A graça preveniente, em latim gratia praeveniens ou gratia praeparans, é um conceito teológico que descreve a ação da graça divina na vida dos indivíduos antes e sem qualquer mérito próprio, capacitando-os a responder ao chamado de Deus e à oferta de salvação. Ela opera removendo os obstáculos espirituais causados pelo pecado e despertando a vontade humana para crer. É considerada uma doutrina central nas teologias Arminiana e Wesleyana, embora suas raízes remontem a Agostinho de Hipona e a outros pais da Igreja.
Panorama Histórico
- Agostinho de Hipona: Agostinho aponta a necessidade da graça divina para iniciar a fé, argumentando que a vontade humana, corrompida pelo pecado, é incapaz de buscar a Deus por si mesma. (De spiritu et littera 60, De natura et gratia liber unus 31.35).
- Tomás de Aquino: Seguindo Agostinho, Aquino também afirmou a necessidade da graça para a salvação, distinguindo entre graça operante, que age diretamente em nós, e graça cooperante, que nos auxilia a responder a Deus.
- Reforma Protestante: A doutrina da graça preveniente foi debatida durante a Reforma. Enquanto Calvino e outros reformadores enfatizaram a depravação total e a graça irresistível, Arminius e seus seguidores defenderam a graça preveniente como uma forma de reconciliar a soberania divina com o livre-arbítrio humano.
- John Wesley: Wesley desenvolveu a doutrina da graça preveniente de forma mais sistemática, argumentando que ela é universal e capacita todos os seres humanos a responder ao chamado de Deus. Ele a via como um remédio para a depravação total, restaurando a liberdade humana para escolher ou rejeitar a salvação.
Tabela Comparativa:
| Tradição Teológica | Perspectiva sobre a Graça Preveniente |
|---|---|
| Católica Romana | A graça preveniente é essencial para a salvação, preparando a vontade humana para cooperar com a graça divina. É concedida a todos, mas pode ser resistida. |
| Ortodoxa Oriental | Há uma sinergia entre graça divina e livre-arbítrio humano. A graça divina é necessária para iniciar e sustentar a fé. A pessoa regenerada só pode realizar as boas obras de fé se dependente da graça que guia e precede suas ações. |
| Luterana | A graça preveniente é vista como o Espírito Santo operando através da Palavra e dos sacramentos, despertando a fé no coração humano. |
| Anabatista | A graça preveniente é universal e capacita todos a responder ao chamado de Deus. Enfatiza-se a liberdade humana e a responsabilidade de responder à graça. |
| Arminiana | A graça preveniente é universal, restaurando o livre-arbítrio e capacitando todos a crer. É resistida, mas necessária para a salvação. |
| Wesleyana | Semelhante à Arminiana, mas com ênfase na graça preveniente como um remédio para a depravação total, restaurando a capacidade humana de amar e obedecer a Deus. |
| Finney | A graça preveniente capacita a vontade humana a escolher a Deus livremente. Finney rejeitou a ideia de depravação total, argumentando que os seres humanos possuem uma capacidade natural de crer. |
| Keswick | A graça preveniente capacita os crentes a regenerarem e a viverem uma vida vitoriosa sobre o pecado em uma progressiva santificação. |
| Reformada (em geral) | A graça preveniente é vista com ceticismo, sendo comparada à graça comum, que não remove a depravação total, e ao chamado eficaz, que é irresistível. |
| Barth | Barth rejeitou a graça preveniente como um conceito que diminui a soberania divina e a centralidade da graça na salvação. |
| Berkouwer | Berkouwer criticou a graça preveniente por sugerir uma capacidade humana de contribuir para a salvação, mas reconheceu a ação divina na preparação do coração humano para a fé. |
| Kuyper | Kuyper via a graça preveniente como uma forma de graça comum que opera em todas as áreas da vida, mas não garante a salvação. |
| Bavinck | Bavinck rejeitou a graça preveniente como um conceito que compromete a soberania divina e a distinção entre graça comum e graça salvadora. |
Recepção com a Teologia Reformada:
A teologia reformada tradicionalmente rejeita a doutrina da graça preveniente por considerá-la incompatível com a depravação total e a graça irresistível. No entanto, alguns teólogos reformados, como Karl Barth e G.C. Berkouwer, buscaram reinterpretar a graça preveniente de forma a torná-la compatível com a soberania divina.
