Vocação

Vocação, chamado ou apelo possui várias conotações tanto na Bíblia quanto na teologia.

  1. Vocação em sentido de salvação: como aparece em Rom 8:30 “E aos que predestinou a estes também chamou [ekalesen: vocacionou, apelou]; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” significa o apelo à salvação.
  2. Teologicamente, há tradições que distinguem entre vocação eficaz ou interna e vocação geral ou externa.
  3. Vocação também conota o chamado pessoal ao ministério ou missão.

Pontos de Doutrina 10: serviço cristão

No que implica o serviço cristão de cuidado com o próximo. Da unção dos enfermo à Igreja como comunidade de cuidado há dons e ministros para seu benefício.

Simon Chan

Simon K. H. Chan, teólogo pentecostal, professor de Teologia Sistemática no Trinity Theological College (Cingapura).

Fez seu doutorado com ênfase em teologia histórica pela Universidade de Cambridge, sob a direção de Eamon Duffy (1986). É um ministro ordenado nas Assembléias de Deus de Cingapura e editor do Trinity Theological Journal.

Chan critica divisão da teologia sistemática em disiciplinas isoladas. Para integrá-las, propõe que a Espiritualidade seja uma disciplina em seu próprio mérito.

O foco de Chan no culto como cerne ontológico da Igreja remedia deficiências em eclesiologia que consideram o culto e a liturgia como acidentes sociológicos ou aspectos funcionais. Para Chan, o culto define a Igreja.

TEOLOGIA

Chan, Simon. Spiritual Theology: A Systematic Study of the Christian Life. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998.

Chan, Simon. Pentecostal Theology and the Christian Spiritual Tradition. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2000.

Chan, Simon. Liturgical Theology: The Church as Worshipping Community. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006.

Igreja livre

Igrejas livres são grupos de cristãos que consideram a igreja como uma comunhão voluntária dos crentes, enfatizando o povo de Deus como comunidade ao invés de autoridades clericais, práticas sacramentais, denominacionais, estruturas ou símbolos teológicos.

O teólogo croata-americano Miroslav Volf identifica como igrejas livres, primeiramente, aquelas que tendem a um modelo de governo congregacionalista. E, em segundo lugar, aquelas igrejas que afirmam uma separação consistente entre igreja e estado. Contudo, há outras características derivadas da concepção voluntária de Igreja.

Normalmente essas igrejas desconfiam até mesmo essa designação ou qualquer outra que tenda ao denominacionalismo, preferindo identidades adenominacionais.

Eclesiologicamente, há uma ênfase à autonomia da igreja local em matéria de gestão, doutrina e disciplina. Isso resulta em uma rejeição da existência de qualquer entidade terrestre além da igreja local do povo de Deus reunida para comunhão em Cristo pelo Espírito na adoração a Deus. No entanto, nem todas igrejas livres aderem ao congregacionalismo. Várias redes de igrejas que compartilham as mesmas tradições possuem arranjos organizacionais além da congregação local.

Os ministros são mais exortadores que exatamente um clero, valorizando o ministério laico. Seu papel é mais o cuidado da comunidade, tanto na orientação espiritual quanto na função de gestores-procuradores (trustees) dos bens comunitários.

Teologicamente, valorizam a Igreja como a concretização do evangelho. Assim, essas igrejas exercem-se uma autoridade coletiva na qual Deus em Jesus Cristo seria o único cabeça. Os membros desse corpo seriam pessoas regeneradas (nascidas de novo) e que exercem pelo Espírito como “um sacerdócio real” (1 Pedro 2:9) reunidas em uma local congregação “de dois ou três” (Mt 18:20).

Outras nuances teológicas são uma abertura doutrinária, rejeitando especulações além daquilo que afete a unidade da Igreja em culto ao vivente Deus. Isso leva a um biblicismo que, frequentemente, rejeita tanto a cadeia de transmissão histórica doutrinária da cristandade estabelecida quanto a sistematização teológica.

As igrejas livres tendem a ser (mas não necessariamente) “sem credo”. Não utilizam credos nos cultos (liturgia seria um termpo impróprio para as igrejas livres) como também não utilizam confissões como uma interpretações privilegiadas das Escrituras ou critério de autoridade e de membresia. Apesar desse não credalismo, as igrejas livres tendem a ter uma rica teologia prática e congregacional, expressa principalmente no culto e na vida comunitária. Ocasionalmente, alguns grupos formulam declarações de fé que são mais testemunhos de crenças e práticas comuns que credos ou confissões.

Apesar de rejeitar envolvimento com a política secular, as igrejas livres são históricas defensoras da liberdade de culto, de consciência e de associação. Em países onde houve uma religião oficialmente estabelecida, membros das igrejas livres foram ativos como cidadãos privados em demandar a liberdade religiosa e a separação entre Estado e Religião. Foram instrumentais para garantir o registro civil de nascimento, o casamento civil e os cemitérios laicos. O lema orientador era “igreja livre em um estado livre”.

