Sensus fidei

Sensus fidei é um termo latino usado na teologia católica para se referir ao “sentido dos fiéis”.

Sensus fidei descreve a capacidade instintiva de toda a comunidade de crentes para discernir a verdade da doutrina cristã. O sensus fidei surge da orientação do Espírito Santo e da experiência de fé compartilhada pela comunidade. Os católicos acreditam que o sensus fidei é um aspecto essencial da autoridade docente da Igreja e serve como um controle sobre as decisões do magistério. A Igreja Católica acredita que o Espírito Santo orienta o sensus fidei dos fiéis para reconhecer a verdade da doutrina cristã, e não pode errar em matéria de crença. O sensus fidei também pode ser referido como o “consenso dos fiéis”, que enfatiza a natureza coletiva do processo de discernimento.

BIBLIOGRAFIA

Burkhard, John J. Burkhard, “Sensus Fidei: Theological Reflection since Vatican II: 1: 1965-1984,” Heythrop Journal 34 ( 1993).

Kerkhofs, Jan. “Le peuple de Dieu est-il infallible? L’Importance du sensu fidelium dan I’tgiise post-conciliaire,” Freiburger Zeitschrift flier Philosphie und Theologie 35 (1988): 3-19.

Tillard, J. M. R. Tillard, “Sensus Fidelium,”One in Christ 11 (1975): 2-29.

Munus Triplex

Munus Triplex ou os três ofícios de Cristo é um conceito teológico que ensina que Cristo cumpre três ofícios como Salvador: Profeta, Sacerdote e Rei.

Cristo é o Profeta que ensina e revela a verdade de Deus; o Sacerdote que se oferece em sacrifício pela remissão dos pecados; e o Rei que reina sobre toda a criação.

A doutrina tem raízes na Idade Média e tornou-se padrão na Reforma Protestante. Foi abraçado por várias tradições teológicas, incluindo reformada, luterana e anglicana. Foi um conceito estruturante na teologia de Karl Barth.

As referências bíblicas para a doutrina Munus Triplex podem ser encontradas em todo o Antigo e Novo Testamento, como:

  • Profeta: Deuteronômio 18:15; Mateus 13:57; João 6:14; Hebreus 1:1-2
  • Sacerdote: Salmo 110:4; Hebreus 4:14-16; 9:11-14
  • Rei: Salmo 2:6; Mateus 28:18; Colossenses 1:15-20

Sanctus Pagninus

Santes (Sacte, Sanctus ou Xantes) Pagnino ou em latim Xanthus Pagninus, também Sante Pagnini ou Santi Pagnini (1470–1536), foi um frade dominicano e biblista italiano, cuja versão latina da Bíblia foi altamente elogiada no século XVI.

Em 1516 foi para Roma, onde o Papa Leão X incentivou seu trabalho. De 1523 a 1526 viveu em Avignon, depois se estabeleceu em Lyon. Em 1529, Pagninus publicou um léxico hebraico, Thesaurus linguae sanctae. Publicou também um Psalterium tetraglottum, uma edição poliglota de 29 salmos. Publicou também um manual Enchiridion ChaldaicumHebraicae institutiones.

Pagninus começou sua tradução por volta do ano de 1493 e a completou antes de 1520, utilizando textos em hebraico e grego. Desde Jerônimo, foi o primeiro biblista a ter um domínio amplo tanto das principais línguas para os estudos bíblicos como também domínio da filologia aplicada à exegese bíblica. Sua Veteris et Novi Testamenti nova translatio, publicada em Lyon em 1527 influenciou grandemente as traduções da era da Reforma, quer em línguas vernáculas, quer na revisão da Vulgata. Trata-se de uma tradução altamente literal e destinada para uso de eruditos.

Foi a edição mais antiga dividida em versos numerados; mas o sistema aqui adotado nos apócrifos e no Novo Testamento . Os apócrifos, pela primeira vez em uma Bíblia latina impressa, formam uma seção separada no final do Antigo Testamento. Contudo, as versificações posteriores, especialmente as propagadas por Estienne e Clemente VII ganharam maior aceitação.

Norma normans, norma normata

Essa distinção na teologia luterana entre o caráter normativo das Escrituras e o das confissões elucida o papel da regra de fé.

A norma normans seria as regras primárias de fé (norma decisionis) que, na tradição protestante somente as Escrituras seriam objetos com essa capacidade. Já a norma normata seria a norma discricionária, expressa sobretudo nas confissões de fé. Enquanto essa última avalia a coerência de outras doutrinas, a primeira seria a medida avaliativa entre doutrinas verdadeiras ou falsas.

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Incurvatus in se

Incurvatus in se, em latim “virado ou curvado para dentro de si mesmo”) significa uma vida vivida “para dentro” para si mesmo, em vez de “para fora” para Deus e para os outros.

O conceito foi usado por Agostinho para referir-se à inclinação para o mal expressa por Paulo (Rm 7:15, 18-19), relacionado-o com a concupisciência. No sistema agostiniano, embora as pessoas foram justificadas em Cristo, elas ainda possuem uma propensão a pecar contra Deus por causa dessa condição (simul justus et peccator).

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Yetzer ha-Ra’

Ítala

A Vetus Latina ou Itala são as diferentes traduções surgidas antes da Vulgata de Jerônimo.

