Maria, a Hebreia, também conhecida como Maria Judia ou Maria Profetisa, é uma das figuras mais antigas e notáveis da história da alquimia ocidental. Viveu em Alexandria, Egito, provavelmente entre os séculos I e III d.C., embora sua existência seja conhecida apenas por meio de citações de autores posteriores, especialmente Zósimo de Panópolis.
Fragmentos de seus ensinamentos sobreviveram apenas em citações, e não há comprovação direta de que tenha dirigido uma escola em Alexandria ou utilizado sistematicamente a alegoria em seus métodos pedagógicos. No entanto, a linguagem simbólica e alegórica era comum nos textos alquímicos da época.
Maria é reconhecida pela invenção de aparelhos laboratoriais fundamentais, como o banho-maria (bain-marie), o kerotakis e o tribikos. O banho-maria, em particular, permanece em uso tanto em laboratórios quanto na culinária. Suas contribuições experimentais foram fundamentais para o desenvolvimento da alquimia como prática científica, embora não se possa afirmar que ela tenha “iniciado a Química” como disciplina formal.
A tradição posterior confundiu Maria com Míriam, irmã de Moisés, mas essa associação carece de base histórica. Também não há registros de que Maria tenha declarado os judeus um povo especial com acesso privilegiado à transmutação de substâncias; ela é identificada como judia apenas nas fontes antigas.
A interpretação alegórica da realidade e das escrituras era difundida em Alexandria, influenciando pensadores como Orígenes, mas não há evidências de participação direta de Maria nesse movimento teológico. O paradigma da substância diferenciada por proporção de elementos foi dominante na alquimia até o século XVIII, mas não pode ser atribuído exclusivamente a Maria.
A demonização do conhecimento feminino e a associação da alquimia com bruxaria são fenômenos documentados em períodos posteriores, sobretudo na Idade Média e no início da Modernidade. Hipátia, outra mulher notável de Alexandria, foi perseguida e assassinada, mas não há registro de perseguição semelhante a Maria. A história dos anjos caídos ensinando alquimia às mulheres, baseada no Livro de Enoque, não possui ligação direta com Maria.
Durante a Reforma, tanto a alquimia quanto a alegoria foram vistas com desconfiança, mas continuaram presentes em certos círculos, inclusive entre luteranos e calvinistas.
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