Igreja Evangélica Livre Italiana

A Igreja Evangélica Livre Italiana (Chiesa Evangelica Libera Italiana), também chamada de Igreja Cristã Livre d’Italia (Chiesa Cristiana Libera da Itália), ou simplesmente Igreja Livre (Chiesa Libera), foi uma denominação evangélica parte do risveglio italiano no século XIX.

HISTÓRIA

Inicialmente formada em 1850 em Londres entre exilados italianos. Nos dois anos seguintes o crescimento dos evangélicos na Itália coincide com a expansão política do Reino de Piemonte e Sardenha junto de sua política de tolerância religiosa. Nesse ambiente, vários evangélicos italianos propuseram em Gênova em 1852 a ideia de unir todos os protestantes em uma única igreja evangélica na Itália.

Nesse contexto no Risorgimento, esse movimento atraiu novos convertidos predominantemente de tendências anticlericais, liberais, democráticas e garibaldianas. Contudo, diferenças culturais (e linguística), políticas e eclesiológicas com os valdenses levaram a uma ruptura com eles em 1854. A tentativa de unir-se com as denominações históricas protestantes de origem estrageira também não fruiu.

O movimento cresceu até antigir cerca de 60 comunidades em 1870, ocorreu a cisão com a ala “espiritual”, menos politizada e mais congregacionalista, que levou à formação das Igrejas Cristãs Livres dos Irmãos (Chiese cristiane libere dei fratelli). A partir de então, a Igreja Evangélica Livre passou a existir separadamente com 23 igrejas.

Entre seus principais líderes estavam o ex-padre católico barnabita Alessandro Gavazzi (1809-1889) e Bonaventura Mazzarella (1818-1882). Com a morte de seus principais líderes a denominação enfraqueceu. Então, em 1904, a igreja livre fundiu-se oficialmente com a Igreja Metodista Italiana. Vários de seus membros também foram absorvidos por batistas e outros grupos evangélicos.

DOUTRINA E PRÁTICA

A Igreja Evangélica Livre inspirava-se muito da teologia e organização das igrejas livres do réveil suíço. Como parte desse avivamento continental, valorizava a conversão pessoal por fé em Jesus Cristo, guia do Espírito Santo no culto, rejeição de práticas tidas como não bíblicas das igrejas estabelecidas (especialmente do catolicismo romano). Possuía uma eclesiologia mista prebítero-congregacionalista, tendo como dirigentes anciãos e diáconos.

Seus artigos de fé expressam muito do entendimento do risveglio italiano do século XIX, do qual há traços de continuidade no movimento pentecostal italiano e movimentos correlatos.

BIBLIOGRAFIA

 Spini, Giorgio. L’evangelo e il berretto frigio. Storia della Chiesa Cristiana Libera in Italia (1870-1904), Torino, Claudiana, 1971.

Spini, Giorgio. Risorgimento e protestanti, Il Saggiatore, Milano, 1989.

Matilde Calandrini

Matilde Calandrini (1794 – 1866) foi uma educadora, líder evangélica e ativista pelos direitos da educação das mulheres e pela educação pública e universal na Itália.

Calandrini nasceu em Genebra em uma afluente família originária de Lucca, Itália, que no século XVI fora forçada ao exílio por ter aderido à Reforma Protestante.

Depois de sua juventude na Suíça influenciada por Réveil, mudou-se para Pisa em 1831, por motivos de saúde. Na cidade, organizou reuniões sociais que se tornaram reuniões de culto, tanto para estrangeiros protestantes (principalmente ingleses) mas também para a elite católica e secular. Nessas reuniões faziam a leitura da Bíblia, estimulavam programas de popularização das Escrituras, orações espontâneas e debates sobre questões religiosas e morais.

Logo, Calandrini engajou-se com a educação. Na época, cerca de 78% da população era analfabeta. As poucas escolas era controlada pela Igreja Católica e acessível somente para os ricos. A educação dos pobres era vista como perda de tempo e um indesejável risco de fomentação de liberalismo. Mulheres e minorias religiosas eram excluídas da educação.

Um residente cedeu sua casa para Calandrini organizar um jardim de infância para meninas pobres. Os métodos de Pestalozzi já popularizados em Genebra foi frutífero. O sucesso foi grande que logo organizou outro para meninos. O Grão-Ducado de Toscana interessou-se pelo projeto e o responsável pela educação, Conde Guicciardini aproximou-se de Calandrini. Eventualmente, em 1836 Guicciardini converteu-se.

As oposições logo surgiram. Os reacionários queriam reservar a educação somente a uma elite intelectual e financeira. Em 1845 o bispo ordenou que Calandrini parasse com suas reuniões de professores. Suas cartas e contatos com o Grão-Duque garantiram por um tempo a continuidade educacional.

Depois de uma visita à sua família em Genebra em 1846, Matilde foi proibida pelo governo toscano de voltar à Itália. O trabalho iniciado por Calandrini continuou, sobretudo no movimento das escolas dominicais e na puericultura que mais tarde se destacaria Maria Montessori. No final de sua vida, Calandrini pôde retornar e ver a continuidade de sua missão tanto evangelística quanto educacional em favor dos desfavorecidos.

