A imposição das mãos é um ato com múltiplos significados e aplicações através da Bíblia, com propósito de dedicação, bênção, transferência de autoridade e capacitação espiritual. O termo grego também significa ato de eleição mediante a indicação das mãos.
A prática está enraizada na tradição israelita, sendo mencionada em diversos textos do Antigo Testamento. Em Números 27:18-23, Moisés impõe as mãos sobre Josué, conferindo-lhe uma parcela de sua autoridade para liderar o povo de Israel. Esse ato também é observado na consagração de ofertas e na transferência simbólica de pecado ao bode expiatório em Levítico 16:21, em que os pecados da comunidade são colocados sobre o bode expiatório a ser liberado no deserto.
No Novo Testamento, a imposição das mãos adquire novos significados. A imposição das mãos é mencionada em contextos de bênção, como em Marcos 10:16, onde Jesus abençoa crianças. A imposição das mãos aparece em atos de cura, como em Lucas 4:40. Essa prática também está ligada à transmissão de dons espirituais, exemplificada em 1 Timóteo 4:14, onde Paulo menciona que o dom de Timóteo foi acompanhado pela imposição das mãos do presbitério.
A imposição das mãos aparece associada à indicação, bênção e capacitação ministerial. Em Atos 6:6, os apóstolos impõem as mãos sobre sete homens escolhidos para o serviço, delegando-lhes autoridade para funções específicas na comunidade cristã. De forma semelhante, em Atos 13:1-3, Paulo e Barnabé são separados para a missão através da imposição de mãos, acompanhada de jejum e oração, simbolizando o reconhecimento da igreja de Antioquia quanto à sua vocação divina.
Contudo, não é claro qual gesto consistia a imposição das mãos em contexto neotestamentário. Isso porque os termos gregos geralmente traduzidos como “imposição das mãos” possuem outros significados.
O termo grego χειροτονέω designa o ato de estender a mão, originalmente empregado em contextos de votação pública, onde a elevação da mão simbolizava a escolha em assembleias civis, como na ekklesia. Derivado das raízes χείρ (“mão”) e τείνω (“estender”), o verbo possui significado literal de “estender as mãos”, mas adquiriu conotações específicas de eleição e nomeação pela demonstração visível de votos. O termo pode ser traduzido como impor as mãos, indicar monstrando as mão, e — em sentidos derivados — eleger, ordenar.
No Novo Testamento, χειροτονέω aparece em Atos 14:23 e 2 Coríntios 8:19. Em Atos 14:23, o texto relata que Paulo e Barnabé “elegeram presbíteros em cada igreja” (χειροτονήσαντες αὐτοῖς πρεσβυτέρους κατ’ ἐκκλησίαν). Ou seja, Paulo e Barnabé organizaram a escolha dos presbíteros com a participação comunitária no processo. A expressão indica que os presbíteros foram escolhidos com base na decisão da assembleia cristã local, mediante o gesto de levantar as mãos, prática comum nas ekklesias, as assembleias civis gregas, para expressar voto.
A mesma prática pode ser percebida em Tito 1:5, onde Paulo instrui Tito a “eleger presbíteros em cada cidade” (καταστήσῃς κατὰ πόλιν πρεσβυτέρους). Essa nomeação de presbíteros refletem a prática comum de eleição pela comunidade cristã, seguindo o modelo cultural prevalente das cidades do mundo helenístico.

Uma consideração sobre “Imposição das mãos”