A palavra grega μoναιˊ (monai), traduzida como “moradas” em João 14:2-3, usualmente designa um aposento ou quarto. No entanto, o historiador Pausânias (Descrição da Grécia 10.31.7) empregou o termo para indicar caravançarás ou hospedarias temporárias ao longo de rotas, o que sugere uma ambiguidade semântica. A tradução latina “mansio” manteve o sentido de morada, consolidando na Renascença e Reforma a interpretação de “habitação” ou “lugar de moradia”, embora a fundamentação precisa dessa exegese permaneça incerta, possivelmente derivando de um trocadilho ou paronomásia. É notável o jogo de palavras entre μoναιˊ (monai) e μϵˊνω (menō), “permanecer”, verbo recorrente no Evangelho de João, o que aponta para uma possível interpretação de μoναιˊ como “lugar de permanência”.
A palavra grega μoνα ι ˊ (monai), substantivo feminino derivado de μ ϵ ˊ νω (menō, permanecer), possui um leque de significados em textos clássicos e pós-clássicos, abrangendo “permanência”, “demora” (Eurípides, Aristófanes, Xenofonte), “persistencia” (Aristóteles), “conservação” (gramáticos) e, mais frequentemente, “local de parada”, “aposento” ou “quarto”. Sua ocorrência no Novo Testamento é rara, aparecendo exclusivamente em João 14:2 e 14:23, o que a torna particularmente especial neste Evangelho. A interpretação de um local temporário de pousio seria teologicamente problemática, daí as dificuldades exegéticas para encontrar uma explicação satisfatória. Uma interpretação seria a uma alusão informal às insulae, moradias multifamilares.
A partir das escavações em Pompeia, o conhecimento sobre as insulae — blocos de edifícios multifamiliares de múltiplos andares — expandiu-se. Descobertas arqueológicas em Samaria, Cafarnaum, Meiron, Arbel e Corazim confirmaram a existência de insulae na região, levando à suposição de que Jesus, em João 14:2-3, estaria se referindo a esse tipo de construção.
