Doroteu de Tiro (século IV), autor patrístico e provável mártir sobre o qual pouco se conhece. A Doroteu é atribuído a autorida dos Atos dos Setenta Apóstolos. Este texto, que também pode ter sido conhecido como o Evangelho dos Setenta, representa uma tentativa de expandir e sistematizar a tradição apostólica além dos Doze Apóstolos mencionados nos Evangelhos e em Atos.
Doroteu supostamente nasceu em Antioquia e foi um sacerdote erudito. Eusebius de Cesareia (História Eclesiástica VII.32) menciona Doroteu como um eunuco e acadêmico cristão. Ele teria sofrido exílio durante a perseguição de Diocleciano, retornando posteriormente para participar do Concílio de Niceia em 325. Durante o reinado de Juliano, o Apóstata, foi novamente exilado para Odyssopolis (atual Varna, na Bulgária), onde, com 107 anos, teria sido martirizado.
Embora muitos escritos atribuídos a Doroteu sejam considerados pseudepígrafos, sua influência real ou atribuída é significativa. Uma de suas obras mais conhecidas é a Lista dos Apóstolos e Discípulos, uma compilação que combina tradição histórica e narrativa teológica.
Os Atos dos Setenta Apóstolos
Os Atos dos Setenta Apóstolos, como outros textos apócrifos, não fazem parte do cânone bíblico, mas oferecem informações sobre figuras mencionadas brevemente nas Escrituras. A lista inclui nomes como Estêvão, o primeiro mártir; Ananias, que batizou Paulo; e Filipe, que evangelizou na Ásia Menor. Além disso, há menções específicas sobre a missão de André, que teria ordenado Estácio como bispo de Bizâncio, destacando a antiguidade da sé episcopal de Constantinopla.
A narrativa conecta a tradição apostólica diretamente às igrejas locais, legitimando suas fundações e lideranças. Isso reflete um esforço do cristianismo primitivo para consolidar sua autoridade e presença geográfica, especialmente em um período de expansão e organização institucional.
A lista de discípulos e apóstolos atribuída a Doroteu é dividida em duas partes principais:
- Setenta Discípulos: Inclui figuras como Tiago, irmão do Senhor, primeiro bispo de Jerusalém, e Cleofas, segundo bispo de Jerusalém, que testemunhou a ressurreição. Essa seção traça a missão de discípulos menos conhecidos, vinculando-os a diversas regiões, como a Grécia, Ásia Menor, e até mesmo a Britânia.
- Os Doze Apóstolos: Aqui, destaca-se a missão e o martírio dos apóstolos, como Pedro em Roma, André em Acaia, e Tomé na Índia. Essas descrições enfatizam a universalidade da mensagem cristã e sua propagação global.
Os Atos dos Setenta não apenas fornecem uma visão ampliada das tradições apostólicas, mas também ilustram como a Igreja primitiva lidava com desafios de autoridade e legitimidade. A narrativa envolvendo o Patriarca de Constantinopla e o Papa João I, onde um documento atribuído a Doroteu é usado para mediar questões de precedência eclesiástica, demonstra a função dessas tradições no estabelecimento de hierarquias dentro da Igreja.
