Siger de Brabant

Siger de Brabant (c.1240-c.1281) foi um filósofo dominicano, professor de teologia e filosofia em Paris.

Foi um proponente do averroísmo, sendo também influenciado por Proclo (410–485) e Avicena (980–1037), além de debater com Tomás de Aquino.

Discutia a relação entre fé e razão, aceitando a possibilidade de contração entre a filosofia e a doutrina cristã. Discorreu sobre a imortalidade da alma, argumentando que existe apenas uma alma “intelectual” para a humanidade e, portanto, uma vontade. Embora esta alma seja eterna, os seres humanos individuais não são imortais.

Posto em suspeita e condenado por autoridades acadêmicas e religiosas, morreu no exílio quando o clérigo que o acompanhava enloqueceu e esfaqueou-o.

Jean de Gerson

Jean de Gerson -1429) foi um erudito, teólogo, educador e reformador francês.

Serviu como Chanceler da Universidade de Paris, uma voz de liderança no movimento conciliar que defendia a reforma da Igreja, e até defendeu a legitimidade de Joana D’Arc.

Gerson foi um dos chamados biblistas de Paris. Era um dos defensores da supremacia das Escrituras como norma de doutrina.

Durante o Grande Cisma, um período de divisão papal, Gerson emergiu como uma figura chave no movimento conciliar. Ele argumentou que os concílios da Igreja, e não um único papa, detinham a autoridade final, defendendo a reforma interna e a reconciliação. Suas ideias moldaram o Concílio de Constança, que pôs fim ao cisma em 1418.

Averroísmo

O Averroísmo é uma escola de pensamento filosófico que surgiu nos séculos XII e XIII e se baseia nas obras do filósofo andaluz Averróis (Ibn Rushd). Averróis (1126-1198) foi um prolífico comentarista de Aristóteles e seu trabalho desempenhou um papel significativo na transmissão do pensamento aristotélico ao Ocidente latino.

O Averroísmo é caracterizado pela sua ênfase na razão e pela sua crença na unidade do intelecto. Os averroístas argumentam que existe apenas um intelecto que é compartilhado por todos os seres humanos. Isto significa que as almas individuais não têm o seu próprio intelecto, mas antes participam do único intelecto universal.

Os averroístas também acreditam que o mundo é eterno e que não existe imortalidade individual. Em vez disso, argumentam que apenas o intelecto é imortal e que as almas individuais são reabsorvidas no intelecto universal após a morte.

O Averroísmo foi um movimento controverso na sua época e foi condenado tanto pela Igreja Católica como pelas autoridades islâmicas. No entanto, também teve uma influência profunda no pensamento ocidental, e as suas ideias foram posteriormente reavivadas por pensadores renascentistas como Marsilio Ficino e Baruch Spinoza.

A primazia da razão era cental para os averroístas. A razão é o principal meio de aquisição de conhecimento e que deve ser usada para orientar a ação humana.

Os Averroistas argumentam a A unidade do intelecto. Existe apenas um intelecto que é compartilhado por todos os seres humanos.

Os averroístas acreditavam que o mundo é eterno e que não houve começo nem fim para o tempo.

Os Averroistas argumentam que apenas o intelecto é imortal e que as almas individuais são reabsorvidas no intelecto universal após a morte.

A ênfase de Averróis na razão e na filosofia levou ao desenvolvimento da doutrina da “dupla verdade”, sugerindo que existem verdades de fé e verdades de razão, e estas às vezes podem estar em tensão. Este seria um dos princípios fundamentais do Averroísmo. Esta doutrina afirma que existem duas verdades diferentes: uma que é revelada pela fé religiosa e outra que é descoberta pela razão. Averróis argumentou que estas duas verdades não são necessariamente contraditórias, mas que podem por vezes levar a conclusões diferentes.

Essa doutrina da dupla verdade fundamentou a exploração da teologia dos atributos de Deus pela escolástica medieval. Assim, mesmo admitindo que a linguagem e intelecto humano seriam limitados, seria racional discutir sobre a natureza de Deus para informar a fé. Portanto, questões como Deus pode ser simultaneamente eterno e imutável, ou onipotente e onibenevolente, único e triúno seriam passíveis de inquirição teológica.

Alguns Averroístas, como Siger de Brabante, aplicaram esta ideia à teologia cristã, sugerindo que certas verdades filosóficas poderiam estar em desacordo com as doutrinas religiosas.