BIBLIOGRAFIA

Ronco, Daisy D. La Vita e le Opere di Matilde Calandrini, Bangor: University of Wales, 1995.

Piero Guicciardini

Conde Piero Guicciardini (1808 – 1886) político, filantropo, reformador e colecionador. Expoente do risveglio italiano, estava entre os fundadores das Igrejas livres mais tarde chamadas de Igreja dos Irmãos.

Nasceu em Florença. Petencia a uma das principais famílias da aristocracia toscana da qual o historiador e diplomata Francesco Guicciardini (1483-1540) foi um expoente.

Foi ativo na vida pública florentina. Envolveu-se nas causas da educação pública, reformas na agricultura, liberdades civis e inclusive religiosa. Convivendo entre expatriados evangélicos, entre eles experimentou uma conversão.

Por volta de 1836 recebeu uma Bíblia em italiano e frequentava as reuniões de oração com a evangélica suíça Matilde Calandrini, que havia fundado um asilo em Pisa. Ao redor dela, consolidou-se um grupo livre de culto, leitura bíblica e santa ceia, animado pelo risveglio.

Foi eleito vereador em Florença em 1850, mas no ano seguinte foi preso em razão de sua fé. O caso gerou grande controvérsia pública. Depois de seis meses de reclusão foi exilado, indo à Suíça, França e Inglaterra.

Nesse último país conheceu e congregava entre os evangélicos italianos organizados em uma igreja livre. Nesse grupo, pela adesão aos princípios eclesiológicos, incorporou-se ao movimento dos Irmãos de Plymouth. Nessa época revisou a Bíblia italiana na versão Diodati, a qual foi publicada pelas sociedades bíblicas.

Dada suas conexões políticas, conseguiu autorização dos liberais italianos engajados com o Rissorgimento para ter a liberdade de culto. Assim, passou a dar apoio aos evangelistas na Itália até que em 1859 pode retornar à Toscana. Entretanto, decepcionou-se com as promessas de liberdade do unificado Reino da Itália, passando a transitar entre lá e a Inglaterra, já que se tinha naturalizado britânico. Assumiu cargos eletivos novamente em Florença e passou a colecionar livros relevantes para o protestantismo italiano.

Grupos de evangélicos não afiliados viviam em tensão com os valdenses e outras denominações na Itália. Desse modo, progressivamente foram se afastando e formando congregações reunidas sob esses princípios:

  • Centralidade do sacrifício de Cristo;
  • Vivência radical do sacerdócio universal dos crentes, reservando aos ministros ordenados o papel de cooperadores (“operai”) em serviço da Igreja;
  • Realização da Santa Ceia possivelmente a cada reunião;
  • Rejeição de formalismo litúrgico;
  • Comunhão plena com qualquer pessoa nascida de novo.

Visto a adesão a esses princípios, Guicciardini compartilhava muito com o movimento dos Irmãos de Plymouth. No entanto, rejeitava a teologia dispensacionalista de John Nelson Darby bem como o crescente exclusivismo nesse movimento, entre os fratelli stretti.

Em 1865 foi reunida em Bolonha uma convenção das igrejas livres italianas. No entanto, já despontava um cisma. O ramo congregacionalista e enfocado em um evangelicalismo espiritual liderado por Guicciardini e T. P. Rossetti tornou-se a Chiese Cristiane dei Fratelli. Já o grupo mais politizado, com ênfase no anticatolicismo, liderado por Alessandro Gavazzi, Luigi Desanctis e Bonaventura Mazzarella formou a Chiesa Cristiana Libera – Chiesa Evangelica Italiana, existente entre 1870 e 1904, de organização presbiteriana.

BIBLIOGRAFIA

https://www.studivaldesi.org/dizionario/evan_det.php?evan_id=261

Maselli, D., ‘Piero Guiccardini. Il conte evangelico’, in D. Bognandi e M. Cignoni (eds.), Scelte di fede e di libertà. Profili di evangelici nell’Italia unita, Torino: Claudiana, 2011.

Ronco, D.D., ‘Per me vivere è Cristo’. La vita e l’opera del conte Piero Guicciardini nel centenario della sua morte, 1808-1886, Fondi: UCEB, 1986

Spini, G., Risorgimento e protestanti, Torino: Claudiana, 2008.

Avivamento Continental

O Avivamento Continental, Réveil genebrino, Risveglio italiano ou Erweckungsbewegung alemão são uma série de avivamentos entre evangélicos da Europa Continental durante o século XIX.

HISTÓRIA

O Avivamento Continental remonta de uma reação contra o racionalismo teológico dominante nos seminários e sistema paroquial protestante francófono e germânico no final do século XVIII e início do XIX.

Em Genebra, então uma república associada à Suíça, alguns jovens seminaristas protestantes reuniram-se entre 1802 e 1805 em um pequeno grupo de oração organizado pelo pai de um pastor morávio, Ami Bost.

Após um sermão do Pastor Moulinié sobre os costumes dos primeiros cristãos no final de novembro de 1812, alguns desses jovens — Guers, Empeytaz e Pyt — fundam a Sociedade dos Amigos com objetivo de ajudar os pobres e aflitos por todos os meios.

