Profetas de Cevennes

Os Profetas de Cevennes faziam parte de um movimento maior conhecido como revolta dos camisards, que ocorreu na região de Cevennes, na França, no início do século XVIII. A revolta foi provocada pela tentativa do governo francês de extinguir o protestantismo na região e foi alimentada por um profundo sentimento de alienação religiosa e social entre a população local.

Os camisards, como os rebeldes passaram a ser conhecidos, eram em sua maioria camponeses pobres reformados (huguenotes) que há muito sofriam sob o jugo da opressão real. Eles foram inspirados por líderes carismáticos, conhecidos como profetas, que pregaram uma mensagem de esperança e salvação diante da perseguição. Esses profetas guiavam-se por revelações proféticas e frequentemente falavam em línguas, uma prática que era fascinante para seus seguidores.

Um dos mais famosos desses profetas foi Pierre Cazotte, que se tornou uma figura chave no movimento dos Profetas de Cévennes. Cazotte pregava que o fim do mundo estava próximo e que logo apareceria um enviado de Deus para conduzir os fiéis à glória. Ele realizava intercessão para curar os enfermos e expulsar demônios.

Apesar de seu fervor e fé, os camisards não eram páreo para o poderio do exército real, que foi despachado para a região para reprimir a rebelião. A resposta do governo foi rápida e brutal, com aldeias inteiras totalmente queimadas e milhares de rebeldes executados ou forçados a fugir para as montanhas.

Apesar da derrota, os camisards deixaram um legado duradouro no protestantismo francês. Seu movimento deu origem a uma rede de igrejas clandestinas, conhecidas como as igrejas do deserto, que continuaram a praticar sua fé em segredo muito depois de a rebelião ter sido esmagada. Essas igrejas se tornaram um símbolo de resistência à opressão religiosa e uma fonte de inspiração para reavivamentos posteriores, como o Grande Despertar no século XVIII e o Avivamento Continental.

Pierre Ramus

Pierre Ramus (1515-1572) foi um estudioso, filósofo e reformador educacional huguenote francês que fez contribuições significativas para os campos da lógica, retórica e pedagogia.

Ramus nasceu na aldeia de Cuts, na Picardia, na França, e estudou na Universidade de Paris, onde obteve o doutorado em teologia.

Ramus foi uma figura proeminente no movimento humanista renascentista, que enfatizou o estudo de textos clássicos e o uso da razão e do pensamento crítico. Desenvolveu um novo sistema de lógica conhecido como Ramismo, que enfatizava o uso de métodos de raciocínio simples, claros e sistemáticos. Ramus acreditava que os métodos tradicionais de ensino de lógica e retórica eram excessivamente complexos e obscuros, e ele procurou simplificar esses assuntos e torná-los mais acessíveis a um público mais amplo.

As ideias de Ramus tiveram um impacto significativo nos campos da filosofia, educação e teologia. Sua ênfase no pensamento claro e sistemático influenciou o desenvolvimento da ciência moderna, e suas reformas educacionais ajudaram a estabelecer uma abordagem mais democrática e igualitária da educação. O ramismo também estava intimamente ligado à Reforma Protestante, pois muitos de seus adeptos buscavam aplicar os princípios ramistas ao estudo da teologia e desafiar a autoridade da Igreja Católica.

No entanto, as ideias de Ramus geraram controvérsia e ele enfrentou a oposição de muitos tradicionalistas que viam suas reformas como uma ameaça à ordem estabelecida. Ele também foi um crítico vocal da filosofia aristotélica escolástica que dominava o pensamento medieval, e sua rejeição ao aristotelismo lhe rendeu a ira de muitos de seus contemporâneos.

Em 1572, Ramus estava entre os muitos huguenotes que foram alvo do massacre do Dia de São Bartolomeu, que foi um assassinato em massa de protestantes ocorrido em Paris.

Apesar desses desafios, as ideias de Ramus continuaram a influenciar o discurso filosófico, educacional e teológico por séculos após sua morte. Hoje, ele é reconhecido como uma das figuras mais importantes do movimento humanista renascentista e um pensador pioneiro no desenvolvimento da lógica e da pedagogia modernas.

Jacques Ellul

Jacques Ellul (1912-1994) acadêmico e teólogo protestante francês.

