Termo do grego antigo, θεολογούμενον (theologoumenon) “o que é dito sobre Deus” e seu plural “theologoumena” denota “algo que é teologizado” ou “o que se diz de Deus ou das coisas divinas”.
Nos sentidos contemporâneos de teologia, teolegúmena denota doutrinas inferidas, tanto logicamente ou a partir das Escrituras, mas não direto e explicitamente presente na Bíblia. São exemplos de teolegúmena o Credo Apostólico, a doutrina da Trindade, a doutrina da Queda, as teorias de expiação e reconciliação, as teorias que harmonizam esquemas escatológicos, dentre outros.
Apesar de seu uso escasso nos escritos patrísticos, era entendido como um declaração teológica que é de opinião individual e não de doutrina. (cf. Adiáfora). Na ortodoxia grega o termo ganhou sentido de opinião que, certa ou errada, pode ser proveitável para avançar o entendimento.
No final do século XIX o conceito de teolegúmena ganhou novos contornos com Adolf von Harnack (1851-1930). Esse historiador da teologia traçou a ascensão do dogma, o qual ele entendia como o sistema doutrinário autoritário na Igreja institucional e seu desenvolvimento desde o século IV até a Reforma Protestante. O historiador alemão notou que desde as origens do cristianismo a filosofia grega misturou e resultou em um sistema com muitas crenças e práticas que não eram autenticamente cristãs. Para ele, o protestantismo deveria ser entendido como uma rejeição desse dogma e um retorno à fé pura da Igreja. Adicionalmente, a doutrina deveria ter um caráter de teolegúmena, não dogmática, sendo provisória e expressão limitada pelas circunstâncias de sua formulação.
Na teologia católica a teolegúmena são proposições teológicas sem base explícita nas Escrituras ou sem endosso oficial do magistério. Portanto, não a teolegúmena não é dogmaticamente vinculante , mas vale a pena considerar porque auxiliam nas doutrinas oriundas da revelação.
Apesar da primazia das Escrituras, no protestantismo há duas tendências. Uma, principalmente em sistemas teológicos confessionais, é atribuir autoridade à teolegúmena. Já em abordagens não confessionais, a teolegúmena é admitida como o entendimento concordante da Igreja, mas que não se torna critério de comunhão e participação nela.
Enquanto no protestantismo tradicional há distinção entre revelação e teolegúmena, em grupos fundamentalistas cristãos várias teolegúmenas igualam-se à revelação, dogma e ortodoxia. Nesses últimos grupos há a pretensão de uma suposta leitura imediata das Escrituras, sustentando suas doutrinas, normalmente com a técnica de dicta probantia.
Enquanto a Igreja Católica considera alguns dogmas como revelados, a ortodoxia grega rejeita a ideia de que expressões teológicas em si possam ser reveladas, mas que se mantém em um nível de teolegúmena. Em comum, ambas tradições consideram a teolegúmena como fonte teológica enquanto parte da tradição, sobor e magistério da Igreja.
Similarmente, em ciências bíblicas é o raciocínio conjectural. A midrash, a harmonização entre passagens, as reconstruções históricas, a consideração de textos disputados, as tradições interpretativas são exemplos de teolegúmena.
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Uma consideração sobre “Teolegúmena”