Legalismo

O legalismo é compreendido como a imposição de regras e tradições humanas como se fossem mandamentos divinos (Mateus 15:9). Essa prática se contrapõe à graça e à liberdade de consciência promovidas pelo Evangelho (Romanos 7; Romanos 14; Colossenses 2).

Jesus, por sua vez, criticava a ênfase excessiva em rituais e tradições que não promoviam a compaixão e o amor ao próximo (Mateus 23:23), pilares da fé para Jesus (Mateus 22:37-40).

O apóstolo Paulo, em suas cartas, aborda a questão do legalismo, especialmente no contexto da relação entre judeus e gentios convertidos. Paulo argumenta que a justificação vem pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei (Gálatas 2:16). Essa perspectiva não nega a importância da lei como guia moral, mas enfatiza que a salvação é um dom gratuito de Deus, acessível a todos que creem.

Adicionalmente, a análise tradicional do farisaísmo como um exemplo de legalismo exacerbado tem sido revista por novas perspectivas. Estudos recentes questionam a visão estereotipada dos fariseus como hipócritas e legalistas, argumentando que sua preocupação com a pureza e a observância da lei era, em grande parte, uma busca por justiça social e inclusão.

A graça divina e o legalismo representam caminhos opostos na busca pela paz com Deus. Enquanto a graça se revela como um presente imerecido, oferecido por Deus àqueles que creem em Cristo, o legalismo se configura como uma tentativa de alcançar a salvação por meio do esforço humano e da obediência às normas comportamentais ou adesão às fórmulas proposicionais de crenças. O legalismo, portanto, é um engano que desvia o indivíduo da fé genuína e da dependência da graça, iludindo-o com a falsa ideia de que suas obras podem garantir a aceitação divina. Essa autossuficiência, no entanto, é ilusória, pois a Bíblia ensina que a salvação é um ato exclusivo da graça de Deus, acessível somente através da fé em Jesus Cristo.

O legalismo se manifesta na ênfase em regras e normas específicas que vão além dos princípios bíblicos gerais, muitas vezes impondo padrões de comportamento e práticas que são tratados como obrigatórios para os membros de comunidades religiosas, como por exemplo, através da criação de tradições que se sobrepõem aos princípios divinos e obscurecem a centralidade do amor e da graça. Em grupos autoritários e legalistas ocorre a vedação arbitrária contra expressões culturais ou pessoais, como vestimentas, estilos de cortes e penteados de cabelos, adornos corporais como tatuagens e piercings. Também nesses surge uma atmosfera de pressão e julgamento, desviando o foco da graça e do amor que são centrais no Evangelho. Em grupos sectários, o legalismo tende a coincidir com a centralização do poder nas mãos de poucos líderes e a proibição de questionamentos ou interpretações alternativas. O legalismo, seja ele de natureza ritual ou moral, desvia o foco da fé genuína e da experiência transformadora do encontro com Deus, resultando em consequências negativas como a culpa, o medo, a ansiedade e a alienação.

Em contraste com o legalismo, a essência do Evangelho se baseia no relacionamento pessoal com Deus e na prática do amor ao próximo. A Bíblia adverte contra a criação de tradições que se sobrepõem aos princípios divinos e obscurecem a centralidade do amor e da graça. O legalismo, seja ele de natureza ritual ou moral, desvia o foco da fé genuína e da experiência transformadora do encontro com Deus.

BIBLIOGRAFIA

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