Nascido de uma mãe protestante e um pai ortodoxo, converteu-se ao cristianismo na vida adulta. Foi professor na Universidade de Montpellier, em Estrasburgo e Bordeaux. Demitido durante o regime nazista, participou da resistência, embora não engajasse na luta armada.

Editou várias revistas para o público protestante e organizou iniciativas para a juventude. Simpático do anarquismo cristão e do socialismo, criticava o marxismo, o liberalismo e a confiança na tecnologia.

Louis Cappel 

Louis Cappel ou Ludovicus Cappellus (1585 – 1658) foi um pioneiro tratamento puramente filológico e científico do texto da Bíblia e professor da Academia de Saumur.

Nasceu em uma família de huguenotes nobres refugiados em Sedan. Estudou hebraico e viajou pela Alemanha e Holanda antes de tornar-se professor em Saumur, onde foi colega de Amyraut.

Suas obras publicadas são:

“Arcanum Punctationis Revelatum”, publicado anonimamente por Thomas Erpenius, em Leiden, em 1624. Demonstrou conclusivamente que a vocalização do texto hebraico era algo tardio, bem como a escrita quadrada dos manuscritos massoréticos eram posteriores à escrita paleohebraica dos samaritanos.

“Critica Sacra”, impresso em Paris, em 1650. Demonstrou que o texto consonantal massorético teve uma transmissão praticamente sem erros, mas que as edições contemporâneas precisavam serem corrigidas comparando versões e pelo método conjectural. Assim, distinguiu entre os autógrafos e os textos atuais nas línguas originais.

Marie Dentière

Marie Dentière (n. 1495-d. c. 1561) reformadora, escritora e teóloga francesa.

Nascida na nobreza, na família d’Ennetières, deixou o convento agostiniano em Tournai e se juntou aos reformadores franceses em Estrasburgo em 1521. Casou-se com o huguenote Simon Robert e juntos acompanharam William Farel para o Valais suíço, onde Robert se tornou pastor.

Após tornar-se viúva, casou-se com Antoine Froment (n. 1509–d. 1581) em 1533 e mudou-se para Genebra em 1535. Na cidade, teria escrito um panfleto com a história da reforma genebrina. O casal estava entre os seguidores de João Calvino quando assumiu a liderança da Igreja Reformada no final de 1536.

Escreveu a Epistre tres utile, endereçada a Marguerite de Navarre, apareceu com o nome de um impressor falso em Genebra em 1539. A maioria das cópias foi confiscada e o impressor, Jean Girard, foi preso. Nessa epístola apresenta uma defesa das mulheres, inclusive o direito de as mulheres de interpretar e ensinar as Escrituras. Afirma os ensinamentos de Farel e Calvino sobre a salvação somente pela fé e rejeita a missa católica, o clero e o papado.

Dentière era mencionada casualmente como “a esposa de Froment” (uxor fromentis) na correspondência dos reformadores suíços.

Sarah Monod

Alexandrine Elisabeth Sarah Monod (1836 – 1912) foi uma diaconisa, filantropa e feminista evangélica francesa.

Nasceu em Lyon, filha de Hannah Honyman e Adolphe Monod, uma família pastoral huguenote aderente ao réveil. A quarta de sete filhos, Sarah era a mais ativa no ministério desde sua infância.

Depois das mortes dos pais, Sarah juntou-se às Diaconisas de Reuilly em Paris. Com as diaconisas, serviu cuidando dos feridos na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).

Monod passou a dirigir as Diaconisas de Reuilly. Expandiu a atuação ministerial com programas de reeducação prisional e da campanha pelo abolicionismo — o movimento a favor de liberar a prostituição.

Na época, as regulamentações governamentais penalizavam as mulheres e facilitava abusos, tráfico internacional e facilitava a escravidão das prostitutas. O movimento buscava o direito das mulheres de terem acesso a um respeito moral e a uma família estável. Para garantir esse direito, o movimento abolicionista buscava desenvolver a autonomia das mulheres, assegurando direitos de adquirir habilidades e trabalho. Defendiam também a isonomia jurídica e moral no casamento, o que dificultaria os casos extraconjugais dos homens, então protegidos legalmente pelo monopólio masculino sobre os bens e direitos das esposas.

