Extra Calvinisticum

Extra Calvinisticum é a doutrina de que o Filho eterno mantém sua existência etiam extra carnem (também além da carne) durante seu ministério terreno e perpetuamente.

Embora associada a João Calvino, aparece na literatura patrística, como na cristologia de Agostinho. A doutrina contrasta com a cristologia luterana de que Jesus Cristo é onipresente não só em sua natureza divina, mas também em sua natureza humana, por causa da comunicação de propriedades (communicatio idiomatum) entre essas duas naturezas.

Nestório

Nestório (c.386-c.451) foi um dos primeiros bispos de Constantinopla, entre 428 e 431, além de expoente de uma cristologia condenada pelas igrejas do mundo do Mediterrâneo

Nascido em uma família persa em Germanicia, Síria (hoje Maras, Turquia), teve um influência antioquena em sua formação. Ensinou uma doutrina que enfatizava a dualidade das naturezas de Cristo, levando à crença de que eram duas pessoas vagamente unidas, o que foi condenado como herético pelo concílio de Éfeso. Nestório foi exilado e passou seus últimos anos defendendo seus ensinamentos. Morreu em Panópolis, Egito.

Os ensinamentos de Nestório e sua controvérsia foram amplamente documentados na história da igreja. Suas opiniões sobre a natureza de Cristo e sua oposição ao título Theotokos (“Portadora de Deus”) levaram à sua condenação e exílio. Apesar de seus protestos e repúdio à heresia, o nome de Nestório tornou-se associado à controvérsia cristológica e à heresia do Nestorianismo. A Igreja do Oriente ou Assíria, incorretamente chamada de Igreja Nestoriana, continua a ter alta estima por Nestório e rejeita o título de Theotokos para a Maria.

Cristologia

A cristologia é um ramo da teologia sistemática que se concentra no estudo de Jesus Cristo, examinando especificamente Sua natureza, personalidade e obra. Procura compreender a identidade e o significado de Jesus na fé cristã.

A cristologia explora a pessoa e a obra de Jesus Cristo, considerando Suas naturezas divina e humana, Seu papel na salvação, Seu relacionamento com Deus Pai e Seu impacto na humanidade. Examina as dimensões histórica, bíblica e teológica da existência e missão de Cristo.

O estudo da cristologia emprega vários métodos e abordagens. Envolve exegese bíblica, examinando as passagens do Antigo e do Novo Testamento que revelam a identidade e os ensinamentos de Cristo. Também se dedica à análise histórica, estudando o desenvolvimento das doutrinas cristológicas e a compreensão cristã primitiva de Jesus. Além disso, utiliza o raciocínio filosófico para explorar as implicações e a coerência de várias perspectivas cristológicas.

Tópicos principais:

  • Encarnação: A cristologia explora a doutrina da encarnação, que afirma que Jesus Cristo é totalmente Deus e totalmente humano. Investiga como o eterno Filho de Deus assumiu a carne humana, habitando entre a humanidade para realizar a salvação.
  • Pessoa e Naturezas de Cristo: Este tópico investiga a personalidade de Jesus e a relação entre Suas naturezas divina e humana. Examina a união hipostática, afirmando que em Jesus há uma só pessoa com duas naturezas distintas, divina e humana.
  • Títulos e Nomes de Cristo: A cristologia considera os vários títulos e nomes atribuídos a Jesus na Bíblia, como Messias, Filho de Deus, Filho do Homem e Salvador. Ele explora o significado e as implicações dessas designações para entender Sua identidade e papel.
  • Expiação: O estudo da obra de expiação de Cristo examina Sua incarnação, ministério, morte sacrificial na cruz, ressurreição e ascenção, tendo em vista seu significado para o perdão dos pecados e a reconciliação entre Deus e a humanidade. Explora diferentes teorias de expiação, como expiação substitutiva, Christus Victor e influência moral.
  • Ressurreição e Exaltação: investiga a ressurreição de Jesus e sua subsequente exaltação à direita de Deus. Explora as implicações da ressurreição de Cristo para a esperança da vida eterna e Seu papel contínuo como mediador e advogado dos crentes.
  • Segunda Vinda: O estudo da cristologia inclui a expectativa futura da segunda vinda de Cristo. Explora o significado escatológico do retorno de Cristo, o julgamento final e o estabelecimento de Seu reino eterno.

Príncipe deste Mundo

Príncipe deste Mundo ou o Arcon deste Cosmos, em grego pode simplesmente se referir a autoridades políticas humanas, mas também tinha um significado especial acerca de entidades espirituais.

