Leitura idealista

A leitura idealista, também chamada leitura simbólica ou espiritual da profecia bíblica — especialmente do Livro do Apocalipse — interpreta as visões não como previsões de eventos históricos específicos ou futuros, mas como representações atemporais e simbólicas do conflito universal e espiritual entre Deus e Satanás, entre o bem e o mal, que se manifesta ao longo de toda a era da Igreja.

Para o idealista, a mensagem primária é teológica e pastoral, e não cronológica: os símbolos são “retratos” de realidades espirituais, e não “códigos” a serem decifrados.

Princípios fundamentais e simbologia

Partindo de uma análise textual e literária, o idealismo reconhece o caráter simbólico das profecias bíblicas, especialmente no livro de Apocalipse. Desse modo, o idealismo evita deliberadamente vincular as imagens específicas do Apocalipse — como a besta, Babilônia, as trombetas ou o milênio — a impérios particulares, indivíduos singulares (como um único anticristo) ou a um calendário detalhado do fim dos tempos. Rejeita, assim, os modelos preterista, historicista e futurista.

Em vez disso, o conflito central é arquetípico: o dragão (Satanás) é a fonte de todo o mal; as bestas simbolizam a totalidade do poder político hostil e da ideologia religiosa enganosa em todas as suas manifestações; e Babilônia representa todos os sistemas mundanos sedutores, corruptos e opostos a Deus, que desviam os fiéis e perseguem a Igreja.

O propósito do livro, segundo essa ótica, é pastoral e encorajador: oferecer consolo e exortação à perseverança aos crentes que sofrem no presente, assegurando-lhes que Deus é soberano e que Cristo já conquistou a vitória final.

O milênio (Apocalipse 20) é interpretado simbolicamente, quase sempre em uma perspectiva amilenista — como defendido por Agostinho —, representando o reinado presente de Cristo e das almas dos crentes falecidos no céu durante toda a era da Igreja. O “aprisionamento de Satanás” simboliza o cerceamento de seu poder para enganar as nações e impedir o avanço do Evangelho.

Os sete selos, trombetas e taças são vistos como quadros cíclicos e intensificadores dos juízos de Deus contra o pecado e o mal ao longo da história, revelando as consequências inevitáveis da rebelião humana.

Tradições interpretativas

A pedra angular dessa tradição foi lançada por Agostinho em A Cidade de Deus, ao interpretar o milênio como o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

No século XX, William Hendriksen popularizou o modelo com sua clássica apresentação da estrutura paralela de sete ciclos, e Anthony A. Hoekema ofereceu uma defesa sistemática rigorosa do amilenismo. Mais recentemente, eruditos como G. K. Beale e Vern S. Poythress refinaram a visão com o conceito de “progressão recapitulatória”, segundo o qual as visões repetem o mesmo período, mas avançam em intensidade e detalhe em direção à consumação final.

O idealismo, por sua ênfase na verdade teológica e por evitar a marcação de datas, é profundamente pastoral. No entanto, pode ser criticado por tornar o texto excessivamente generalizado e por suavizar o contexto histórico imediato da perseguição romana.

Leitura nuanceadas

O teólogo católico Scott Hahn introduz uma lente litúrgica no idealismo. Sua interpretação, altamente simbólica e alinhada com a recapitulação, vê as visões como realidades espirituais atemporais, e não como um mapa cronológico.

A diferença principal está em sua ênfase: para Hahn, o Apocalipse é antes de tudo uma revelação da liturgia celestial — o culto de adoração que ocorre no céu. O livro, portanto, não é um guia para o futuro, mas uma chave para compreender a Missa ou Eucaristia, que torna essa realidade celestial presente na Terra.

Essa abordagem concentra-se no presente espiritual da vitória de Cristo e na adoração da Igreja, utilizando o simbolismo para moldar a vida de fé e culto da comunidade, em vez de se orientar por uma agenda escatológica.

Já na tradição idealista ou espiritual entre pentecostais destacam-se Gordon Fee e Peter Althouse.

