No Hebraico Bíblico, diversos termos são empregados, cada um com nuances distintas que a tradução portuguesa “néscio” por vezes unifica. Os mais proeminentes, notadamente no livro de Provérbios, são:
1. ’ěwîl (אֱוִיל): indica o tolo ou insensato que é teimoso, arrogante, e frequentemente despreza a sabedoria e se compraz na loucura, sendo o mais comum em Provérbios.
2. kěsîl (כְּסִיל): denota o tolo grosseiro, lento para aprender ou deliberadamente obtuso, cuja tolice é uma característica fixa de seu caráter e que inevitavelmente sofre as consequências de seus atos.
3. nābāl (נָבָל): possui a conotação mais severa, referindo-se ao perverso ou vil, que não apenas é insensato, mas moralmente depravado e irreligioso, como exemplificado no Salmo 14:1, que diz: “Disse o nābāl no seu coração: Não há Deus.”
4. ba‘ar (בַּעַר): sugere estupidez comparável à de um animal irracional, alguém que age por impulso e falta de razão. O conceito central é a conexão intrínseca entre sabedoria (ḥokmāh) e piedade; o néscio é aquele que escolhe viver à margem dos preceitos divinos, convidando à ruína e à morte.
No Novo Testamento, o conceito de néscio é veiculado principalmente pelo termo grego áphrōn (ἄφρων), que significa insensato, aquele que age de forma irrefletida, sem prudência ou razão. Lucas 24:25 apresenta Jesus repreendendo os discípulos como “Ó áphrōn e tardos de coração para crer”, conectando a nescidade à incredulidade e à falta de discernimento espiritual para compreender as Escrituras.
Outro termo, mōrós (μωροˊς), traduzido como tolo ou louco, é usado por Jesus no Sermão da Montanha, com uma conotação de tolice moral ou vileza, embora ele próprio o utilize para exortar a vigilância contra a hipocrisia, como na parábola das dez virgens (mōraí, em Mateus 25:2-8).
O ensinamento neotestamentário reitera a tese sapiencial de que a nescidade vai além de ser um mero erro de cálculo. Constituiria um fracasso existencial em reconhecer a autoridade de Deus ou de Cristo (a Sabedoria encarnada), o que resultaria em uma conduta imprudente e autodestrutiva (Efésios 5:15).
