Cristologia

A cristologia é um ramo da teologia sistemática que se concentra no estudo de Jesus Cristo, examinando especificamente Sua natureza, personalidade e obra. Procura compreender a identidade e o significado de Jesus na fé cristã.

A cristologia explora a pessoa e a obra de Jesus Cristo, considerando Suas naturezas divina e humana, Seu papel na salvação, Seu relacionamento com Deus Pai e Seu impacto na humanidade. Examina as dimensões histórica, bíblica e teológica da existência e missão de Cristo.

O estudo da cristologia emprega vários métodos e abordagens. Envolve exegese bíblica, examinando as passagens do Antigo e do Novo Testamento que revelam a identidade e os ensinamentos de Cristo. Também se dedica à análise histórica, estudando o desenvolvimento das doutrinas cristológicas e a compreensão cristã primitiva de Jesus. Além disso, utiliza o raciocínio filosófico para explorar as implicações e a coerência de várias perspectivas cristológicas.

Tópicos principais:

  • Encarnação: A cristologia explora a doutrina da encarnação, que afirma que Jesus Cristo é totalmente Deus e totalmente humano. Investiga como o eterno Filho de Deus assumiu a carne humana, habitando entre a humanidade para realizar a salvação.
  • Pessoa e Naturezas de Cristo: Este tópico investiga a personalidade de Jesus e a relação entre Suas naturezas divina e humana. Examina a união hipostática, afirmando que em Jesus há uma só pessoa com duas naturezas distintas, divina e humana.
  • Títulos e Nomes de Cristo: A cristologia considera os vários títulos e nomes atribuídos a Jesus na Bíblia, como Messias, Filho de Deus, Filho do Homem e Salvador. Ele explora o significado e as implicações dessas designações para entender Sua identidade e papel.
  • Expiação: O estudo da obra de expiação de Cristo examina Sua incarnação, ministério, morte sacrificial na cruz, ressurreição e ascenção, tendo em vista seu significado para o perdão dos pecados e a reconciliação entre Deus e a humanidade. Explora diferentes teorias de expiação, como expiação substitutiva, Christus Victor e influência moral.
  • Ressurreição e Exaltação: investiga a ressurreição de Jesus e sua subsequente exaltação à direita de Deus. Explora as implicações da ressurreição de Cristo para a esperança da vida eterna e Seu papel contínuo como mediador e advogado dos crentes.
  • Segunda Vinda: O estudo da cristologia inclui a expectativa futura da segunda vinda de Cristo. Explora o significado escatológico do retorno de Cristo, o julgamento final e o estabelecimento de Seu reino eterno.

Cordeiro

Cordeiro, כֶּ֫בֶשׂ em hebraico para um ovino macho, o filhote da ovelha, embora outras palavras também apareçam na Bíblia Hebraica. Exceto em Apocalipse onde predomina ἀρνίον, cordeirinho, a principal palavra grega bíblica é ἀμνός.

Os cordeiros são proeminentes na literatura, arte e práticas de sacrifício do antigo Oriente Próximo. Simbolizavam inocência e vulnerabilidade, bem como o reino ideal.

No Antigo Testamento, os cordeiros aparecem em contextos de sacrifício, especialmente durante a Páscoa. Era a oferta todas as manhãs e todas as tardes no sistema sacrificial mosaico (Êxodo 29:38-42), além de dias especiais como o primeiro dia do novo mês (Nm 28:11), cada dia da Festa da Páscoa (Nm 28:16-19), na Festa de Pentecostes (Nm 28 :26), a Festa das Trombetas (Nm 29:1, 2), o Grande Dia da Expiação (Nm 29:7, 8) e a Festa dos Tabernáculos (Nm 29:12-16). Sacrifícios com ofertas pessoais também usavam o cordeiro, como na purificação de uma mulher após o parto (Lv 12:6) e de um leproso após a cura (Lv 14:10-18).

Os profetas retratam a compaixão de Deus sob a figura do pastor e do cordeiro (Is 40:11), tal como no Salmo 23. O cordeiro simbollizou o sofrimento do povo de Deus e o servo sofredor (Is 53:7; Atos 8:32).