Várias tradições (e paradoxalmente, denominações) são herdeiras das igrejas livres, como as igrejas evangélicas livres continentais, congregacionais, batistas, pentecostais, menonitas e outros anabatistas, Irmãos, dentre outras.

Apesar de remontar do movimento anabatista no século XVI, foi no século XIX na Europa que as igrejas livres ganharam força em conexão com o avivamento continental.

BIBLIOGRAFIA

Durnbaugh, Donald. The Believers’ Church: The History and Character of Radical Protestantism. New York: Macmillan Company, 1968.

Halldorf, Joel, Fredrik Wenell, and Stanley Hauerwas. Between the State and the Eucharist: Free Church Theology in Conversation with William T. Cavanaugh. Eugene : Pickwick Publications, 2014.

Jordan, Edward Kenneth Henry. Free Church Unity. History of the Free Church Council Movement 1876–1946. London: Lutterworth Press, 1956.

Klingberg, Frank J. A Free Church in a Free State: America ‘s Unique Contribution. Indianapolis, IN: National Foundation Press, 1947.

Littell, Franklin Hamlin. The Free Church. Boston, MA: Starr King Press, 1957.

Payne, Ernest A. The Free Church Tradition in the Life of England. London: SCM Press, 1944.

Redeker, Calvin Wall. The Free Church and Seductive Culture. Scottdale, PA: Herald Press, 1970.

Rouner, A. The Free Church Today: New Life for the Whole Church. New York; Association Press,

Spini, Giorgio. L’evangelo e il berretto frigio. Storia della Chiesa Cristiana Libera in Italia (1870-1904). Torino, Claudiana, 1971.

Spini, Giorgio. Italia liberale e protestati. Torino, Claudiana, 2002.

Torbet, Robert G. Ecumenism: Free Church Dilemma. Valley Forge, PA: Judson Press, 1968.

Vieira, Raimundo Nonato. Igreja Evangélica Livre do Brasil 1936-2017 : entre a pátria alemã e a nação brasileira. 2018. Universidade Católica de Pernambuco. Mestrado em Ciências da Religião, 2018.

Volf, Miroslav. After Our Likeness: The Church as the Image of the Trinity. Grand Rapids: Eerdmans, 1998.

Westin, Gunnar. The Free Church Through the Ages. Trad. Virgil A. Olson. Nashville, TN: Broadman Press, 1954.

Williams, D.H., ed. The Free Church and the Early Church: Bridging the Historical and Theological Divide. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2002.

Primitivismo

“O cristianismo histórico primitivo deve ser sempre essencialmente normativo, e se tipos posteriores de religião divergem tanto do tipo primitivo que passam a considerar o que é encontrado no Novo Testamento mais uma vergonha do que uma inspiração a questão é se eles ainda podem ser reconhecidos como cristão.” — James Denney. The Christian Doctrine of Reconciliation, pp. 26-27.

O primitivismo é uma doutrina, atitude e ideal encontrado entre alguns grupos cristãos que veem na Igreja do Novo Testamento um parâmetro para ser seguido. Assim, doutrinas, regras de convívio, práticas de culto, organização de seus crentes, rejeição de “novidades” formam um conjunto de traços valorizados pelas comunidades primitivistas como replicando a primitiva igreja dos apóstolos.

O historiador Grant Wacker nota no primitivismo um anseio por pureza em doutrina, nas origens e no cumprimento de um mandado divino — tudo intocado pelas limitações e corrupções da existência ordinária.

Frequentemente o primitivismo demanda uma teologia da história para explicar sua própria existência. Nessa teologia há três tipos de narrativas. A primeira é a da fundação independente quando alguém ou um grupo honesto e cândido redescobre a eclesiologia dos cristãos primitivos, sem intermediários denominacionais ou de ruditos, pela leitura pura da Bíblia. A segunda narrativa é a da sucessão marginal, pelo qual o grupo reivindica uma “história alternativa” de sucessão de grupos (montanistas, donatistas, paulicianos, valdenses e anabatistas são alguns favoritos), cuja ligação entre si e suas histórias são mal atestadas por serem grupos subalternos e perseguidos. Por fim, há a teologia restauracionista, no qual considera que em alguma fase histórica o cristianismo desviou-se totalmente e extinguindo-se, carecendo uma renovada dispensação ou revelação que restaurassem doutrinas, práticas ou eclesiologia do cristianismo autênticas do Novo Testamento.

Ordens medicantes medievais, o movimento joaquimita, os anabatistas (e a Reforma em geral por sua busca ad fontes de voltar aos princípios do cristianismo), os pietistas radicais (morávios, dunkers, metodistas primitivos), os batistas primitivos, o movimento de restauração (Igrejas de Cristo e Discípulos de Cristo), o movimento dos Irmãos (de Plymouth ou Casa de Oração), muitos grupos pentecostais e cristianismo indígenas esposam alguma forma de primitivismo.