Os primeiros indícios da Ítala remontam de sua menção no mais antigo texto cristão em latim, os Atos dos mártires scillitanos. Esse processo contra cristãos do norte da África menciona um homem chamado Speratus, decapitado em 180, que possuía “livros e cartas de Paulo, um homem justo”. Aparecem também em citações patrísticas do século II, especialmente Tertuliano e Cipriano de Cartago.

Utilizada popularmente nos cultos, mesmo depois da publicação da Vulgata no século V continuou em uso. Os grandes códices da Vetus Latina foram produzidos até 1250. Parte da Vulgata preserva leituras da Ítala. Adicionalmente, seções inteiras como os livros de Salmos, Atos, as Epístolas e o Apocalipse foram mantidos nas coleções da Vulgata.

Vulgata

A Vulgata é a versão da Bíblia latina, revisada ou traduzida do hebraico e do grego por Jerônimo, identificada pela sigla Vg.

Em 382, ​​o papa Dâmaso encomendou a Jerônimo que produzisse uma tradução latina aceitável da Bíblia a partir das várias traduções divergentes (a Vetus Latina ou Ítala).

Exímio latinista e estudioso bíblico, Jerônimo contou com a ajuda de mulheres eruditas como Marcela e Paula. Além disso, viajou, discutiu e aprendeu as línguas semíticas enquanto vivia no Levante, onde se estabeleceu em Belém. Sua versão dos Evangelhos foi entregue ao papa em 384. Usando a versão grega da Septuaginta do Antigo Testamento, produziu novas traduções latinas dos Salmos, o Livro de Jó e alguns outros livros. Entretanto, decidiu que a Septuaginta era insatisfatória e começou a traduzir todo o Antigo Testamento a partir uma versão hebraica hoje perdida. No Novo Testamento traduziu os evangelhos enquanto replicou os outros livros a partir da Ítala. Finalizou a Biblia toda por volta do ano 405.

Escreveria ainda anotações e introduções dos livros da Bíblia, a qual seria uma das primeiras edições a contar com um aparato filológico e exegético.

A vulgata levaria tempo para ter aceitação. O próprio antigo saltério latino revisado por Jerônimo continuou a ter maior aceitação. Na baixa idade média a Vulgata ganharia a preferência dos eruditos e no uso litúrgico ocidental.

No Renascimento e Reforma surgiram várias edições e revisões. A revisão Sixto-Clementina seria adotada como a versão oficial para a Igreja Católica a partir de uma política de padronização estabelecina pelo Concílio de Trento. Em 1979 foi lançada uma nova revisão, a Nova Vulgata.

A vulgata é uma obra singular por vários motivos. Seria a primeira tradução feita praticamente por um único indivíduo, o qual era consciente dos problemas exegéticos e de teoria da tradução. Também seria a primeira versão feita em um só processo editorial a reunir todo o cânon que, mais tarde, seria juntado em um só volume de livro.

Ex opere operato

Esta frase latina significa que “da obra realizada em si” pelos sacramentos é eficaz em si mesma e não dependente da virtude do ministro ou destinatário.

A dependência da eficácia sacramental das condições do agente (ex opere operantis) gera alguns problemas teológicos. Assim, não haveria ministros ou destinatários com capacidade de administrar os sacramentos, dada a condição geral de falibilidade humana. Entretanto, atribuir um poder mágico ao sacramento, com eficácia independente da fé, contraria a obra regenerativa interior proporcionada por Cristo mediante o Espírito. Esse raciocínio levaria a condições conflitantes com a fé em Cristo. Por exemplo, uma pessoa acidentalmente batizada ou que participasse da Santa Ceia estaria automaticamente em comunhão divina, mesmo que jamais tenha sequer sabido quem foi Jesus Cristo.

Uma antiga facção cristã no norte da África no século IV, os donatistas, diziam que os atos sacramentais feitos por ministros corruptos eram inválidos. Durante a Reforma a questão reacendeu, com os protestantes enfatizando a fé do destinatário o catolicismo trentino que a eficácia dos sacramentos dependia não dos ministros, mas do ofício de Cristo realizado neles.

O Artigo 26 dos “39 Artigos de Religião Anglicana” resume a via média a respeito:

ARTIGO XXVI – DA INDIGNIDADE DOS MINISTROS, A QUAL NÃO IMPEDE O EFEITO DOS SACRAMENTOS

Ainda que na Igreja visível os maus sempre estejam misturados com os bons, e às vezes os maus tenham a principal autoridade na Administração da Palavra e dos Sacramentos; todavia, como o não fazem em seu próprio nome, mas no de Cristo, e em comissão e por autoridade dele administram, podemos usar do seu Ministério, tanto em ouvir a Palavra de Deus, como em receber os Sacramentos. Nem o efeito da ordenança de Cristo é tirado pela sua iniqüidade, nem a graça dos dons de Deus diminui para as pessoas que com fé e devidamente recebem os Sacramentos que se lhe administram; os quais são eficazes por causa da instituição e promessa de Cristo, apesar de serem administrados por homens maus.

Não obstante, à disciplina da Igreja pertence que se inquira acerca dos Ministros maus, e que sejam estes acusados por quem tenha conhecimento de seus crimes; e sendo, enfim, reconhecidos culpados, sejam depostos mediante justa sentença.