Igrejas autossustentáveis

A teoria missiológica das igrejas autossustentáveis, comumente conhecida como fórmula dos Três Autos ou Princípio dos Três Autos, é uma doutrina que defende o estabelecimento de igrejas indígenas caracterizadas por autogoverno, autossuporte e autopropagação. Prevê-se que estas igrejas sejam lideradas por líderes locais, financeiramente independentes e ativamente empenhadas na difusão da sua fé, tanto local como globalmente.

A teoria surgiu no século XIX como uma reação às preocupações relativas à natureza paternalista das atividades missionárias. Os missionários ocidentais, embora estabelecessem igrejas em terras estrangeiras, muitas vezes exerciam um controle autoritário sobre elas, resultando na dependência de recursos externos e liderança. Esta dependência dificultou o crescimento e a autonomia das congregações locais.

Antes de ser formulada teoricamente por missiólogos, foi na prática empregada nas missões de Hudson Taylor, Robert Reid Kalley, o movimento dos Irmãos, William Taylor, além de amplamente empregada pela primeira geração de missionários pentecostais como Louis Francescon, Fredrick Mebius, Willis Collins Hoover, Gunnar Vingren, dentre outros.

Os pincipais proponentes como teoria missiológica foram Henry Venn e Rufus Anderson. Venn foi Secretário Geral da Sociedade Missionária da Igreja, enfatizou o cultivo da liderança local e da independência financeira. Já Rufus Anderson, Secretário de Relações Exteriores do Conselho Americano de Comissários para Missões Estrangeiras, enfatizou a importância dos crentes locais assumirem o comando do evangelismo e da plantação de igrejas.

Fudamentando-se no sacerdócio universal dos crentes, esse paradigma missiológico possui várias vantagens. Ao promover a liderança e a responsabilidade locais, as igrejas autossustentáveis capacitam os cristãos locais, levando a um envolvimento e crescimento mais profundos dentro da comunidade. A independência financeira reduz a dependência de financiamento externo, garantindo estabilidade a longo prazo e adaptabilidade aos contextos locais. As igrejas autossuficientes estão melhor posicionadas para desenvolver expressões de fé que ressoem com as nuances culturais das suas comunidades específicas.

Algumas críticas e desafios existem para esse modelo missiológico. Alcançar a verdadeira autossuficiência pode ser um desafio, especialmente em contextos de recursos limitados, onde o apoio externo ainda pode ser necessário durante um determinado período. Também é desafiador balancear o respeito às práticas e valores culturais com as tradições eclesiológicas das denominações que enviam missionários. A ênfase excessiva na autossuficiência pode levar à falta de colaboração e de redes de apoio entre as igrejas, isolando-as potencialmente de movimentos e recursos mais amplos.

Um quarto “auto” apareceu com o trabalho do missiólogo e antropólogo Paul Hiebert. Trata-se da “autoteologização” ou a autonomia da reflexão teológica. Como cada cultura possuem categorias não traduzíveis para outros contextos, é importante que as igrejas locais desenvolvam uma familiaridade com as Escrituras, sejam elas próprias intérpretes confiantes. Assim, seriam as igrejas em cada nação seriam suficientemente autônomas para desenvolver suas próprias agendas teológicas em diálogos com as igrejas em contextos globais.

BIBLIOGRAFIA

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Bosch, David J. Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission. Orbis Books, 1991.

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Hiebert, Paul G. Transforming Worldviews: An Anthropological Understanding of How People Change. Baker Academic, 2008.

Taylor, J. Hudson. China’s Spiritual Need and Claims. Morgan and Scott, 1865.

Venn, Henry. Retrospect of the First Ten Years of the Church Missionary Society. Church Missionary House, 1851.

Walls, Andrew F. The Missionary Movement in Christian History: Studies in the Transmission of Faith. Orbis Books, 1996.

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