Fred Francis Bosworth, conhecido como F.F. Bosworth (1877-1958), foi um evangelista, músico e pregador de cura divina pentecostal americano.
Nascido em uma fazenda perto de Utica, Nebraska, foi criado em uma família metodista. Sua conversão ocorreu em 1893, durante um encontro de avivamento, marcando o início de seu envolvimento ministerial. Tocava clarinete, junto de seu irmão trombonista B. B. Bosworth, um notório hinista.
No início do século XX, Bosworth associou-se ao movimento de Zion City, Illinois, liderado por John Alexander Dowie. Como líder da banda de Zion City, destacou-se por suas habilidades musicais e capacidade de liderança. Essa experiência introduziu-o ao ministério de cura e ao movimento pentecostal emergente. A partir da visita de Charles Parham a Zion City, em setembro de 1906, teve a esperiência do batismo do Espírito Santo. Em meados de 1907, Bosworth, John G. Lake e Tom Hezmalhalch receberam as visitas de William Seymour e Glenn Cook de Los Angeles.
Em 1909, mudou-se para Dallas, Texas, onde fundou a Primeira Igreja Assembleia de Deus. Apesar de seu papel na formação da denominação Assemblies of God em 1914, afastou-se da organização em 1918 devido a divergências teológicas sobre o falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo.
Na década de 1920, Bosworth tornou-se conhecido como um dos mais influentes evangelistas de cura de sua época. Sob filiação da Aliança Cristã e Missionária, suas campanhas de avivamento em tendas atraíram grandes multidões, com milhares respondendo a suas mensagens. Durante uma reunião em Ottawa, Canadá, cerca de 12.000 pessoas declararam sua fé. Seu ministério enfatizava a cura divina e o empoderamento espiritual, abordagens que ressoaram entre muitos crentes. Em 1924, publicou o livro Christ the Healer, que consolidou sua posição como uma figura central no pensamento pentecostal. Em uma época quando evangelistas itinerantes e pregadores de cura eram teatrais, Bosworth era comedido, calmo e paciente.
Além de seu trabalho evangelístico, Bosworth foi um pioneiro no rádio cristão. Fundou a “The National Radio Revival Missionary Crusaders”, ampliando seu alcance e disseminando sua mensagem de cura e fé. Na década de 1930, Bosworth adotou o angloisraelismo e deixou a Aliança Cristã e Missionária até 1944, quando recebeu sua afiliação e renunciou a tal doutrina. Nos últimos anos, Bosworth continuou a moldar o movimento pentecostal, orientando líderes emergentes como William Branham e Oral Roberts. Mesmo após sua aposentadoria para a Flórida em 1947, permaneceu ativo em campanhas de avivamento ao lado de Branham até o final da década de 1950. Em 1951, Bosworth acompanhou William Branham em uma campanha na África. Entre 1952 e 1955, Bosworth retornou à África diversas vezes, realizou campanhas evangelísticas em Cuba, no Japão, na Suíça e na Alemanha.
As distintas teologias de F.F. Bosworth, como analisadas por Christopher J. Richmann em sua biografia Living in Bible Times: F.F. Bosworth and the Pentecostal Pursuit of the Supernatural, oferecem um olhar aprofundado sobre questões centrais do Pentecostalismo. Richmann questionou narrativas tradicionais ao investigar temas como o falar em línguas, o avivamento da Rua Azusa, filiações denominacionais, cura divina, fundamentalismo, o movimento Palavra da Fé e escatologia. Sua abordagem destaca nuances e complexidades que frequentemente passam despercebidas nas interpretações convencionais.
Richmann argumenta que a ênfase do falar em línguas como evidência essencial da experiência pentecostal é limitada, com base em Bosworth. Para Bosworth, o foco estava na busca por manifestações sobrenaturais mais amplas, como a cura divina, que ele considerava um componente vital da fé cristã. Essa perspectiva amplia a compreensão sobre a autenticidade da experiência pentecostal, conectando-a às raízes do movimento na tradição da santidade radical, mais do que exclusivamente ao avivamento da Rua Azusa.
