Ai, em hebraico עַי, são duas localidades mencionadas na Bíblia, cuja tradução literal é “ruínas”.
1.Ai é descrita como uma pequena cidade localizada ao leste de Betel, próxima a Betehavem (Josué 7:2). Segundo o livro de Josué, foi a segunda cidade conquistada pelos israelitas após a travessia do Jordão e a queda de Jericó. Inicialmente, um contingente reduzido foi enviado para tomar Ai, mas sofreu derrota devido a um pecado cometido no acampamento israelita. Após a purificação da comunidade, uma estratégia mais elaborada foi adotada, resultando na destruição total da cidade e de seus habitantes (Js 7–8). A destruição de Ai gerou temor entre os povos cananeus, motivando ações como a aliança feita pelos gibeonitas para evitar o mesmo destino (Js 9–10).
Ai também é mencionada no relato da peregrinação de Abraão. Este teria acampado e construído um altar entre Betel e Ai (Gn 12:8), sugerindo que a cidade, nesse período, estava em ruínas, como implica o uso do artigo definido no termo hebraico ha’ai. Abraão retornou à mesma região após sua estadia no Egito (Gn 13:3). Referências posteriores à cidade incluem sua menção como ponto geográfico em Isaías (Is 10:28) e em descrições territoriais relacionadas à tribo de Efraim (1 Cr 7:28–29). Após o exílio babilônico, Ai é listada como uma das localidades reassentadas pelo povo de Benjamim (Ed 2:28; Ne 7:32; 11:31).
O local tradicionalmente identificado como Ai é o sítio arqueológico de et-Tell, próximo ao Wadi el-Jaya. Escavações conduzidas por equipes distintas ao longo do século XX determinaram que o local esteve ocupado durante o Período do Bronze Antigo, mas foi abandonado por volta de 2400 a.C., permanecendo desabitado até o Período do Ferro (c. 1220 a.C.), quando uma pequena aldeia sem fortificações foi estabelecida. Este hiato cronológico representa um desafio para a interpretação do relato bíblico, já que o período sugerido para a conquista israelita (século XIII a.C.) não corresponde a uma ocupação do local. Três abordagens principais foram propostas: a arqueologia está incorreta; o relato bíblico é uma narrativa etiológica para explicar as ruínas de Ai; ou et-Tell não é o local da Ai bíblica. Uma alternativa recente é Khirbet el-Maqatir, cuja topografia e ocupação sugerem maior compatibilidade com a narrativa de Josué.
No contexto amonita, Ai aparece em Jeremias (Jr 49:3) como uma cidade mencionada no oráculo contra os amonitas. Essa referência não está diretamente conectada à Ai cananeia e reflete outro uso do nome “ruínas” em um contexto geográfico diferente.

Uma consideração sobre “Ai”