Considerando que as mulheres não tinham acesso à decisão política, Monod articulou a causa feminina através da rede de evangélicos avivados na Europa Continental e no Império Britânico. Boa parte dessa pauta alcançou sucesso na virada do século XX.

Junto de outras líderes feministas (muitas delas evangélicas, como Julie Siegfried, Isabelle Bogelot e Emilie de Morsier), Monod organizou um congresso internacional de mulheres em Paris, com participantes das Américas e da África.

O Conseil national des femmes françaises foi fundado em 1901, com Monod eleita presidente. Esta organização feminista conseguia reunir e articular mulheres de diversas posições políticas e religiosas, desde socialistas como Louise Saumoneau e Elisabeth Renaud até ativistas do conservadorismo católico como Marie Maugeret. Marcou a transição de uma agenda assistencialista para uma proatividade participatória na esfera pública para abordar os problemas sociais.

Sob sua liderança, o movimento avançou juridicamente nas novas as pautas. Estavam em prioridade dar às mulheres casadas o controle sobre seus salários, regulamentação do trabalho feminino, responsabilização da autoridade parental e políticas de reeducação para menores infratores.

Para garantir educação, oportunidades e ambiente moral, fundou pouco antes de sua morte,com Camille Vernes, o ramo francês da Associação Cristã das Moças, a Union chrétienne des jeunes filles.

Como autora, escreveu biografias (de seu pai e da diaconisa Malvesin), um devocional (oração e culto), além de traduções de literatura feminista cristã.

Devido à sua austeridade e influência, a jornalista Jane Misme dizia que Sarah se vestia como uma Quaker e que era a “papisa do protestantismo”.

Foi homenageada com um logradouro em seu nome em Paris, próximo ao Hospital das Diaconisas de Reuilly.

BIBLIOGRAFIA

Cadier-Rey, Gabrielle. “Autour d’un centenaire Sarah Monod.” Bulletin de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français (1903-2015) (2012): 771-792.

Poujol, Geneviève. Un féminisme sous tutelle: les protestantes françaises, 1810-1960. Paris: les Éditions de Paris, 2003.

Louis Dallière

Louis Dallière (1897–1976) foi um ministro reformado pentecostal francês. Foi pioneiro nas relações ecumênicas e na busca do renovo da Igreja universal pela obra do Espírito Santo.

Dallière nasceu em Chicago, filho de um pai católico banqueiro e de mãe anglicana. Foi batizado enquanto criança na Église Réformée de France (ERF) em Nice em 1901. Ele experimentou conversão em 1910 e passou por uma segunda conversão em 1915, acompanhada por um chamado ao ministério. Estudou na Faculté de théologie protestant em Paris em 1915-1921. Em 1921 casou-se com Caroline Boegner, filha de Alfred Boegner, líder da Sociedade Missionária Evangélica de Paris (SMEP).

Depois de estudar teologia e filosofia em Paris e Harvard, pastoreu uma igreja reformada em Charmes, na região de Ardèche, de 1925 a 1962. Em 1932-1933, lecionou na Faculdade de Teologia de Montpellier.

No verão de 1932 foi para a Inglaterra para investigar o movimento pentecostal. Após sua adesão, passou a promover um movimento de reavivamento pentecostal entre os reformados. Ele foi bem recebido pela Igreja Livre, mas não pelos liberais nem no Movimento dos Irmãos.

Em 1930 Dallière tornou-se líder do Movimento Pentecostal em Charmes. Fez parte de uma rede da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, e foi reconhecido pelo Yad Vashem como “justo entre as nações” em 1990. Em 1946 ele prestou homenagem a Wilfrid Monod, que fundou os Veilleurs (A Ordem dos Vigilantes), e criou a Union de prière de Charmes (Comunidade de Oração dos Charmes). Louis Dallière fundou o “Cours Isaac Homel” (Isaac Homel College), um estabelecimento de ensino secundário que funcionou até 1975.

BIBLIOGRAFIA
https://museeprotestant.org/en/notice/le-pasteur-louis-dalliere-1897-1976-reforme-pentecotiste/

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Fath, Sébastien.”Baptistes et Pentecôtistes en France, une histoire parallèle ? Le baptisme, une culture d’accueil du pentecôtisme (1820-1950)”, Bulletin de la SHPF, Société de l’histoire du protestantisme français, Paris, juillet-auût -Setembro de 2000, Tomo 146, p. 523-567

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