A abordagem de Gordon Fee representa uma síntese acadêmica sofisticada, frequentemente chamada de idealismo com premilenismo temático. Fee adota integralmente a base idealista e recapitulatória para cerca de 95% do Apocalipse (capítulos 1–19 e 21–22), insistindo que os selos, trombetas e taças são visões sobrepostas e simbólicas das lutas e juízos que se repetem durante a era da Igreja.

Sua nuance está no tratamento do milênio (Apocalipse 20.1–6). Fee rejeita tanto a leitura dispensacionalista quanto a visão amilenista pura de que o milênio seria apenas a era presente. Ele defende que, dentro da narrativa amplamente simbólica, o milênio constitui um evento futuro e literal, uma etapa transicional entre a parousia (retorno de Cristo) e o estado eterno.

O propósito desse milênio literal não é servir de centro para um calendário profético, mas oferecer a vindicação visível e definitiva dos mártires, respondendo à pergunta sobre o triunfo final da justiça no plano de Deus.

O erudito pentecostal Peter Althouse desenvolve um idealismo pneumatológico e teleológico (orientado para o propósito). Ele aceita a natureza simbólica das bestas e de Babilônia, mas utiliza o Pentecostes (Atos 2) como lente hermenêutica central, vendo-o como o evento inaugural dos “últimos dias”.

Para Althouse, o Apocalipse é uma representação dramática da atividade do Espírito Santo ao longo da era da Igreja, em constante e crescente atuação. Seu idealismo é teleológico porque as repetições — os ciclos de julgamento e salvação — não são meramente atemporais, mas descrevem o processo pelo qual o Espírito Santo progressivamente supera o mal e impulsiona a Igreja em sua missão, culminando na manifestação vitoriosa do Reino de Deus na Terra.

Nessa visão, o milênio é interpretado como símbolo da autoridade espiritual exercida pela Igreja, capacitada pelo Espírito Santo, um triunfo já manifestado, mas ainda não plenamente realizado. Essa leitura distingue-se da ênfase no reinado celestial de Agostinho e da estrita literalidade futura de Fee.

BIBLIOGRAFIA
Agostinho, Santo. A Cidade de Deus. (Obra fundamental para a interpretação simbólica do Milênio, desenvolvida no Livro XX). Várias edições.

Althouse, Peter. Spirit of the Last Days: Pentecostal Eschatology in Conversation with Jürgen Moltmann. Journal for the Study of the New Testament Supplement Series, 25. Londres: T&T Clark International, 2003.

Beale, G. K. The Book of Revelation: A Commentary on the Greek Text. New International Greek Testament Commentary. Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1999.

Fee, Gordon D. Revelation. New Covenant Commentary Series. Eugene, OR: Cascade Books, 2011.

Hahn, Scott. The Lamb’s Supper: The Mass as Heaven on Earth. Nova Iorque: Doubleday, 1999.

Hendriksen, William. More Than Conquerors: An Interpretation of the Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1940.

Hoekema, Anthony A. The Bible and the Future. Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1979.

Poythress, Vern S. The Returning King: A Guide to the Book of Revelation. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2000.

Movimento dos Irmãos

Igreja dos Irmãos: também conhecidos como Casa de Oração, Salão Evangélicos, Irmãos Cristãos, Darbistas, Irmãos de Plymouth, Assembleia de Irmãos, Movimento dos Irmãos, dentre outros. É um movimento primitivista com origens nas ilhas britânicas na década de 1820.

Desde a Revolução Francesa, vários movimentos avivalistas e primitivas ocorreram nas Ilhas Britânicas. Por exemplo, 1807, quando, perto de Omagh, um grupo de jovens evangelistas presbiterianos foi encorajado por James Buchanan a compartilhar o pão e o vinho como os apóstolos. O grupo resolveu praticar apenas atos de adoração claramente ordenados e praticados pelas primeiras igrejas do Novo Testamento. Em oito anos, Buchanan, então cônsul britânico em Nova York, teve contato pessoal com vinte e dois grupos semelhantes que surgiram espontaneamente na Irlanda, Escócia, Inglaterra e América. Outros foram influenciados pelo ministério itinerante dos irmãos Haldane. Em comum, esses grupos tinham a Bíblia como sua única autoridade, se reuniam no primeiro dia da semana para a Ceia do Senhor, ensinavam uns aos outros a partir das Escrituras e tinham seus próprios anciãos, mas se recusavam a considerar seus líderes como clérigos.

