Imagens de Deus

As imagens preconcebidas de Deus influenciam na hermenêutica bíblica, como outras categorias e pressupostos que o leitor traz para a leitura.

No âmbito da hermenêutica, deve-se levar em conta a influência de ideias preconcebidas na leitura das Escrituras sagradas. Uma delas é a concepção de Deus. O psicólogo e teólogo Karl Frielingsdorf propôs uma tipologia de imagens de Deus. Aqui utilizamos essa tipologia para retratar as diferentes concepções que os indivíduos portam para lerem as Escrituras.

Frielingsdorf afirma que a compreensão que uma pessoa tem de Deus começa nos anos de formação. São moldadas pela socialização religiosa, experiências familiares e influências culturais. Essas primeiras imagens de Deus, sejam provedoras e protetoras ou punitivas e julgadoras, tornam-se os “Grundfolien” ou modelos fundamentais que influenciam pensamentos, emoções e ações subsequentes (Frielingsdorf 1993).

O leitor avaliará todas as representações de Deus na Bíblia de acordo com o que ele ou ela imagina. Então, este exercício eisegético afetaria mais tarde a sua percepção da realidade, da vida espiritual e da teologia.

Os quatro tipos de imagens de Deus propostas por Frielingsdorf são:

  1. O Deus da lacunas e a hermenêutica dualista: Indivíduos que percebem Deus como um substituto para necessidades não satisfeitas podem abordar a Bíblia com uma predisposição para interpretações dualistas, dividindo o texto num reino de bondade divina e num mundo humano repleto de mal. Isto pode levar a uma leitura seletiva, enfatizando passagens que reforçam um Deus benevolente e negligenciando aquelas que desafiam este imaginário reconfortante. Buscam ver milagres todos os dias ao invés de cada dia como um milagre. Possuem dificulades de verem Deus no cotidiano, no ordinário, no profano, mas somente no sobrenatural, no miraculoso, no extraordinário.
  2. O Deus Juiz Punitivo e a hermenêutica do medo: Os leitores com essa imagem de um Deus punitivo podem interpretar as narrativas bíblicas através das lentes do medo. Cada evento bíblico pode ser visto como consequência da retribuição divina, dificultando uma compreensão matizada do contexto cultural e histórico da Bíblia. São incapazes de enxergar um Deus gracioso e misericordioso. Por considerar Deus como incapaz de perdoar, vivem com medo do castigo divino, moldando suas orientações morais e éticas.
  3. O Deus Contabilista e a hermenêutica legalista: Aqueles que têm uma imagem de Deus como um contador exigente tendem a abordar a Bíblia com uma mentalidade legalista, percebendo os mandamentos e as leis como um registro meticuloso dos atos humanos. Isto pode levar a uma interpretação intransigente dos textos bíblicos. Esse leitor terá foco na adesão às regras, em vez de na compreensão dos princípios espirituais subjacentes.
  4. O Deus gestor por desempenho e Teologia Baseada nas Obras: Indivíduos que veem Deus como uma divindade que valoriza o desempenho e o sucesso podem interpretar a Bíblia através de lentes teológicas baseadas nas obras. Isto pode levar a uma ênfase na realização pessoal e na justiça a qual se sentem receptores. Gera uma concepção meritocrática da relação com Deus. Assim, é fácil negligenciar os temas centrais da graça, da misericórdia e do poder transformador da fé nas narrativas bíblicas.

BIBLIOGRAFIA

Frielingsdorf, Karl. Dämonische Gottesbilder. Mainz: Mattias Grünewald, 1993.

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