Censo

O censo, ou recenseamento refere-se a uma contagem sistemática da população, geralmente de homens em idade militar ou de famílias, realizada por razões administrativas, militares ou fiscais. Esses recenseamentos eram ordenados por líderes ou reis para organizar a sociedade, recrutar soldados, distribuir terras ou cobrar impostos.

Diversos exemplos de recenseamentos são encontrados no Antigo Testamento. No livro de Números, são registrados dois grandes recenseamentos do povo de Israel durante sua jornada no deserto, ordenados por Moisés (Números 1 e 26). Esses censos tinham o propósito de organizar as tribos e determinar a força militar disponível. O rei Davi também ordenou um censo, um ato que desagradou a Deus e resultou em uma praga sobre Israel, como narrado em 2 Samuel 24 e 1 Crônicas 21.

No Novo Testamento, o censo mais notável é o mencionado no Evangelho de Lucas, que descreve o recenseamento ordenado por César Augusto, que levou Maria e José a viajarem de Nazaré para Belém, onde Jesus nasceu (Lucas 2:1-7).

Esse censo romano, diferente dos recenseamentos do Antigo Testamento, era um evento administrativo do Império Romano, realizado para fins de tributação e registro de cidadãos. A precisão histórica desse censo e sua datação exata têm sido objeto de debate entre estudiosos, mas sua importância teológica reside em seu papel no cumprimento da profecia bíblica sobre o nascimento de Jesus em Belém.

A historicidade do censo de Quirino no contexto do nascimento de Jesus permanece um tema de debate. A principal dificuldade surge da datação conhecida do governo de Quirino na Síria. A história secular geralmente situa o governo de Quirino na Síria por volta de 6 d.C., quando ele realizou um censo na Judeia após a deposição de Arquelau. Este censo é mencionado pelo historiador judeu Flávio Josefo e foi marcado por revoltas judaicas.

Várias hipóteses foram propostas para conciliar o relato de Lucas com as evidências históricas:

  • Censos Múltiplos: Hipótese de que pode ter havido outros censos romanos na Judeia antes do censo de 6 d.C. sob Quirino. Lucas pode estar se referindo a um desses censos anteriores. Evidências indiretas, como inscrições e menções de censos romanos em outras regiões, apoiam a possibilidade de censos periódicos.
  • Quirino em um Cargo Anterior: Outra teoria é que Quirino pode ter ocupado algum cargo ou função na região antes de seu conhecido governo como legado da Síria. Quirino pode ter tido algum papel relacionado a um censo anterior. A inscrição Lapis Tiburtinus, que menciona Quirino como governador da Síria “pela segunda vez”, é citada como possível evidência.
  • Interpretação do Texto de Lucas: Algumas possibilidades que a interpretação do texto de Lucas pode ser flexibilizada. Por exemplo, a frase em grego pode ser interpretada de outras maneiras, não necessariamente implicando que o censo ocorreu durante o governo de Quirino, mas talvez antes ou relacionado a ele de alguma forma.
  • Acurácia de Lucas: Lucas, como um historiador cuidadoso (como evidenciado em outras partes de seus escritos), poderia estar correto, e que as fontes históricas atuais não fornecem uma imagem completa da administração romana na Judeia.
  • Censo como criação literária: O autor Lucas embelezou a narrativa do nascimento, contextualizando-a em um evento regular do censo, sem pretensões de historicidade.

Os recenseamentos bíblicos refletem a importância da organização social e administrativa nas sociedades antigas, bem como as preocupações com poder militar e recursos econômicos.