O Leaky Dispensationalism (Dispensacionalismo Vazado), por vezes chamado de Dispensacionalismo MacArthuriano é um termo descritivo utilizado para caracterizar a posição teológica do pastor e polecista John F. MacArthur (1939-2025) e de associados ao Master’s Seminary em relação à escatologia e à estrutura das dispensações bíblicas.
John F. MacArthur Jr. foi pastor, autor e radialista adepto do novo calvinismo americano. Foi líder da Grace Community Church, na Califórnia, e fundador do The Master’s Seminary (TMS). Outros autores conexos incluem Michael J. Vlach, Richard L. Mayhue, Nathan Busenitz e Robert L. Thomas.
Uma das características centrais de sua abordagem é aplicar uma soteriologia (doutrina da salvação) uniforme e soberana de Deus em todas as dispensações, o que o distingue de interpretações esquemáticas.
Essa disposição em ver continuidade em áreas específicas é o que levou o termo “vazado” a ser aplicado. Sua ênfase na soberania absoluta de Deus e no senhorio de Cristo na salvação (a posição conhecida como “Salvação pelo Senhorio”) cria uma estrutura soteriológica unificada que “vaza” através das diversas dispensações da economia de Deus, mitigando algumas das separações mais estritas encontradas no Dispensacionalismo Clássico ou Revisado.
MacArthur possui várias ênfases e interpretações que o distinguem de muitos outros teólogos dispensacionalistas, tornando sua posição única.
Uma delas era a separação entre salvação e entrada no Reino (galardão). Esta é a característica mais significativa e, frequentemente, a mais controversa de MacArthur, estando intrinsecamente ligada à sua teologia da Salvação pelo Senhorio.
MacArthur estabelece uma distinção nítida entre o dom gratuito da vida eterna (justificação pela fé somente) e a recompensa de entrar e reinar no Reino Milenar. A salvação do inferno é alcançada somente pela fé em Cristo. No entanto, o status, a autoridade e a experiência do crente durante o vindouro Milênio são determinados pela fidelidade e obediência nesta vida.
Ele se apoia em passagens sobre o Tribunal de Cristo para crentes (2 Coríntios 5:10), em advertências sobre ser “envergonhado na sua vinda” (1 João 2:28) e em parábolas como a dos Talentos (Mateus 25:14-30), que interpreta literalmente como critérios para a co-regência. Um crente verdadeiramente salvo que vive em pecado persistente e sem arrependimento será “salvo, todavia, como que pelo fogo” (1 Coríntios 3:15). Embora entre no céu (o estado eterno), sofrerá perda de recompensas e terá negado um lugar de co-regência com Cristo no Milênio, permanecendo como súdito, não como governante, experimentando vergonha e perda.
Esse ponto de vista é criticado por introduzir uma forma de “salvação por obras” (mesmo que restrita a recompensas) e por criar um sistema de duas classes na vida após a morte, o que, para os críticos, parece minar a alegria e a plenitude da salvação.
O cessacionismo de John F. MacArthur insere-se como a consequência lógica da completude das Escrituras e de um entendimento da economia de Deus. Para MacArthur, os “dons de sinal” (profecia, línguas, curas) tiveram um propósito dispensacional e limitado: autenticar a nova revelação apostólica e confirmar a mensagem dos apóstolos, assim como os milagres validaram Moisés ou Elias em fases cruciais e singulares da história redentora.
No dispensacionalismo macarthuriano há a visão de que a Era da Igreja seria uma dispensação não dominada por sinais, definida pela suficiência das Escrituras e pela pregação expositiva, em contraste direto com a teologia carismática.
Coerente com seu futurismo, MacArthur antecipava que milagres potentes e enganosos retornarão apenas na próxima grande dispensação, a Tribulação, onde terão o papel de autenticar o Anticristo (2 Tessalonicenses 2:9). Assim, defendia que tais sinais não pertencem à era atual, mas a períodos específicos de nova (ou falsa) revelação.
MacArthur identificou um papel escatológico específico para o Islã, ausente na maioria dos sistemas dispensacionalistas clássicos.
Via o Islã e seu objetivo de um califado global como um veículo primário para a religião dos últimos dias do Anticristo. Argumenta que o sistema religioso do Anticristo refletirá ou cooptará a estrutura monoteísta, militante e baseada na lei do Islã, que rejeita a divindade de Cristo. MacArthur conectava o “rei do Sul” em Daniel 11:40 a uma coalizão de nações islâmicas. Mais amplamente, ele via o Islã como um sistema potente e pronto, que se encaixa na descrição de uma religião apóstata que adora um “deus das fortalezas” (Daniel 11:38) e exige lealdade total.
Embora muitos intérpretes de profecia façam conexões semelhantes, MacArthur tem sido mais sistemático e enfático ao apresentar o Islã como o provável precursor e modelo para a falsa religião final.
Diferente de muitos comentaristas populares, MacArthur evitava a identificar figuras contemporâneas específicas como o Anticristo ou a afirmar que eventos atuais (como pandemias, crises econômicas ou tecnologias emergentes) são o cumprimento direto e final de uma profecia específica. Por exemplo, ele não identifica o COVID-19 ou o chip como a “marca da besta”.
Sua abordagem é um “historicismo de princípios”. Identifica tipos e padrões que estão se desenvolvendo de acordo com a profecia — nisso compartilhava com as teorias de conspiração do globalismo, como a crença de um suposto globalismo que articular a forja de movimento global em direção a um governo mundial, uma sociedade sem dinheiro e uma religião universal. No entanto, ele evita a identificação absoluta, preferindo focar na preparação do palco global para os eventos finais, em vez de declará-los como o cumprimento final.
Em suma, o dispensacionalismo macarthuriano mantém a bipartição Israel-Igreja, mas dissolve as fronteiras soteriológicas entre as eras. O resultado é um híbrido formalmente dispensacional (duas vias para o reino) enquanto seja materialmente aliancista (salvação uniforme).
BIBLIOGRAFIA
Busenitz, Nathan. The Men and the Message of Prophecy: A Study of the Minor Prophets. The Master’s Seminary Press, 2020.
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