O evangelho de João registra João Batista chamando Jesus de “o Cordeiro de Deus” em João 1:29. Enquanto que o animal usado nos rituais do Dia da Expiação para purificar o Santuário e o povo não era um cordeiro, mas uma cabra, João alude ao Cordeiro Pascal. Um cordeiro era morto e comido na refeição da Páscoa, reminisciente da renovação da aliança do povo com Deus à saída de exílio subsequente aos pecados de Israel.

Similar imagens do Cordeiro sacrificado aparecem em 1 Pedro 1:19 e Apocalipse 5:6-13; 13:8. Essa imagem de vitória pelo sacrifício (1 Coríntios 5:7; livro de Hebreus) é análogo ao cordeiro pascal morto, cujo sangue marcou as ombreiras de Israel para espantar (efeito apotropaico) o destruidor que matou os primogênitos do Egito. Em uma paradoxal vitória humilde, no Novo Testamento o sacrifício de Cristo aparece não como derrota, mas como vencedor sobre o poder do pecado, o mal e da morte.

A figura do cordeiro também foi aplicada aos discípulos de Jesus. Setenta discípulos foram enviados como “cordeiros no meio de lobos” (Lucas 10:3). Da mesma forma, o Cristo ressurreto encarregou o apóstolo Pedro de alimentar Seus cordeiros (João 21).

Adopcianismo

Adopcianismo ou adocionismo espanhol foi uma controvérsia cristológica nos séculos VIII-IX na Península Ibérica.

No século VIII na Espanha, aparentemente de modo independente da antiga heresia adocionista, o arcebispo de Toledo Elipando e o bispo Felix de Urgell levantaram a questão da dupla natureza Deus-Homem. Argumentavam que somente por sua natureza divina de Cristo o verdadeiro Deus, mas em sua natureza humana seria adotado por Deus. A essa natureza humana faltava atributos divinos, especialmente a onisciência, similar aos ensinamentos dos agnoitas.

Em 792, Félix foi intimado para um sínodo em Regensburg, renunciou ao seu ensino, etiquetado como heresia nestoriana. Confirmou a sua renúncia em Roma perante o Papa Adriano. Mas voltando a Urgel, Felix voltou aos seus antigos pontos de vista. A controvérsia seguiu até que Félix abdicou ao seu bispando, vivendo em Lyon até sua morte em 818. A posição foi condenada por um sínodo de Frankfurt em 794.

Além da questão cristológica, havia tensões sobre o status das igrejas espanholas desde a conversão do rei ariano Recaredo ao catolicismo em 589. Havia resistência do clero espanhol em submeter-se à autoridade carolíngia e papal.

BIBLIOGRAFIA

Cavadini, John C. The Last Christology of the West. Adoptionism in Spain and Gaul, 785-820. Philadelphia, 1993.

Freedman, Paul “L’influence wisigothique sur l’eglise catalane,” in L’Europe héretière de l’Espagne wisigothique (Coll. dela casa de Velázquez, vol. 35), ed. Jacques Fontaine et al. Madrid, 1992, 69-79, 75f.

Firey, Abigail “Carolingian Ecclesiology and Heresy. A Southern Gallic Juridical TractAgainst Adoptionism” Sacris Erudiri 39 (2000): 253-316.

William Wrede

William Wrede (1859–1906) foi um teólogo e biblista luterano alemão, que realizou contribuições à crítica bíblica e aos estudos do Novo Testamento.

Wrede foi educado nas universidades de Göttingen, Leipzig e Jena. Tornou-se professor de teologia em Breslau em 1890. Em sua obra “O Segredo Messiânico nos Evangelhos” (1901), analisou o Evangelho relatos de Jesus e argumentou que o conceito de Jesus como o Messias foi um desenvolvimento posterior na teologia cristã.

Em “O Segredo Messiânico”, Wrede propôs que os escritores do Evangelho intencionalmente retrataram Jesus mantendo sua verdadeira identidade como o Messias escondido de seus seguidores até depois de sua morte e ressurreição. Ele argumentou que esse era um artifício literário usado para explicar por que Jesus não foi reconhecido como o Messias durante sua vida e para apoiar a ideia de que sua identidade só foi revelada após sua ressurreição.

O trabalho de Wrede foi inovador em sua abordagem para entender o Jesus histórico e seu papel no cristianismo primitivo, e seu conceito de “segredo messiânico” tornou-se um tópico significativo de debate nos estudos do Novo Testamento.

