Emanuel, que significa “Deus conosco” (do hebraico עמנואל, Immanu’El), é um nome teofórico associado a Jesus em Mateus 1:23, onde o evangelista cita Isaías 7:14 para afirmar que o nascimento virginal de Jesus cumpre a profecia do Antigo Testamento: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.
Essa interpretação é alvo de debates. Apesar de o contexto original de Isaías 7:14 se refere a um evento contemporâneo ao profeta, foi aplicado ao acontecimento futuro como o nascimento de Jesus em uma estratégica interpretativa chamada pesher. Outra questão é que o nome Emanuel não aparece para se referir a Jesus em nenhum outro lugar do Novo Testamento.
A menção desse título logo no início de Mateus reflete uma unidade temática em um fio condutor literário presente nesse evangelho: de que Deus estaria presente.
Vale apontar as alternativas de interpretação sobre essas duas passagens:
| Interpretação | Descrição | Suporte Bíblico |
|---|---|---|
| Predição Direta de Maria e Jesus | Isaías 7:14 prediz diretamente o nascimento virginal de Jesus, filho de Maria. | Mateus 1:23 |
| Interpretação Coletiva | A profecia refere-se a jovens em geral na época de Isaías, significando a presença de Deus com a comunidade. | Isaías 7:14, 8:8 |
| Filho de Isaías | “Emanuel” refere-se a um dos filhos do próprio Isaías, que serviu como um sinal e portento. | Isaías 7:14, 8:18 |
| Interpretação Real | A profecia refere-se ao rei Ezequias, sucessor de Acaz, como cumprimento da promessa de Deus a Davi. | Isaías 7:14, 9:2-7, 2 Reis 18:7 |
| Interpretação Tipológica | Mateus 1:23 usa Isaías 7:14 tipologicamente, traçando uma analogia entre o Emanuel de Isaías e Jesus como “nosso Emanuel”. | Mateus 1:23 |
História da Recepção
Inácio de Antioquia (século II), afirmaram a interpretação de Mateus, vendo no nascimento virginal de Jesus o cumprimento da profecia de Isaías. Essa compreensão é ecoada em escritos como a “Epístola de Inácio aos Efésios” e a “Epístola de Inácio aos Antioquianos”. Escritores posteriores, como Cipriano de Cartago (século III) em seu “Tratado XII”, reforçaram essa visão, citando Mateus 1:23 como prova da divindade de Cristo.
A aplicação de Isaías 7:14 a Jesus em Mateus 1:23 foi fundamental para o desenvolvimento da doutrina da Encarnação. Irineu de Lyon (século II) em “Contra as Heresias” e Orígenes (século III) em “Contra Celso”, viram nesse versículo a confirmação da união entre a divindade e a humanidade em Cristo. Essa interpretação combatia heresias que negavam a plena divindade ou humanidade de Cristo.
O significado de Emanuel, “Deus conosco”, foi central na compreensão da presença de Deus entre a humanidade. Escritores como Lactâncio (século IV) em “Epítome dos Institutos Divinos” e Tertuliano (século III) em obras como “Contra Praxeas”, “Uma Resposta aos Judeus” e “Sobre a Carne de Cristo”, enfatizaram a importância de “Deus conosco” para a salvação.
Tertuliano, em “Sobre a Ressurreição da Carne”, discutiu o uso de Isaías 7:14 por Mateus, questionando se a interpretação deveria ser literal ou tipológica. Essa discussão reflete um debate mais amplo sobre a relação entre o Antigo e o Novo Testamento.
