A expressão abominação da desolação constitui um tema profético de relevância na Bíblia, com origem no livro de Daniel e retomado por Jesus nos Evangelhos. Este conceito tem sido amplamente debatido por estudiosos, sendo frequentemente associado tanto a eventos históricos quanto a expectativas escatológicas futuras.
No contexto bíblico, o termo aparece primeiramente no livro de Daniel, onde descreve um ato sacrílego que profana o templo judeu. Em Daniel 9:27, é mencionada a figura de um governante que estabelece uma aliança com muitos e, posteriormente, a rompe, culminando na instalação de uma “abominação que causa desolação” no templo. Em Daniel 11:31, forças adversárias profanam o santuário, suspendem os sacrifícios regulares e erguem a abominação. Já em Daniel 12:11, é reiterado o tema, indicando um período definido por este ato abominável. Esses textos são frequentemente relacionados ao reinado de Antíoco IV Epifânio, que, em 167 a.C., profanou o templo ao erigir um altar a Zeus e realizar sacrifícios de porcos, práticas vistas como extrema idolatria e blasfêmia contra Deus.
Nos Evangelhos, a “abominação da desolação” é mencionada por Jesus no discurso do Monte das Oliveiras. Em Mateus 24:15-16, Jesus adverte que, ao verem a “abominação da desolação” no lugar santo, os ouvintes deveriam fugir. Este aviso é frequentemente interpretado como uma referência à destruição de Jerusalém em 70 d.C. pelas forças romanas, um evento visto por muitos como cumprimento parcial da profecia de Daniel.
As interpretações acerca deste conceito dividem-se entre abordagens históricas e escatológicas. Na perspectiva histórica, a abominação é vista como cumprida nos eventos do período macabeu, com Antíoco IV, ou na destruição do templo em 70 d.C. Tais episódios marcaram momentos de profunda desolação e sofrimento para o povo judeu. Já na interpretação escatológica, sustenta-se que, embora tenha havido um cumprimento histórico, a profecia possui também um aspecto futuro.
Teologicamente, a “abominação da desolação” simboliza um desafio direto à autoridade e ao culto de Deus. Representa a corrupção espiritual e a idolatria que conduzem à desolação, entendida tanto como destruição física quanto como vazio espiritual. Este ato é interpretado como uma prova para os fiéis, desafiando sua lealdade a Deus em meio à perseguição e à tentação de conformar-se aos poderes terrenos. Assim, a “abominação da desolação” permanece um símbolo de alerta e reflexão na tradição cristã.

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