Adônis, em gregoΑδωνις, derivado de ’adōn, “senhor”, era uma divindade síria associada à vegetação, que murcha sob o calor intenso do verão. Conhecido como tammuzu ou dūzi em Acade, e tammuz em hebraico, era chamado de ’adōnī na Síria e Fenícia, origem de seu nome grego, Adônis.
No contexto babilônico, Adônis é identificado com Tammuz (ou o sumério Dumuzi), jovem pastor e esposo da deusa Ishtar. Segundo os poemas babilônicos, ele morre tragicamente na juventude, e Ishtar desce ao submundo para trazê-lo de volta à vida. Cultuado em todo o Oriente Próximo, Egito e Grécia, Adônis era celebrado em um festival realizado entre junho e julho. Durante esse período, que simbolizava a morte da vegetação devido ao calor abrasador, acreditava-se que ele descia ao submundo. Sua esposa, a deusa Ishtar, também descia para reanimá-lo na primavera seguinte.
Esse mito centraliza a morte e o renascimento associados às estações do ano, particularmente após a colheita, quando o espírito da vegetação parecia morto. A morte de Tammuz era celebrada em festivais realizados no início do quarto mês (correspondente a junho no calendário moderno), período que leva o nome do deus. O célebre poema O Descenso de Ishtar aos Infernos era recitado nessas ocasiões, simbolizando a descida ao mundo dos mortos e a esperança de renovação da vida.
Com o tempo, o culto a Tammuz passou de Babilônia para a Síria, onde foi associado às figuras de Astarte e Esmun (Adônis). Esse culto chegou à Grécia nos séculos VI e V a.C., transformando-se no mito de Adônis e Afrodite. No relato grego, Adônis, filho de Mirra, uma princesa transformada em árvore, era tão belo que foi disputado por Afrodite e Perséfone. Ele passava um terço do ano no submundo com Perséfone e o restante com Afrodite. Ferido mortalmente por um javali nas florestas do Líbano, Adônis morre desangrado, e de seu sangue nasce a anêmona, flor efêmera que simboliza a fragilidade da vida.
O culto de Adônis teve seu centro em Biblos, próximo à nascente de Afka (atualmente Nahr Ibrahim), onde se acreditava que ele havia morrido. Durante seus festivais, os “jardins de Adônis” eram cultivados: sementes de trigo e anêmonas eram plantadas em pequenos vasos, germinando rapidamente para logo murcharem, um emblema da brevidade da vida. Em Alexandria, as adonias duravam três dias, encerrando-se com alusões à vida celestial de Adônis, possivelmente influenciadas pelos mitos de Osíris.
No mundo greco-romano e em partes do Oriente Próximo, as celebrações tinham um caráter funerário.
Em Ezequiel 8:14, menciona-se mulheres israelitas chorando pelo deus Tammuz junto a um dos portões do Templo, indicando a presença de seu culto em Israel. Há também uma possível alusão ao seu culto em Isaías 17:10, onde a expressão “plantas agradáveis” ou “jardins de Na’aman” pode referir-se aos jardins de Adônis. Por fim, é possível que Zacarias 12 possa conter outra alusão ao luto das adonias.
Embora alguns autores cristãos, como Orígenes e Jerônimo, tenham relacionado o culto de Adônis à ideia de ressurreição.Essa associação provavelmente resultou da influência do mistério cristão, uma vez que o culto de Adônis, essencialmente campestre e naturalista, não atingiu o status de um mistério religioso. Tentativas de conectar o mito de Adônis com a morte e ressurreição de Cristo foram rejeitadas, destacando-se as diferenças teológicas e simbólicas entre ambos os contextos.