Embora o avivamento da Rua Azusa seja frequentemente interpretado como o marco definidor do Pentecostalismo, Richmann propõe que as experiências e ensinamentos de Bosworth retratam um quadro mais diversificado do início do movimento. Segundo ele, o Pentecostalismo foi moldado por uma tapeçaria de movimentos e indivíduos focados em experiências sobrenaturais, com a Rua Azusa sendo apenas uma parte desse panorama. Esse entendimento permite valorizar outras figuras e eventos que contribuíram para o desenvolvimento do pensamento pentecostal.
As complexas relações de Bosworth com diversas denominações também recebem atenção. Seu envolvimento com as Assembleias de Deus, seguido de sua renúncia, reflete as tensões teológicas e institucionais do início do Pentecostalismo. Richmann apresenta Bosworth como um mediador de paisagens teológicas multifacetadas, questionando narrativas simplistas de aceitação ou rejeição denominacional. Essa abordagem ressalta os desafios enfrentados pelo movimento ao equilibrar inovação e ortodoxia.
A cura divina emerge como o elemento central do ministério de Bosworth e da análise de Richmann. Para Bosworth, a cura transcende a simples doutrina, representando uma fé vivida e uma expressão tangível da atividade divina. Richmann sugere que esse foco na cura como experiência desafia interpretações tradicionais que priorizam a ortodoxia doutrinária em detrimento da vivência espiritual. Esse tema, profundamente ligado à prática pentecostal, também ressoa com os anseios de muitos crentes por experiências diretas com o divino.
No campo do fundamentalismo, Bosworth se posiciona de maneira singular. Embora compartilhasse certos pontos de vista com o fundamentalismo, ele frequentemente divergia ao manter um compromisso com o sobrenaturalismo, que contrastava com o racionalismo e o literalismo de muitos fundamentalistas. Richmann destaca essa tensão como um exemplo da diversidade dentro do cristianismo americano do início do século XX, ilustrando como figuras como Bosworth ampliaram os limites da espiritualidade cristã.
Richmann também explora a influência de Bosworth no movimento Palavra da Fé, traçando um fio condutor entre seus ensinamentos e o desenvolvimento posterior desse segmento carismático. Embora figuras como Kenneth Hagin e Kenneth Copeland sejam frequentemente destacadas, Richmann posiciona Bosworth como um precursor importante cujos ensinamentos moldaram o pensamento e a prática do movimento. Essa perspectiva reconfigura a narrativa histórica ao incluir Bosworth como uma ponte entre o Pentecostalismo inicial e as correntes carismáticas contemporâneas.
Na escatologia, as crenças de Bosworth são apresentadas como dinâmicas e profundamente influenciadas por suas experiências de vida e contexto teológico. Em vez de aderir rigidamente a doutrinas estabelecidas, Bosworth demonstrava uma abordagem mais flexível e contextualizada das profecias bíblicas. Richmann argumenta que essa postura desafia interpretações escatológicas estáticas, enfatizando a importância de experiências vividas na formação de visões teológicas.
O trabalho de Richmann não apenas ilumina as contribuições de F.F. Bosworth, mas também desafia os leitores a reconsiderar suposições sobre o Pentecostalismo e suas tradições teológicas. Ao examinar os contextos e motivações que moldaram a visão de mundo de Bosworth, Richmann oferece uma análise que enriquece o entendimento de um movimento complexo e multifacetado.
BIBLIOGRAFIA
Bosworth Brothers Campaign
Barnes III, Roscoe. F.F. Bosworth: The Man Behind ‘Christ the Healer.’ Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009.
Bosworth, F.F. Christ the Healer. Grand Rapids, MI: Revell, 2008.
Richmann, Christopher J. Living in Bible Times: F.F. Bosworth and the Pentecostal Pursuit of the Supernatural. Pickwick Publications, 2020.