O Movimento dos Irmãos surgiu no século XIX na Europa, inicialmente de forma descentralizada. Suas origens com características e identidades tal como hoje remontam a 1820, com a emergência de vários grupos de avivamento que, de maneira independente, compartilhavam características doutrinárias e práticas. Embora a assembleia de Dublim, em 1825, e a de Plymouth, em 1831, sejam frequentemente citadas como marcos fundadores, o movimento também se desenvolveu simultaneamente na Suíça e na Itália, onde a conversão do Conde Piero Guicciardini em 1836 foi um ponto de partida significativo.

O movimento foi impulsionado por uma insatisfação com as igrejas protestantes estabelecidas, percebidas como hierarquizadas e distanciadas das práticas do Novo Testamento. Entre os pioneiros, destacaram-se figuras como Anthony Norris Groves, George Müller e John Nelson Darby. Eles defendiam a autoridade exclusiva da Bíblia, o sacerdócio universal dos crentes, a rejeição de um clero formal e a celebração da Ceia do Senhor em cada domingo. O foco era na simplicidade e na busca por uma fé alinhada com as Escrituras, abandonando tradições de séculos em favor de um retorno às origens do cristianismo. Essa ênfase no biblicismo, no primitivismo e na escatologia millenarista conferiu-lhes uma identidade distinta.

O movimento enfrentou divisões internas, notadamente a de 1848, que resultou na separação entre os “Irmãos Abertos” e os “Irmãos Fechados”. A vertente aberta, à qual a maioria das “Assembleias dos Irmãos” contemporâneas pertence, adota uma postura mais cooperativa com outros grupos evangélicos. Em contraste, a ala fechada, associada às ideias de Darby, é mais exclusivista e se isola de outras denominações.

A história do Movimento dos Irmãos em Portugal teve início em 1854, com a chegada do engenheiro químico inglês Thomas Chegwin, que começou uma missão entre os trabalhadores de minas em Palhal. Mais tarde, em 1875, outro engenheiro britânico, George Colby Mackrow, chegou ao país. Em 1877, Mackrow convidou o missionário Richard Holden a vir para Portugal, e juntos eles abriram o primeiro templo da igreja, em Lisboa. Atualmente, a maioria das comunidades em Portugal está unida sob o registro legal de Comunhão de Igrejas de Irmãos em Portugal e publica o hinário “Hinos e Cânticos Espirituais”.

No Brasil, o movimento teve início em 1878 com a chegada do missionário inglês Richard Holden. As comunidades locais, conhecidas como “Casas de Oração”, enfatizam a autonomia congregacional, a liderança colegiada de anciãos e a dedicação ao evangelismo. No Brasil as estatísticas mais recentes indicam a existência de centenas de igrejas locais, concentradas principalmente em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

O Movimento dos Irmãos na Itália teve sua origem nas Igrejas Cristãs Livres, fundadas na Toscana em 1833 pelo conde Piero Guicciardini e Teodorico Pietrocola Rossetti, que tiveram contato com o movimento no exílio. Influenciadas pelos Irmãos de Plymouth, essas igrejas rejeitaram a organização hierárquica e a ordenação de pastores, preferindo que a liderança fosse exercida por anciãos. A autonomia das igrejas locais se tornou um princípio central.

