Conde Piero Guicciardini (1808 – 1886) político, filantropo, reformador e colecionador. Expoente do risveglio italiano, estava entre os fundadores das Igrejas livres mais tarde chamadas de Igreja dos Irmãos.
Nasceu em Florença. Petencia a uma das principais famílias da aristocracia toscana da qual o historiador e diplomata Francesco Guicciardini (1483-1540) foi um expoente.
Foi ativo na vida pública florentina. Envolveu-se nas causas da educação pública, reformas na agricultura, liberdades civis e inclusive religiosa. Convivendo entre expatriados evangélicos, entre eles experimentou uma conversão.
Por volta de 1836 recebeu uma Bíblia em italiano e frequentava as reuniões de oração com a evangélica suíça Matilde Calandrini, que havia fundado um asilo em Pisa. Ao redor dela, consolidou-se um grupo livre de culto, leitura bíblica e santa ceia, animado pelo risveglio.
Foi eleito vereador em Florença em 1850, mas no ano seguinte foi preso em razão de sua fé. O caso gerou grande controvérsia pública. Depois de seis meses de reclusão foi exilado, indo à Suíça, França e Inglaterra.
Nesse último país conheceu e congregava entre os evangélicos italianos organizados em uma igreja livre. Nesse grupo, pela adesão aos princípios eclesiológicos, incorporou-se ao movimento dos Irmãos de Plymouth. Nessa época revisou a Bíblia italiana na versão Diodati, a qual foi publicada pelas sociedades bíblicas.
Dada suas conexões políticas, conseguiu autorização dos liberais italianos engajados com o Rissorgimento para ter a liberdade de culto. Assim, passou a dar apoio aos evangelistas na Itália até que em 1859 pode retornar à Toscana. Entretanto, decepcionou-se com as promessas de liberdade do unificado Reino da Itália, passando a transitar entre lá e a Inglaterra, já que se tinha naturalizado britânico. Assumiu cargos eletivos novamente em Florença e passou a colecionar livros relevantes para o protestantismo italiano.
Grupos de evangélicos não afiliados viviam em tensão com os valdenses e outras denominações na Itália. Desse modo, progressivamente foram se afastando e formando congregações reunidas sob esses princípios:
- Centralidade do sacrifício de Cristo;
- Vivência radical do sacerdócio universal dos crentes, reservando aos ministros ordenados o papel de cooperadores (“operai”) em serviço da Igreja;
- Realização da Santa Ceia possivelmente a cada reunião;
- Rejeição de formalismo litúrgico;
- Comunhão plena com qualquer pessoa nascida de novo.
Visto a adesão a esses princípios, Guicciardini compartilhava muito com o movimento dos Irmãos de Plymouth. No entanto, rejeitava a teologia dispensacionalista de John Nelson Darby bem como o crescente exclusivismo nesse movimento, entre os fratelli stretti.
Em 1865 foi reunida em Bolonha uma convenção das igrejas livres italianas. No entanto, já despontava um cisma. O ramo congregacionalista e enfocado em um evangelicalismo espiritual liderado por Guicciardini e T. P. Rossetti tornou-se a Chiese Cristiane dei Fratelli. Já o grupo mais politizado, com ênfase no anticatolicismo, liderado por Alessandro Gavazzi, Luigi Desanctis e Bonaventura Mazzarella formou a Chiesa Cristiana Libera – Chiesa Evangelica Italiana, existente entre 1870 e 1904, de organização presbiteriana.
BIBLIOGRAFIA
https://www.studivaldesi.org/dizionario/evan_det.php?evan_id=261
Maselli, D., ‘Piero Guiccardini. Il conte evangelico’, in D. Bognandi e M. Cignoni (eds.), Scelte di fede e di libertà. Profili di evangelici nell’Italia unita, Torino: Claudiana, 2011.
Ronco, D.D., ‘Per me vivere è Cristo’. La vita e l’opera del conte Piero Guicciardini nel centenario della sua morte, 1808-1886, Fondi: UCEB, 1986
Spini, G., Risorgimento e protestanti, Torino: Claudiana, 2008.