O sacrifício, um ato ritualístico central em diversas religiões, incluindo o antigo Israel, envolve a oferenda de algo valioso a uma divindade.
Na Bíblia, o sacrifício abrange desde oferendas vegetais até o sacrifício de animais, e assume variadas funções, como purgação de pecados, demonstração de gratidão, comunhão com a divindade e súplica. A prática sacrificial no Antigo Testamento é detalhadamente regulamentada na Torá, especialmente em Levítico, especificando os tipos de ofertas, os procedimentos rituais e os participantes. O sistema sacrificial israelita possuía um complexo simbolismo teológico, apontando para a santidade de Deus, a gravidade do pecado e a necessidade de reconciliação.
A interpretação do sacrifício evoluiu ao longo da história judaico-cristã, com o Novo Testamento apresentando a morte de Jesus Cristo como o sacrifício supremo e definitivo, que supera e cumpre os sacrifícios do Antigo Testamento.
No período do Segundo Templo e no judaísmo rabínico, a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.) e a subsequente impossibilidade de realizar os sacrifícios prescritos levaram a uma reinterpretação da prática. A oração, o estudo da Torá e as boas ações passaram a ser vistos como formas de sacrifício espiritual, substituindo a oferenda material em muitas vertentes do judaísmo.
Na filosofia e na cultura ocidental, o conceito de sacrifício expandiu-se ainda mais. A renúncia a desejos e prazeres pessoais em prol de um bem maior, a dedicação a uma causa, o heroísmo que implica risco de vida e a abnegação em favor do próximo passaram a ser compreendidos como formas de sacrifício. Essa ampliação semântica reflete a internalização e a moralização do conceito original, agora desvinculado do ritual religioso específico, mas ainda carregado de valor moral e espiritual. O sacrifício, assim, tornou-se sinônimo de esforço, renúncia e entrega em nome de um ideal, seja ele religioso, moral, político ou pessoal.