Este sentido de poder espiritual aparece nos últimos textos da Septuaginta, como em Dan 10:13.

O conceito de arcon ou arconte te pertence às perspectivas da Antiguidade Tardia. Muitos persas zoroastrianos, judeus enoquiano, pessoas helenizadas gnósticas acreditavam que o cosmos tinha sido escravizado — demonstrado pela morte — tanto por nosso pecado quanto pelo governo maligno dessas entidades espirituais que reinariam sobre a terra desde os céus e que mantêm espíritos escravizados abaixo da terra.

Esses arcontes teriam domínio sobre as nações – convencionalmente contados como as 70 nações sob os céus. Sejam caídos, amotinados ou meramente incompetentes, esses seres permanecem como um abismo de separação entre a humanidade e o Deus bom.

O cristianismo apresenta Cristo como conquistador e vitorioso sobre esses arcontes. (Ap 1:5)

Paulo se refere a eles como principados e potestades. Em Mateus 4:8, Lucas 4:6, João 12:31, 14:30 e 16:11, 1 João 5:19 mencionam os arcons no controle do mundo e dos demônios. O Evangelho de João chama esse ser de “o arconte deste mundo” a ser derrotado e julgaldo, retratando a morte de Jesus como uma missão principal nesta batalha cósmica (João 12:20-36).

BIBLIOGRAFIA

Heiser, Michael S. The unseen realm: Recovering the supernatural worldview of the bible. Lexham Press, 2015.

Walton, John H. Demons and Spirits in Biblical Theology: Reading the Biblical Text in Its Cultural and Literary Context. Wipf and Stock Publishers, 2019.

Cordeiro

Cordeiro, כֶּ֫בֶשׂ em hebraico para um ovino macho, o filhote da ovelha, embora outras palavras também apareçam na Bíblia Hebraica. Exceto em Apocalipse onde predomina ἀρνίον, cordeirinho, a principal palavra grega bíblica é ἀμνός.

Os cordeiros são proeminentes na literatura, arte e práticas de sacrifício do antigo Oriente Próximo. Simbolizavam inocência e vulnerabilidade, bem como o reino ideal.

No Antigo Testamento, os cordeiros aparecem em contextos de sacrifício, especialmente durante a Páscoa. Era a oferta todas as manhãs e todas as tardes no sistema sacrificial mosaico (Êxodo 29:38-42), além de dias especiais como o primeiro dia do novo mês (Nm 28:11), cada dia da Festa da Páscoa (Nm 28:16-19), na Festa de Pentecostes (Nm 28 :26), a Festa das Trombetas (Nm 29:1, 2), o Grande Dia da Expiação (Nm 29:7, 8) e a Festa dos Tabernáculos (Nm 29:12-16). Sacrifícios com ofertas pessoais também usavam o cordeiro, como na purificação de uma mulher após o parto (Lv 12:6) e de um leproso após a cura (Lv 14:10-18).

Os profetas retratam a compaixão de Deus sob a figura do pastor e do cordeiro (Is 40:11), tal como no Salmo 23. O cordeiro simbollizou o sofrimento do povo de Deus e o servo sofredor (Is 53:7; Atos 8:32).

O evangelho de João registra João Batista chamando Jesus de “o Cordeiro de Deus” em João 1:29. Enquanto que o animal usado nos rituais do Dia da Expiação para purificar o Santuário e o povo não era um cordeiro, mas uma cabra, João alude ao Cordeiro Pascal. Um cordeiro era morto e comido na refeição da Páscoa, reminisciente da renovação da aliança do povo com Deus à saída de exílio subsequente aos pecados de Israel.

Similar imagens do Cordeiro sacrificado aparecem em 1 Pedro 1:19 e Apocalipse 5:6-13; 13:8. Essa imagem de vitória pelo sacrifício (1 Coríntios 5:7; livro de Hebreus) é análogo ao cordeiro pascal morto, cujo sangue marcou as ombreiras de Israel para espantar (efeito apotropaico) o destruidor que matou os primogênitos do Egito. Em uma paradoxal vitória humilde, no Novo Testamento o sacrifício de Cristo aparece não como derrota, mas como vencedor sobre o poder do pecado, o mal e da morte.

A figura do cordeiro também foi aplicada aos discípulos de Jesus. Setenta discípulos foram enviados como “cordeiros no meio de lobos” (Lucas 10:3). Da mesma forma, o Cristo ressurreto encarregou o apóstolo Pedro de alimentar Seus cordeiros (João 21).

