O cânon (ou cânone), lista de livros aceitos como inspirados da Bíblia se formou em um processo lento e gradual.
O termo “cânon” (do grego kanōn, que significa “vara de medir” ou “régua”) possui um significado fundamental na teologia cristã, referindo-se ao conjunto de livros que compõem a Bíblia, autoritativos para a fé e a prática cristã. A metáfora da “vara de medir” destaca o papel do cânon como um instrumento que define e delimita a fé cristã, estabelecendo um padrão para a doutrina e a vida da Igreja.
O termo “cânon” possui três acepções principais :
- Regra de Fé: O cânon representa a norma doutrinária que guia a fé cristã, em consonância com os ensinamentos dos livros bíblicos. Como afirma Gálatas 6:16, “paz e misericórdia sobre todos os que andarem conforme esta regra”. O cânon, nesse sentido, serve como um guia para a interpretação das Escrituras e para a formulação da teologia cristã.
- Lista de Livros Inspirados e dotados de autoridade: O cânon também se refere à lista de livros reconhecidos como inspirados por Deus para servir de inspiração no culto, fonte e norma para a fé e a prática cristã, transmitindo a revelação divina e guiando os crentes na busca pela sabedoria e pela vida eterna.
- Conteúdo Textual Legítimo: O cânon abrange o conteúdo textual dos livros canônicos, reconhecido como autêntico e confiável. Isso implica que o texto bíblico, tal como transmitido através dos manuscritos seja considerado como autêntica expressão da revelação divina.
Formação do Cânon
A formação do cânon bíblico foi um processo gradual e complexo que se estendeu por séculos. A Igreja primitiva reconheceu a autoridade dos livros do Antigo Testamento, que já eram considerados sagrados pelo povo judeu. Com o surgimento do cristianismo, os escritos apostólicos, como os evangelhos e as cartas, também foram sendo reconhecidos como inspirados e incorporados ao cânon.
A canonicidade dos livros foi reconhecida por um processo emergente de diversos fatores. Entre eles, estão a apostolicidade (autoria ou coerência com o ensino apostólico), a ortodoxia (conformidade com a doutrina cristã), a antiguidade (reconhecimento e uso pelas primeiras comunidades cristãs), amplitude de uso. A inspiração (reconhecimento da ação do Espírito Santo na produção do texto) não é em si um critério, mas a consequência da canonicidade.
Não houve uma assembleia ou uma única pessoa que determinaram em um único evento quais livros fariam parte da Bíblia, mas o cânon formou por um longo período pelo consenso e uso tanto no culto quanto na fundamentação da doutrina.
Para compreender esse processo, é necessário em mente que Bíblia não nasceu como um único volume de livro, mas como uma biblioteca. Adicionalmente, o processo da formação do cânon se mistura com a história dos israelitas e do cristianismo, além da história do mundo no qual a Bíblia se desenvolveu. Ainda assim, a narrativa sagrada, escrita provavelmente em óstraco (cacos de barro) e papiro, manteve a identidade do povo israelita firmada na crença em um pacto entre eles e Deus.
BIBLIOGRAFIA
Bokedal, Tomas. The Formation and Significance of the Christian Biblical Canon : A Study in Text, Ritual and Interpretation. Bloomsbury, 2014.
Brenneman, James E. Canons in Conflict : Negotiating Texts in True and False Prophecy. Oxford University Press, 1997.
Chapman, Stephen B. “The Canon Debate: What It Is and Why It Matters.” Journal of Theological Interpretation, vol. 4, no. 2, 2010, pp. 273-94.Fontes e conteúdo relacionado
Evans, Craig A.; Tov, Emanuel. Exploring the Origins of the Bible : Canon Formation in Historical, Literary and Theological Perspective. Baker Academic, 2008.
Gallagher, Edmon L., and John D. Meade. The biblical canon lists from early Christianity: Texts and analysis. Oxford University Press, 2017.
Kruger, Michael J. The Question of Canon: Challenging the Status Quo in the New Testament Debate. InterVarsity Press, 2013.
Hovhanessian, Vahan S. The Canon of the Bible and the Apocrypha in the Churches of the East. Peter Lang, 2012
Metzger, Bruce M. The Canon of the New Testament : Its Origin, Development, and Significance. Clarendon Press, 1987, pp. x, 326.
McDonald, Lee Martin; Sanders, James A. The Canon Debate. Peabody: Hendrickson Publishers, 2002.
McDonald, Lee M. 2007. The Biblical Canon : Its Origin, Transmission, and Authority. [Updated & rev. 3rd ed.]. Peabody, Mass: Hendrickson Publishers.
Nel, Marius. “Pentecostal Canon of the Bible?”, Journal of Pentecostal Theology 29, 1 (2020): 1-15, doi: https://doi.org/10.1163/17455251-02901001
Thomassen, Einar, ed. Canon and Canonicity: the formation and use of scripture. Museum Tusculanum Press, 2010.

Uma consideração sobre “Cânone”