A escravidão é um tema delicado que existe ao longo da história da humanidade, e a Bíblia não é exceção. A Bíblia contém passagens que mencionam a escravidão, e é importante entender o contexto em que foram escritas. Escravo ou servo não são conceitos distintos nas línguas e tempos bíblicos.
No Antigo Testamento, a escravidão era uma parte aceita da sociedade. A escravidão era uma forma de as pessoas pagarem dívidas ou serem punidas por crimes, ou de apreensão de prisioneiros de guerra. Pessoas pobres vendiam-se como escravas a si ou seus filhos ou ainda se podia nascer cativo. Os escravos eram considerados propriedade e podiam ser comprados e vendidos. No entanto, a Bíblia também contém leis que protegiam os escravos de maus-tratos. Por exemplo, no livro do Êxodo, prescreve que os escravos devem ser tratados com bondade e respeito, bemo os regulamentos de servidão em Lv 25:25 e 25:39, além da libertação no Ano do Jubileu (Lv 25:40).
Há ocasiões de redenção de servos, como o servo de Abraão, Eliezer, em Gênesis 24:1–66, e a jovem israelita que serviu à esposa de Naamã em 2 Reis 5:2–3.
As principais passagens relacionadas são:
- Legislação: Êx 20:17; 21:2–11, 16, 20, 26; Dt 24:7.
- Venda dos próprios filhos: Êx 21:7 diz que um pai israelita poderia vender sua filha como escrava. O filho de uma viúva poderia ser vendido como tal para pagar a dívida de seu pai (2 Re 4:1).
- Vender-se como escravos: tanto homens quanto mulheres podiam se vender como escravos (Lv 25:39, 47, Dt 15:12-17).
- Relatos arrativos Agar, a serva de Sara, em Gn 16:1–15; 21:8–21; 25:12; Gl 4:30.
- Parábolas, Mt 13:24–30; 18:23–35; 24:45–51; Marcos 13:34–36; Lucas 12:37–48.
- Poesia como em Sl 116:6; 123:2.
- Literatura profética condena os proprietários de escravos que ignoraram a regra do Jubileu e forçaram seus compatriotas a se tornarem escravos novamente (Jr 34:16).
- Literatura de sabedoria (Pv 22:7; 30:22).
Em sociedades escravocratas, ao menos pertencer à casa ou família notável implicava em transmitir algum status aos escravizados. Nesse sentido, há linguagem de escravidão com conotações positivas quando relaciona Israel como sujeito ao senhorio divino (Is 43:10), ou Moisés (Js 14:7), Davi (Sl 89:3; cf. 2 Sm 7: 5, 8) e Elias (2 Reis 10:10); chamados “servos (ou escravos) do Senhor”. Jesus e Paulo usam a figura de escravos com aspectos positivos. Por exemplo, Jesus retrata um verdadeiro seguidor como um servo ou escravo (Mc 10:42-44; Lc 17:7-10) e compara a escravidão ao discipulado (Mt 10:24-25).
Paulo instrui os escravos a obedecerem a seus senhores como obedeceriam a Cristo, mas também exorta os senhores a tratarem seus escravos com justiça e bondade. No livro de Filemom, Paulo escreve a um dono de escravos, exortando-o a libertar seu escravo Onésimo e tratá-lo como um irmão em Cristo.
BIBLIOGRAFIA
Alencar, Gedeon Freire. Filemom: Está Carta Deveria Ter Sido Escrita? Recriar, 2022.
Fitzmyer, J. A. The Letter to Philemon: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven: Yale University Press, 2000.
Harrill, J. Albert. Slaves in the New Testament: Literary, Social, and Moral Dimensions. Minneapolis: Fortress, 2006.
Hezser, C. Jewish Slavery in Antiquity. New York: Oxford University Press, 2006.