O movimento se expandiu da Toscana para o resto do país, com a ajuda de missionários ingleses. Em 1891, foi criada a Opera delle Chiese Cristiane dei Fratelli, um ente moral que centralizava a administração material das igrejas, permitindo sua continuidade e crescimento. Durante o período fascista, enfrentaram repressão devido à falta de uma estrutura formal centralizada. Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento consolidou-se, estabelecendo fortes laços com o evangelicalismo internacional. Atualmente, existem 286 assembleias dos Irmãos na Itália, que se consideram um movimento de igrejas autônomas e não uma denominação formal.

No mundo, o movimento cresceu e se expandiu, contando com mais de dois milhões de seguidores em mais de 140 países.

Isbaque

Isbaque (יִשְׁבָּק, Yishbaq) foi o quinto dos seis filhos que Abraão teve com Quetura, sua esposa após a morte de Sara (Gênesis 25:2; 1 Crônicas 1:32). Seus irmãos eram Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã e Suá.

Assim como seus irmãos nascidos de Quetura, a Bíblia não oferece detalhes significativos sobre a vida de Isbaque ou seus descendentes. Gênesis 25:5-6 relata que Abraão deu presentes a todos os seus filhos com suas concubinas (incluindo Quetura) e os enviou para longe de seu filho Isaque, o herdeiro principal, para a “terra do Oriente”. Esse ato visava evitar conflitos sobre a herança.

Josefo, o historiador judeu do primeiro século, em suas “Antiguidades Judaicas”, menciona que Abraão estabeleceu esses filhos em colônias, e que eles tomaram posse da “Trogloditis” (uma região na costa do Mar Vermelho) e da Arábia Feliz. No entanto, essa informação não é encontrada no texto bíblico.

Alguns estudiosos sugerem que os descendentes de Isbaque poderiam estar ligados a tribos árabes antigas, possivelmente identificadas em inscrições seculares. Uma dessas sugestões é a possível conexão com um povo mencionado em uma inscrição cuneiforme conhecido como “Jasbuqu”. No entanto, essas identificações permanecem conjecturas, dada a escassez de informações bíblicas e a dificuldade em correlacionar evidências arqueológicas com esses nomes bíblicos.

O significado do nome “Isbaque” em hebraico é incerto, mas algumas sugestões incluem “ele deixará” ou “ele esvaziará”.

Itritas

Os itritas eram o nome de uma família da qual descenderam dois oficiais importantes do exército do rei Davi: Ira, o itríta, e Garebe, o itríta. Ambos são mencionados nas listas dos valentes de Davi, destacando sua bravura e lealdade ao rei.

Ira, o itrita, é listado entre os trinta guerreiros de Davi (2 Samuel 23:38; 1 Crônicas 11:40). Sua inclusão nessa elite militar destaca sua importância e habilidade como combatente.

Garebe, o itrita, também figura na lista dos valentes de Davi (2 Samuel 23:38; 1 Crônicas 11:39). A proximidade de Ira e Garebe na listagem sugere que eles poderiam ter sido irmãos ou membros próximos da mesma família itríta.

A origem geográfica específica ou a história da família dos itritas não são detalhadas extensivamente nas Escrituras além da identificação desses dois oficiais.

Izaritas

Os izaritas eram os descendentes de Izar, o segundo filho de Coate e, portanto, neto de Levi (Êxodo 6:18; Números 3:19; 1 Crônicas 6:2, 18). Izar teve três filhos: Corá, Nefegue e Zicri (Êxodo 6:21).

A família mais notória descendente de Izar foi a de Corá, que liderou uma rebelião significativa contra a autoridade de Moisés e Arão no deserto (Números 16). Essa rebelião, que questionava o sacerdócio exclusivo de Arão e a liderança de Moisés, resultou em um julgamento divino severo contra Corá e seus seguidores imediatos.

No entanto, é importante notar que a linhagem de Corá não foi completamente extinta. Os filhos de Corá não morreram na punição infligida a seu pai (Números 26:10-11). Posteriormente, os descendentes de Corá (os coraítas) desempenharam funções importantes no serviço do Tabernáculo e, mais tarde, do Templo, como porteiros e cantores, e alguns Salmos são atribuídos a eles.