A exclusão social e sua atração por classes populares fazem com que adeptos do primitivismo vivam em tensão com instituições da sociedade dominantes. Assim, muitos grupos rejeitam algumas profissões e educação avançada que os ponha em contato próximo com o mundo secular. Casamentos tendem a ser endogâmicos. O isolamento denominacional leva a não compartilhar o púlpito com ministros não filiados. Nesse ambiente, muitos desenvolvem uma mentalidade exclusivista de ser o melhor e o único representante fiel do cristianismo do Novo Testamento com base em seletos pontos de identidade do grupo.

Muitas críticas há em relação ao primitivismo. A imaginação idealizada sobre os primeiros cristãos leva a desconsiderar os problemas da Igreja primitiva. Faccionalismo, heresias e controvérsias são registrados no Novo Testamento. Adicionalmente, grupos primitivistas fazem uma leitura arbitrária das Escrituras para selecionar quais traços serem critérios de validade e comunhão. A atualização e contextualização de práticas e doutrinas do século I para os tempos atuais também é seletiva. Por fim, a doutrina de Cristo e dos apóstolos preemptoriamente rejeita a comunhão de salvação com Deus com base em associação com um grupo, atitude comum em vários grupos insulares em nome de um primitivismo.

Com suas doutrinas, história e práticas próprias, o primitivismo deve ser reconhecido como uma legítima expressão da cristandade. Sua atitude anti-estabelecimento possibilita o exercício ativo do ministério e missão por segmentos diversos da população. O desejo honesto de moldar-se conforme os parâmetros bíblicos de vida em Igreja é um alerta contra a adição e supressão de elementos do cristianismo para se conformar detrimentalmente às exigências políticas e culturais dominantes nas sociedades locais.

BIBLIOGRAFIA
Cameron, Euan. “Primitivism, Patristics and Polemic in Protestant Visions of Early Christianity.” Em Van Liere, Katherine, Simon Ditchfield, and Howard Louthan, eds. Sacred history: uses of the Christian past in the Renaissance world. Oxford University Press on Demand, 2012.

Hughes, Richard Thomas, ed. The American quest for the primitive church. University of Illinois Press, 1988.

Sobor

Em eslavo eclesiástico sobor съборъ assembleia e sobornost соборность comunhão espiritual de muitas pessoas coexistindo juntas. Este conceito de unidade emergente implica que a Igreja existe como fenômeno supra-individual fundado em uma relação de comunhão de seus membros, especialmente exercidada pela oração.

As ramificações eclesiológicas e teológicas da sobor resultam que um indivíduo sozinho não tenha voz ou legitimidade para modificar a Igreja ou expressar sua doutrina, mas sua dinâmica ou expressão teológica ocorre via sobornost.

Igreja

No Novo Testamento Igreja é a tradução da palavra grega ecclesia, que é sinônimo do hebraico qahal do Antigo Testamento. Ambas as palavras significando simplesmente um ajuntamento de pessoas ou uma assembleia.

Apartir de Atos, “igreja” pode se referir à totalidade dos remidos em Cristo na terra como também a qualquer congregação individual (a igreja de Corinto, a igreja de Antioquia, a igreja em Roma, etc). Coletivamente, aparece na forma plural de “igrejas” no Novo Testamento.

As quatro menções do termo “igreja” no evangelho de Mateus 16 e 18 seria anacronística. No entanto, podem ser entendidas como uma atualização do termo para o tempo das audiências originais do evangelho quando já havia igrejas como instituição ou, outra leitura possível, é que simplesmente corresponde ao conceito de qahal, o ajuntamento de todos os povos de Deus.

Dentre as várias palavras gregas para diversos tipos de reunião, o Novo Testamento usa ekklesia. Era a reunião convocada e revestida de poder deliberativo. Em contraste com outros tipos de reunião (gerousia, conselho de anciãos; synedrion, congresso de líderes; archon e aeropago, concílio de notáveis), a ekklesia era aberta a uma membresia ampla e com iguais direitos e deveres, constituíndo a base da democracia ateniense.

O uso do termo Igreja para o local ou edifício de culto, bem como para referir-se às redes distintas de igrejas locais com similar ordem e identidade institucional (denominação) é inexistente no Novo Testamento.

Eclesiologia

A eclesiologia é o ramo da teologia que estuda a natureza, a estrutura e a função da Igreja.

Os principais tópicos estudados em eclesiologia incluem:

  • O desenvolvimento bíblico e histórico da Igreja.
  • A natureza e os atributos da igreja, incluindo seu papel como corpo de Cristo e a noiva de Cristo.
  • Os sacramentos da igreja, incluindo o batismo e a santa ceia do Senhor
  • Governança e liderança da igreja, incluindo os papéis de bispos/anciãos e diáconos.
  • Unidade da Igreja e Ecumenismo.
  • Missão da Igreja e evangelismo.
  • História e tradições da igreja.
  • Igreja e sociedade, incluindo a relação entre a Igreja e o Estado.
  • Organização da Igreja e denominações.
  • Escatologia e o papel da igreja no plano de Deus para os tempos finais.