Método de Leitura da Bíblia

O Método de Leitura da Bíblia representa uma abordagem distinta para interpretar e sintetizar dados bíblicos, empregada principalmente por evangélicos vitorianos, pelo movimento de Santidade, pelos pentecostais e por grupos cristãos independentes ao redor do mundo.

O MÉTODO

Enraizado em habilidades de raciocínio indutivo e dedutivo, o Método de Leitura da Bíblia busca extrair significado do texto bíblico por meio de um exame sistemático de ocorrências de palavras, frases ou tópicos específicos de uma concordância bíblica.

Esse método era uma forma evoluída do sistema de “texto-prova”. Tal leitura consistia em rastrear e compilar meticulosamente todas as ocorrências de uma palavra específica na Bíblia. O processo envolvia tanto o raciocínio indutivo, pelo qual o leitor rastreava a palavra em um livro específico, testamento ou em todo o cânon das Escrituras, quanto o raciocínio dedutivo e o bom senso para tirar conclusões abrangentes a partir das evidências bíblicas acumuladas.

O objetivo central do Método de Leitura da Bíblia é a síntese dos dados em um enunciado doutrinário, oferecendo uma compreensão abrangente e bíblica do assunto ou tema sob investigação. A harmonização, o processo de reconciliação de aparentes discrepâncias dentro do texto bíblico, desempenhava um papel crucial na obtenção de coerência doutrinária. Ainda hoje, a harmonização continua sendo um componente necessário para os cristãos que buscam uma teologia bíblica e sistemática canonicamente informada.

O esquema de leitura pentecostal adotou amplamente o Método de Leitura da Bíblia, refletindo uma abordagem sincrônica canônica pré-crítica. Esse método de leitura bíblica ganhou destaque entre as comunidades que valorizavam o envolvimento direto com as Escrituras, enfatizando a necessidade de coerência doutrinária derivada exclusivamente da Bíblia.

Em contraste com métodos históricos que incorporam fontes extrabíblicas para esclarecer pontos obscuros, valorizam as línguas originais e consideram o contexto histórico e a intenção do autor, o Método de Leitura da Bíblia adere estritamente à interpretação da Bíblia por si mesma. Parte do pressuposto de que as versões vernáculas são suficientemente confiáveis para a formulação de doutrinas, independentemente do conhecimento das línguas originais. A compreensão dos contextos históricos e culturais é considerada complementar e não essencial, pois o método prioriza referências e alusões internas para decifrar passagens desafiadoras.

De modo geral, o Método de Leitura da Bíblia pressupõe uma unidade teológica e a uniformidade dos significados das palavras, atribuindo autoridade normativa a cada versículo mesmo isoladamente, aceitando interpretações alegóricas em passagens desafiadoras e enfatizando a necessidade da iluminação do Espírito Santo para a interpretação, juntamente com a adesão a uma analogia de fé, muitas vezes de natureza cristológica.

A HISTÓRIA DO MÉTODO

O grande popularizador desse método foi D. L. Moody, que aprendeu o Método de Leitura Bíblica com seu colaborador Henry Moorhouse (1840-1880). O britânico Moorhouse, influenciado por Spurgeon e pelos Irmãos de Plymouth, valorizava uma leitura imediata (isto é, sem a mediação de comentaristas ou teólogos) da Bíblia. Assim, Moody adotou esse método, estimulando a memorização e uma leitura tópica com o auxílio de concordâncias.

A transição do Método de Leitura da Bíblia para o Estudo Bíblico Indutivo marcou uma mudança de uma abordagem principalmente dedutiva para uma metodologia indutiva mais sistemática e acadêmica. Robert Traina, um evangélico ítalo-americano versado em crítica bíblica e filosofias interpretativas, desempenhou um papel fundamental nessa evolução com sua obra Methodical Bible Study (1952). Esse livro popularizou o método indutivo, caracterizado pela ênfase em conclusões baseadas em evidências, em vez de premissas pressuposicionais.

O Estudo Bíblico Indutivo é fundamentado teoricamente por Traina, que descreve e argumenta a favor de uma leitura indutiva. Ao contrário do raciocínio dedutivo, que se baseia em pressupostos, o estudo indutivo começa com elementos observados no texto, promovendo uma abertura radical a qualquer conclusão apoiada por evidências bíblicas. Orienta os leitores através da observação, interpretação, aplicação e correlação, promovendo uma progressão lógica que protege contra interpretações precipitadas e aplicações desconexas.

Esse método incentiva os intérpretes a passar de pesquisas de livros inteiros para passagens individuais, promovendo o pensamento contextual e tornando as Escrituras acessíveis na língua nativa. A integração da aplicação e da correlação no processo hermenêutico garante que esses elementos cruciais não sejam deixados de lado, levando a uma abordagem holística que tem o potencial de transformar vidas por meio de um envolvimento profundo e ponderado com o texto bíblico.

BIBLIOGRAFIA

Archer, Kenneth. A Pentecostal Hermeneutic for the Twenty First Century: Spirit, Scripture and Community. Vol. 28. London: T&T Clark, 2004.

Bauer, David R., and Robert A. Traina. Inductive Bible Study: A Comprehensive Guide to the Practice of Hermeneutics. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.

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