Além de suas contribuições à crítica bíblica, Wrede também escreveu sobre tópicos como a história do cristianismo primitivo e o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento. Ele era um membro proeminente da “Escola de História das Religiões”, um grupo de estudiosos que buscava entender o Cristianismo como um produto de seu contexto histórico e cultural.

Munus Triplex

Munus Triplex ou os três ofícios de Cristo é um conceito teológico que ensina que Cristo cumpre três ofícios como Salvador: Profeta, Sacerdote e Rei.

Cristo é o Profeta que ensina e revela a verdade de Deus; o Sacerdote que se oferece em sacrifício pela remissão dos pecados; e o Rei que reina sobre toda a criação.

A doutrina tem raízes na Idade Média e tornou-se padrão na Reforma Protestante. Foi abraçado por várias tradições teológicas, incluindo reformada, luterana e anglicana. Foi um conceito estruturante na teologia de Karl Barth.

As referências bíblicas para a doutrina Munus Triplex podem ser encontradas em todo o Antigo e Novo Testamento, como:

  • Profeta: Deuteronômio 18:15; Mateus 13:57; João 6:14; Hebreus 1:1-2
  • Sacerdote: Salmo 110:4; Hebreus 4:14-16; 9:11-14
  • Rei: Salmo 2:6; Mateus 28:18; Colossenses 1:15-20

Theios aner

Em grego theios aner significa homem divino. O termo aparece na filosofia grega referente a uma pessoa relacionada aos deuses e capaz e de realizar milagres e atos sobrenaturais.

BIBLIOGRAFIA

Holladay, Carl. Theios Aner in Hellenistic Judaism: A Critique of the Use of This Category in New Testament Christology. Missoula: Scholars, 1977.
Kingsbury, J. D. “The ‘Divine Man’ as the Key to Mark’s Christology: The End of an Era?” Interpretation 35 (1981): 243-57.
Blackburn, B. Theios Aner and the Markan Miracle Traditions: A Critique of the Theios Anēr Concept as an Interpretative Background of the Miracle Traditions Used by Mark. Tübingen: Mohr, 1991.
Tiede, David L. The Charismatic Figure as Miracle Worker. Missoula: SBL, 1972.
Liefield, Walter L. “The Hellenistic ‘Divine Man’ and the Figure of Jesus in the Gospels.” Journal of the Evangelical Theological Society.

Finitum est capax infiniti

A expressão latina “o finito portando a capacidade de conter o infinito” na teologia luterana resume a divindade e humanidade de Cristo na encarnação do Logos. Na união hipostática não significa que o finito tenha algum tipo de capacidade inerente de conter o infinito, mas sim que o Deus infinito foi capaz de se comunicar com o finito. Na encarnação houve a plenitude divina comunicando os atributos divinos (communicatio idiomatum) (Cl 2:9).

De modo contrário, o sistema teológico reformado declarou que “o finito não é capaz do infinito” (Finitum non est capax infiniti) negando a comunhão das naturezas divina e humana em Cristo. Com base na ontologia aristotélica, o sistema reformado sustenta que o corpo de Jesus deve ser “finito” para ser um verdadeiro corpo humano. Seria, portanto, incapaz de realmente possuir qualquer um dos infinitos atributos de Deus.

A fórmula latina originou-se nos debates luteranos-reformados sobre a Ceia do Senhor e depois sobre a cristologia. Em vários escritos Huldreich Zwingli (1484-1531) e Johannes Oecolampadius (1482-1531) acusavam Lutero de transferir qualidades divinas para a humanidade de Jesus para que Cristo pudesse ser em todos os lugares, incluindo a Ceia do Senhor. Para os reformados, a natureza humana de Cristo permanecia nos céus enquanto sua natureza divina seria onipresente. Em contrapartida, os luteranos insistiam que essa separação não ocorria, sendo a completa pessoa de Jesus Cristo ubíqua, inclusive nos sacramentos “na, dentro e sob” aspectos do pão e do cálice.

