Ocasionalismo

Ocasionalismo é uma doutrina metafísica que postula que Deus é a única causa verdadeira. Originado na teologia católica romana durante a era dos Padres da Igreja, ganhou destaque na filosofia medieval latina e islâmica no século X. A doutrina rejeita conexões causais genuínas no mundo sublunar, afirmando que as causas aparentes servem apenas como “ocasiões” para Deus agir.

Malebranche desenvolveu e refinou o ocasionalismo em resposta ao problema mente-corpo e às questões relativas à interação entre os aspectos materiais e imateriais da realidade. Este problema, notoriamente levantado por René Descartes, questionava como uma mente imaterial poderia interagir com um corpo material.

Central no ocasionalismo de Malebranche é a ideia de que todos os eventos, mesmo ocorrências aparentemente mundanas ou naturais, são o resultado da intervenção divina direta. Em vez de postular conexões causais entre entidades criadas, Malebranche sustentou que Deus é a causa imediata e única de tudo o que acontece no mundo.

Malebranche argumentou que os seres criados, sejam materiais ou imateriais, carecem de qualquer poder causal inerente. Segundo sua visão, as criaturas não têm a capacidade de causar eventos ou provocar mudanças no mundo de forma independente. Em vez disso, servem apenas como ocasiões para Deus exercer a Sua vontade onipotente.

Malebranche aplicou o ocasionalismo ao domínio da percepção sensorial. Ele afirmou que o mundo natural, incluindo o corpo humano, atua como um “véu de percepções”. Em outras palavras, nossas percepções do mundo externo não são causadas diretamente por objetos materiais, mas são ocasiões para Deus produzir percepções em nossas mentes. A rejeição de Malebranche dos poderes causais da criatura e a ênfase na intervenção divina contribuíram para as discussões filosóficas mais amplas sobre a causalidade, a realidade e a natureza de Deus.

As origens conceituais do ocasionalismo são anteriores à filosofia cartesiana e ao seu problema mente-corpo. Embora muitas vezes rejeitado como uma solução ad hoc, o ocasionalismo influenciou significativamente a filosofia ocidental, com raízes no pensamento agostiniano e contribuindo para o desenvolvimento da ciência moderna.

O ocasionalismo distingue-se de outros modelos metafísicos, nomeadamente do concurrentismo e do conservacionismo. O concorrenteismo, adotado por Tomás de Aquino, postula que tanto Deus quanto as causas finitas contribuem para os efeitos. O conservacionismo, uma crença amplamente difundida, sugere que a criação inicial de Deus permite que o mundo funcione de forma independente. O ocasionalismo, contudo, afirma que as criaturas finitas não contribuem metafisicamente em nada para os efeitos, servindo apenas como indicadores nominais ou ocasiões para o poder causal singular de Deus.

Na estrutura ocasionalista, uma “causa ocasional” é um fator indispensável que serve de ocasião para a causalidade divina. Um exemplo é o placebo, que, apesar de inerte, torna-se essencial para produzir o efeito placebo. Embora aparentemente paradoxal, o ocasionalismo desafia as noções tradicionais de causalidade, enfatizando o envolvimento contínuo de Deus nas operações regulares da natureza.

Apesar do ocasionalismo ter hoje poucos adeptos, o seu significado histórico estende-se para além da sua aparente rejeição. A influência da doutrina sobre figuras como David Hume e David Lewis nos séculos posteriores demonstra o seu impacto duradouro no discurso filosófico, particularmente no que diz respeito à causalidade, à criação divina e à natureza da realidade.

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