Asserá era uma importante deusa semítica ocidental, cultuada em diversas culturas do Antigo Oriente Médio, incluindo os cananeus e, em certos períodos, os israelitas. Ela era frequentemente associada à fertilidade, à maternidade e, em algumas tradições, era considerada a consorte do deus El, a principal divindade do panteão cananeu, e mãe de outros deuses.
No contexto bíblico hebraico, o culto a Asserá é repetidamente condenado. Os relatos bíblicos mencionam a presença de postes ou imagens de Asserá, frequentemente localizados em lugares altos ou em santuários, e associados a práticas religiosas consideradas idólatras pelos autores bíblicos (Deuteronômio 16:21; 1 Reis 14:23; 2 Reis 17:10). A influência do culto a Asserá é evidente em diversos períodos da história de Israel e Judá, com relatos de reis que promoveram ou toleraram seu culto (1 Reis 15:13; 2 Reis 21:7) e outros que buscaram erradicá-lo (2 Reis 18:4; 23:4-6).
A arqueologia tem fornecido evidências da presença do culto a Asserá na região, incluindo inscrições que a associam a Yahweh em um período da religião israelita (por exemplo, as inscrições de Kuntillet Ajrud). Essas descobertas indicam uma complexidade na história religiosa de Israel, onde o monoteísmo javista coexistiu, em certos momentos, com a veneração de outras divindades, como Asserá.
A luta contra o culto a Asserá, conforme narrada na Bíblia, reflete um esforço para estabelecer a exclusividade do culto a Yahweh.
O debate sobre “Yahweh e sua Asserá” centra-se na religião de Israel e Judá no período monárquico, particularmente entre os séculos IX e VII a.C. O debate surgiu com a descoberta de inscrições em hebraico antigo em Kuntillet ‘Ajrud, no Sinai, e em Khirbet el-Qom, na Judeia, que contêm bênçãos formuladas como “Eu te abençoo por Yahweh [de Samaria/de Temã] e por sua Asserá”. A questão reside na interpretação do termo “Asserá” nesta fórmula, especialmente devido ao uso do sufixo possessivo (“sua”). Historicamente, Asserá é uma deusa mãe cananeia, consorte do deus supremo El em textos ugaríticos. Na Bíblia Hebraica, o termo asserá também pode se referir-se a um objeto de culto, um poste ou árvore sagrada, associado a locais de culto e condenado pelos profetas e pelo código deuteronômico como símbolo de idolatria. Uma corrente de interpretação acadêmica defende que a Asserá das inscrições é, de fato, a deusa, indicando que ela era venerada como consorte de Yahweh por alguns segmentos da população israelita e judaíta, refletindo práticas religiosas politeístas que só mais tarde foram suprimidas pelas reformas monoteístas. A construção possessiva poderia indicar “a Asserá associada ao culto de Yahweh” ou ser uma variação vernacular. Outra perspectiva argumenta que o termo asserá nas inscrições se referiria ao símbolo cultual, o poste sagrado, o que faria mais sentido gramatical com o possessivo (“o poste sagrado de Yahweh”) e estaria alinhado com as críticas bíblicas focadas nos objetos. Uma terceira alternativa propõe interpretações intermediárias, como Asserá representando uma hipóstase da presença ou bênção de Yahweh, simbolizada pelo objeto.