Adopcianismo

Adopcianismo ou adocionismo espanhol foi uma controvérsia cristológica nos séculos VIII-IX na Península Ibérica.

No século VIII na Espanha, aparentemente de modo independente da antiga heresia adocionista, o arcebispo de Toledo Elipando e o bispo Felix de Urgell levantaram a questão da dupla natureza Deus-Homem. Argumentavam que somente por sua natureza divina de Cristo o verdadeiro Deus, mas em sua natureza humana seria adotado por Deus. A essa natureza humana faltava atributos divinos, especialmente a onisciência, similar aos ensinamentos dos agnoitas.

Em 792, Félix foi intimado para um sínodo em Regensburg, renunciou ao seu ensino, etiquetado como heresia nestoriana. Confirmou a sua renúncia em Roma perante o Papa Adriano. Mas voltando a Urgel, Felix voltou aos seus antigos pontos de vista. A controvérsia seguiu até que Félix abdicou ao seu bispando, vivendo em Lyon até sua morte em 818. A posição foi condenada por um sínodo de Frankfurt em 794.

Além da questão cristológica, havia tensões sobre o status das igrejas espanholas desde a conversão do rei ariano Recaredo ao catolicismo em 589. Havia resistência do clero espanhol em submeter-se à autoridade carolíngia e papal.

BIBLIOGRAFIA

Cavadini, John C. The Last Christology of the West. Adoptionism in Spain and Gaul, 785-820. Philadelphia, 1993.

Freedman, Paul “L’influence wisigothique sur l’eglise catalane,” in L’Europe héretière de l’Espagne wisigothique (Coll. dela casa de Velázquez, vol. 35), ed. Jacques Fontaine et al. Madrid, 1992, 69-79, 75f.

Firey, Abigail “Carolingian Ecclesiology and Heresy. A Southern Gallic Juridical TractAgainst Adoptionism” Sacris Erudiri 39 (2000): 253-316.

William Wrede

William Wrede (1859–1906) foi um teólogo e biblista luterano alemão, enfocano nos estudos do Novo Testamento.

Wrede foi educado nas universidades de Göttingen, Leipzig e Jena. Tornou-se professor de teologia em Breslau em 1890. Em sua obra “O Segredo Messiânico nos Evangelhos” (1901), analisou o Evangelho relatos de Jesus e argumentou que o conceito de Jesus como o Messias foi um desenvolvimento posterior na teologia cristã.

Em “O Segredo Messiânico”, Wrede propôs que intencionalmente em Marcos Jesus é retratado mantendo sua verdadeira identidade como o Messias escondido de seus seguidores até depois de sua morte e ressurreição. Argumentou que esse era um artifício literário usado para explicar por que Jesus não foi reconhecido como o Messias durante sua vida e para apoiar a ideia de que sua identidade só foi revelada após sua ressurreição.

O trabalho de Wrede foi inovador em sua abordagem para entender o Jesus histórico e seu papel no cristianismo primitivo, e seu conceito de “segredo messiânico” tornou-se um tópico significativo de debate nos estudos do Novo Testamento.

Além de suas contribuições à crítica bíblica, Wrede também escreveu sobre tópicos como a história do cristianismo primitivo e o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento. Era um membro proeminente da “Escola de História das Religiões”, um grupo de estudiosos que buscava entender o Cristianismo como um produto de seu contexto histórico e cultural.

Munus Triplex

Munus Triplex ou os três ofícios de Cristo é um conceito teológico que ensina que Cristo cumpre três ofícios como Salvador: Profeta, Sacerdote e Rei.

Cristo é o Profeta que ensina e revela a verdade de Deus; o Sacerdote que se oferece em sacrifício pela remissão dos pecados; e o Rei que reina sobre toda a criação.

A doutrina tem raízes na Idade Média e tornou-se padrão na Reforma Protestante. Foi abraçado por várias tradições teológicas, incluindo reformada, luterana e anglicana. Foi um conceito estruturante na teologia de Karl Barth.

As referências bíblicas para a doutrina Munus Triplex podem ser encontradas em todo o Antigo e Novo Testamento, como:

  • Profeta: Deuteronômio 18:15; Mateus 13:57; João 6:14; Hebreus 1:1-2.
  • Sacerdote: Salmo 110:4; Hebreus 4:14-16; 9:11-14.
  • Rei: Salmo 2:6; Mateus 28:18; Colossenses 1:15-20.

Em Zacarias 6:12-13 há a expectativa de um rei justo que fundiria seu papel com o sacerdócio do templo.