O Averroísmo promoveu a ideia de autonomia intelectual, afirmando que a razão poderia chegar às verdades independentemente da revelação. Esta noção levantou preocupações entre os teólogos cristãos sobre a potencial subordinação da fé à razão.

A interpretação de Averróis das opiniões de Aristóteles sobre a alma, sugerindo um intelecto único e eterno para todos os humanos, entrou em conflito com as doutrinas cristãs da imortalidade individual.

Alguns pensadores cristãos, como Tomás de Aquino, envolveram-se em debates com os averroístas sobre a natureza da alma e a compatibilidade da filosofia aristotélica com as crenças cristãs.

Apesar das tensões, o Averroísmo teve um impacto significativo na escolástica cristã medieval. Estudiosos cristãos, incluindo Tomás de Aquino, engajaram-se nas ideias averroístas para integrar o pensamento aristotélico na teologia cristã.
Tomás de Aquino, embora crítico de algumas posições averróis, procurou reconciliar certos aspectos da filosofia de Averróis com a doutrina cristã, particularmente no domínio da teologia natural.

A influência do Averroísmo levou a condenações. Em 1277, o bispo de Paris condenou várias proposições averroístas. A condenação papal de 219 proposições em 1277, conhecida como Condenações de Paris, incluía condenações de certas ideias averroístas.

Na Renascença e em períodos posteriores, alguns pensadores cristãos revisitaram as ideias averroístas. No entanto, foram feitos esforços para distinguir entre o Averroísmo como método filosófico e proposições teológicas específicas que podem ser incompatíveis com a doutrina cristã.

A relação entre o Averroísmo e a teologia cristã envolveu uma complexa interação de influência, tensão e tentativas de reconciliação. Embora as ideias averroístas inicialmente suscitassem preocupações e enfrentassem condenações, elas também desempenharam um papel na formação do desenvolvimento da escolástica cristã medieval. Os compromissos posteriores com o Averroísmo refletiram esforços para navegar na relação entre razão e fé no contexto da teologia cristã.

Donum Superadditum

Donum Superadditum é a doutrina escolástica de que graça foi superacrescentada a Adão. Seria um dom gratuito de Deus que vai além dos dons naturais que acompanham a natureza humana. Um exemplo desse dom sobrenatural é a graça divina salvítica.

O primeiro homem teria recebido tal graça além de seus poderes naturais, e cuja graça foi perdida pela Queda. Na teologia escolástica de Scotus Erigena w Boaventura, a justiça original (justitia originalis) foi adicionada aos poderes naturais do homem (pura naturalia) como um donum superadditum. Já para Tomás de Aquino o homem foi criado na posse da justiça original, mas ainda assim como uma graça acrescentada aos seus poderes naturais.

Roger Bacon

Roger Bacon (c. 1214–1292) foi um filósofo, cientista e frade franciscano inglês, reconhecido por suas contribuições significativas à filosofia e às ciências naturais, com ênfase na observação empírica e na experimentação. Nascido em Ilchester, Somerset, na Inglaterra, ele é frequentemente referido como “Doctor Mirabilis” devido à sua notável erudição.

Bacon provavelmente veio de uma família abastada e recebeu uma educação abrangente nas universidades de Oxford e Paris. Obteve o título de Mestre em Artes e foi influenciado por estudiosos de destaque, como Robert Grosseteste e Adam Marsh. Seus estudos iniciais abrangeram disciplinas variadas, incluindo matemática, astronomia, óptica, alquimia e línguas.

Considerado um dos primeiros defensores do método científico no pensamento ocidental, Bacon enfatizou a importância da observação e da experimentação como base para o conhecimento do mundo natural. Seu trabalho em óptica é particularmente notável, tendo estudado a refração da luz em lentes, o que contribuiu para o desenvolvimento de óculos. Ele também descreveu processos como a fabricação de pólvora e propôs ideias para máquinas voadoras.

Em 1266, a pedido do Papa Clemente IV, Bacon escreveu Opus Maius, um tratado extenso que buscava reformar o estudo das ciências no sistema universitário. Essa obra abrangia diversas disciplinas científicas e defendia a inclusão de estudos linguísticos ao lado dos ensinamentos teológicos tradicionais.

Apesar de seus feitos intelectuais, Bacon enfrentou desafios dentro da Ordem Franciscana devido às suas visões pouco convencionais e ao seu interesse por alquimia e magia. Esses interesses geraram tensões com seus superiores, resultando em períodos de prisão e eventual marginalização nos círculos acadêmicos. Passou grande parte de sua vida posterior em Oxford, onde morreu.