Para Lutero o Espírito Santo, a Palavra e a fé determinam se um objeto ou ação é espiritual ou não, não o objeto ou ação em si. Assim, na Ceia do Senhor pelo Espírito, pela Palavra e pela fé o corpo de Cristo seria espiritualmente recebido. Não ocorre a transubstanciação –a mudança em substância do pão e do vinho na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo — mas o exercício da fé. Assim, o pão e o vinha não devem ser adorados.

As implicações da visão luterana de que o finito é um veículo do divino claramente moldaram a atitude em relação às artes e à liturgia. O medo de incorrer em idolatria foi superado pela convicção de que o mundo material poderia ser usado para expressar uma mensagem espiritual dos atos salvíticos. A estética, a arquitetura, a música luteranas refletem isso, especialmente em J. S. Bach e no barroco enquanto em nações reformadas na mesma época adotou-se uma austeridade estética e a vedação de se cantar hinos.

Outra consequência, a união mística com Jesus Cristo mediante a fé foi salientada por Johann Ardt, os pietistas e os morávios. Um efeito disso na comunhão dos cristãos é que ao exigir a fé como elemento para participação da Santa Ceia, abriu-se a mesa a todos que confessavam a Jesus Cristo, sem adicional adesão a proposições teológicas. Os metodistas também foram influenciados por essa concepção. Wesley escreveu no 18o Artigo de Religião “O corpo de Cristo é dado, recebido e comido na ceia, somente de modo espiritual. O meio pelo qual é recebido e comido o corpo de Cristo, na ceia, é a fé.”

Dimensões éticas, existenciais e mesmo ecólogias ramificam desse conceito. Por exemplo, Kierkegaard ponderava:

A Verdade Eterna passou a existir no Tempo; que Deus veio à existência, nasceu, cresceu, veio à existência exatamente como um ser humano individual, indistinguível de qualquer outro ser humano. Concluindo o pós-escrito não científico.

Kierkegaard

No pentecostalismo a capacidade de os corpos humanos tornarem-se templos para a morada do Espírito Santo, recebendo uma efusão do Espírito, é arguida nos termos de que o “finito é capaz do infinito”. Revestidos de poder, o crentes tornam-se recipientes da graça. Nas Mensagens publicadas por W. H. Durham, há esse tema. “Assim glorificai a Mim em vossos corpos mortais, nos quais, depois que Meu Espírito neles entrou, não são mais vossos, mas Me pertencem”. O batismo no Espírito Santo passa ser a realização (atualidade) da presença de Cristo (potência), como na Santa Ceia.

BIBLIOGRAFIA

Cross, Terry. “Finitum Capax Infiniti,” palestra dada na reunião da Society for Pentecostal Studies, Duke University Divinity School. 15 de março de 2008.

Kierkegaard, Soren. Afsluttende uvidenskabelig Efterskrift til de philosophiske Smuler. — Mimisk-pathetisk-dialektisk Sammenskrift, Existentielt Indlœg, af Johannes Climacus. Udgiven af S. Kierkegaard. Copenhaguen: 1846.

Hendel, Kurt K. “Finitum Capax Infiniti: Luther’s radical incarnational Perspective.” Currents in Theology and Mission 35, n. 6 (2008): 420-33.

Macchia, Frank D. “Finitum Capax Infiniti: A Pentecostal Distinctive?” Pneuma: The Journal of the Society for Pentecostal Studies 29, n. 2 (2007): 185–87.

Kenosis

Kenosis ou Kenose é um conceito bíblico e teológico que se refere ao autoesvaziamento ou auto-renúncia de Cristo. Derivado da palavra grega para “esvaziar”, kenosis significa Jesus renunciando voluntariamente a seus atributos divinos para assumir a forma humana.

Esse conceito de esvaziamento destaca a humildade, o amor sacrificial e a identificação de Jesus com a humanidade, servindo como base para a compreensão da obra redentora de Cristo e o chamado para que os crentes imitem seu exemplo altruísta.

As bases bíblicas são principalmente duas. A primeira é Filipenses 2:5-8, que relata o auto-esvaziamento voluntário de Cristo e assumindo a forma de servo, enfatizando sua humildade e obediência até a morte na cruz. A segunda é 2 Coríntios 8:9, onde fala da pobreza de Cristo, destacando sua disposição de desistir de suas riquezas divinas e tornar-se pobre para que outros possam ser enriquecidos.