homem quanto mulheres. Os critérios de comunhão era a crença na Bíblia como base para a fé e nos ensinamentos de Cristo como válidos para a humanidade. Fora isso, qualquer formulação doutrinária ou atos sacramentais não conferia efeitos para a participação em suas comunidades. Apesar disso, realizavam batismos por imersão e santa ceias bianuais.

Como um fórum de tolerância e culto, atraiu simpatizantes e visitantes famosos como John Locke, Baruch Spinoza, Jan Comenius, além de pioneiros batistas e quakers.

BIBLIOGRAFIA

Quatrini, Francesco. Adam Boreel (1602-1665): A Collegiant’s Attempt to Reform Christianity. Netherlands, Brill, 2021.

Adam Boreel

Adam Boreel (1602 – 1665) foi um teólogo e hebraísta holandês, um dos fundadores dos collegiantes. Sua influência nesse movimento primitivista era de tal modo que também foram chamados de Boreelists.

Os collegiantes rejeitaram as controvérsias religiosas entre gomaristas e arminianos, bem como entre protestantes e outras religiões, para formar um grupo religioso pautado na tolerância, no diálogo e liberdade de expressão, mantendo as Escrituras como única regra de fé.

Boreel seria o provável autor de Lucerna Super Candelabrum, um panfleto que influenciou os quakers. Também trabalhou na edição de uma versão latina do Mishnah.

Entre as pessoas envolvidas em seu movimento estavam Daniel van Breen, Michiel Coomans, Jacob Otto van Halmael e o menonita Galenus Abrahamsz de Haan, Baruch Spinoza, Jan Comenius, Rembrandt e John Dury.

Van Der Wall, Ernestine GE. “‘Without Partialitie Towards All Men’: John Durie on the Dutch Hebraist Adam Boreel.” Jewish-Christian Relations in the Seventeenth Century. Springer, Dordrecht, 1988. 145-149.

BIBLIOGRAFIA

Quatrini, Francesco. Adam Boreel (1602–1665): A Collegiant’s Attempt to Reform Christianity. Brill, 2020.

Petr Chelčický

Petr Chelčický (Chelcicky, Chelciki) (c. 1390-ca. 1460) foi um notável líder cristão tcheco dentro do movimento hussita.

Defensor da não resistência e do discipulado cristão, Chelčický foi antecessor das igrejas pacifistas. Foi autor de vários livros e panfletos, sendo o principal A rede da fé (Šít Víry (1440).

Chelčický condenou a guerra e a pena capital, opôs-se a cidades, comércio e juramentos, e renunciou a todas as formas de poder e autoridade secular, defendendo um cristianismo primitivo e igualitário.

Ensinava que o cristão deve lutar pela justiça por sua própria vontade, mas não deve forçar os outros a serem bons e que a bondade deve ser voluntária. Ele acreditava que o cristão deve amar a Deus e ao próximo e essa é a maneira de converter as pessoas e não por compulsão. Afirmava que qualquer tipo de compulsão seria intrinsicamente má e que os cristãos não devem participar de lutas políticas.