Alma

ALMA O conceito de “alma” na Bíblia Hebraica, expresso pelo termo néfesh, difere significativamente da noção platônica de uma entidade imaterial e imortal separada do corpo. Em vez disso, néfesh denota a própria vida, o princípio vital que anima o ser humano e o distingue dos seres inanimados. A “alma vivente” em Gênesis 2:7, por exemplo, não se refere a uma substância imaterial, mas sim ao ser humano como um todo, um organismo vivo e animado pelo sopro divino.

A néfesh abrange as dimensões física, psicológica e espiritual do ser humano, incluindo apetite, emoções, intelecto e vontade. Ela não é imortal por natureza, mas está sujeita à morte física, como expresso em diversos textos bíblicos (e.g., Ezequiel 18:4). A esperança de vida após a morte no Antigo Testamento está ligada à ressurreição do corpo, não à imortalidade inerente da alma.

No Novo Testamento, o termo grego psyché mantém uma relação complexa com o conceito hebraico de néfesh. Em alguns contextos, psyché se refere à vida física ou à pessoa como um todo, enquanto em outros, parece denotar uma dimensão interior que pode ser separada do corpo após a morte, como em Mateus 10:28. Essa aparente dualidade reflete a influência do pensamento grego sobre a cosmovisão judaica no período intertestamentário.

O debate entre dicotomistas e tricotomistas sobre a constituição do ser humano (corpo e alma versus corpo, alma e espírito) ilustra a complexidade do tema e a diversidade de interpretações. A Bíblia não apresenta uma teoria sistemática sobre a alma, mas utiliza a linguagem de forma dinâmica e contextualizada para expressar a totalidade da experiência humana.

A “alma” na Bíblia, portanto, não se encaixa perfeitamente nas categorias filosóficas modernas do mundo Ocidental. Ela representa a vida em sua plenitude, a unidade psicossomática que define o ser humano como criatura de Deus.  

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