Eliseu ben Abuyá

Rabi Eliseu ben Abuyá, também conhecido pelo epíteto de Acher (“o Outro”), é uma figura controversa do Talmude, lembrado principalmente por sua apostasia. Originalmente um respeitado Tanaíta, pertencente ao período da Mishná, foi mestre de Rabino Meir, um dos mais influentes estudiosos da tradição legal judaica. No entanto, sua trajetória tomou um rumo inusitado ao se tornar herético, e as razões que levaram a essa ruptura são objeto de debate, envolvendo desafios teológicos e experiências pessoais marcantes.

Um dos relatos mais emblemáticos associados à sua apostasia está relacionado ao problema da teodicéia, ou seja, a justificação da existência do mal em um mundo governado por um Deus justo. De acordo com o Talmude, Eliseu testemunhou um menino morrer enquanto cumpria dois mandamentos considerados portadores de longevidade e proteção divina: honrar pai e mãe e espantar a mãe do ninho antes de pegar os ovos. Ao presenciar tal tragédia, Eliseu exclamou: “Não há Juiz e não há julgamento!”, revelando uma crise de fé motivada pela aparente desconexão entre as boas ações e suas recompensas divinas.

Outro episódio significativo está registrado na passagem talmúdica sobre a entrada no Pardes, uma experiência de exploração mística compartilhada por quatro rabinos: Ben Azai, Ben Zoma, Acher e Rabi Akiva. Segundo o relato, Ben Azai morreu, Ben Zoma enlouqueceu, Acher tornou-se herético e apenas Rabi Akiva entrou e saiu em paz. O motivo de sua apostasia estaria ligado à visão do anjo Metatron sentado no céu, algo que deveria ser reservado apenas a Deus. Diante disso, Eliseu teria interpretado erroneamente a visão como evidência de duas potências divinas, um pensamento dualista considerado herético no judaísmo monoteísta.

Sua inclinação intelectual também pode ter desempenhado um papel crucial na sua dissidência. Alguns estudiosos sugerem que sua exposição à filosofia grega e à cultura helenista influenciou suas crenças. O Talmude menciona que “cantos gregos não cessavam de sua boca”, o que indica um apreço pelas correntes externas de pensamento, algo visto com desconfiança na sociedade judaica de sua época. Não se pode afirmar que essa influência tenha sido a causa direta de sua heresia, mas é possível que tenha contribuído para sua reinterpretação de doutrinas fundamentais.

Ainda que não seja apontado explicitamente como um fator determinante, há indícios de que o orgulho e a arrogância intelectual possam ter influenciado sua queda. Sua vasta erudição e sua disposição para desafiar normas estabelecidas podem ter levado à sua disposição de questionar conceitos centrais do judaísmo.

Hivi al-Balkhi

Hivi al-Balkhi (820-893 EC) foi um médico, filósofo e poeta judeu que viveu no mundo islâmico medieval. Sua posição cética influenciou o racionalismo judaico.

Hivi al-Balki nasceu na cidade de Balkh, no atual Afeganistão, e passou a maior parte de sua vida no Califado Abássida, onde ganhou fama como médico e como membro proeminente da elite intelectual e cultural. Fazia parte de uma viva comunidade intelectual e cultural judaica no mundo islâmico. Seu trabalho reflete a influência das tradições intelectuais judaicas e muçulmanas.

Além de seu trabalho médico, Hivi al-Balkhi também foi filósofo e poeta. Escreveu livros sobre filosofia, entre eles um tratado sobre ética chamado “Kitab al-Mahasin” e um trabalho sobre metafísica chamado “Kitab al-Talim”.

Como médico, Hivi al-Balkhi fez avanços em farmacologia e abordagens inovadoras para o tratamento médico. Escreveu vários livros sobre medicina, incluindo uma enciclopédia médica abrangente chamada “Kitab al-Musta’ini”, amplamente usada por médicos em todo o mundo islâmico.

Em 875 al-Balkhi escreveu um livro com duzentas objeções à origem divina da Bíblia. Assim, foi considerado um epikoros (apóstata). Saadia Gaon escreveu um livro para refutá-lo, mas ambas as obras foram perdidas.