Nos anos próximos à queda de Napoleão, visitantes estrangeiros como a baronesa Barbara von Krüdener, os britânicos Richard Wilcox, Robert Haldane, Henry Drummond e Charles Cook visitaram Genebra e reacenderam um interesse por reuniões privadas de oração, cânticos de hinos (na época só se cantavam salmos) e leitura da Bíblia.

Os estudos bíblicos conduzidos por Robert Haldane por alguns meses focaram na exposição de Romanos de um modo que muitos seminaristas jamais tinham visto. Sua ênfase era na justificação e na conversão pessoal.

O movimento de 1817 foi chamado pejorativamente de momiers (“murmuradores”) e se expandiu rapidamente pelas regiões vizinhas de Genebra. Nas décadas de 1830 e 1840 houve outra onda de avivamento na Suíça.

Na França, várias regiões foram alcançadas pelo Réveil. Em Paris seu centro foi a Chapelle Taitbout onde se reunia numerosos membros da alta burguesia e da nobreza, como a filha da Madame de Stael.

O ex-soldado Félix Neff, o “Apóstolo dos Alpes”, pregou em áreas montanhosas na fronteira da França, Suíça e Piemonte. Nessa região, Neff fez missões entre os valdenses. A emancipação dos valdenses e a consequente liberdade de culto, primeiro no Reino Sardo-Piemontês e depois para toda a Itália, levou à propagação do Risveglio entre os italianos.

No vale do Reno o movimento atingiu reformados, unidos e luteranos de língua alemã na Alemanha, Suíça e Alsácia, muitos deles já participando de um avivamento entre pietistas desde o final do século XVIII. O avivamento fundiu-se com o ministério social e espiritual de J.F. Oberlin. De modo similar, a família de pregadores Krummacher em Wuppertal influenciaram o oeste da Alemanha. Na Saxônia, o Castelo de Hermsdorf foi um centro liderado por Heinrich Ludwig Burggraf zu Dohna, neto do líder morávio Nikolaus Ludwig von Zinzendorf. O ministro Johann Christoph Blumhardt e seu filho Christoph Friedrich Blumhardt promoveram um ministério de cura divina, expulsão de demônios e reforma social entre os povos de língua alemã. Christoph Friedrich também buscou na esfera política concretizar os mandados do Reino de tratar os mais necessitados enquanto se esperava o segundo advento.

Nos Países-Baixos o movimento foi liderado por Willem Bilderdijk, Willem de Clercq, os judeus convertidos Isaac da Costa e Abraham Capadose. Mais tarde influenciaria a Abraham Kuyper.

Na Europa Oriental o movimento ganhou corpo entre alemães bálticos e do Volga. Na Finlândia russa ocorreu o Herännäisyys, avivamento liderado pelo camponês Paavo Ruotsalainen. A Escandinávia foi impactada por um forte movimento de igrejas livres e movimentos neo-pietistas que incorporaram outros movimentos nativos de renovação. Teve impacto social e político tão grande que a moderna socialdemocracia nórdica em parte é fruto do avivamento das igrejas livres.

O movimento passou por severas críticas e perseguições pelas igrejas estabelecidas. Na Suíça, o Venerável Conselho de Pastores de Genebra expulsou ou recusou a ordenar pastores associados ao movimento e similares ações aconteceram em outros cantões. Protestantes racionalistas e mais tarde os liberais viam como excessivos as manifestações piedosas dos avivamentos bem como seu conteúdo teológico como incompatíveis à luz da razão. Na França, intelectuais católicos e conservadores como Louis de Bonald, Joseph de Maistre e Lamennais direcionaram um ataque cerrado contra o avivamento, considerando-o como mais uma expressão revolucionária a ser contida.

TEOLOGIA

Embora teologicamente reenfatizasse muito das teologias calvinista, luterana, pietista e anabatista, o Avivamento Continental tinha suas próprias nuances.

O Avivamento Continental caracterizou-se pela insistência na leitura e na pregação da Bíblia, a qual era lida menos com interesse histórico e mais como uma comunicação existencial vinda de Deus. A doutrina de inspiração foi uma elaboração basilar desse movimento.

A centralidade doutrinária residia na salvação por meio do sacrifício de Cristo na cruz, insistindo na experiência de conversão do pecado e do novo nascimento. Por conversão significava passar de uma fé costumeira para uma fé ativa. A experiência de salvação perspassava as diferenças teológicas.

A amplitude da graça expressa pelo propósito, alcance da morte de Cristo levaram a uma reelaboração — por parte dos avivados de extração calvinista — da doutrina da expiação limitada. As transformações da natureza humana pela obra regeneradora do calvário alcançavam a humanidade pela graça comum. Assim, todo cristão convertido deveria contribuir para a divulgação do evangelho por meio de palavras e obras, anunciando a liberdade e a salvação já concedidas por Jesus Cristo em sua morte.

Entretanto, o avivamento não foi teologicamente uniforme. Dentre as tendências com suas respectivas ênfases, o historiador Émile Léonard distingue três grupos dentro do Avivamento francófono:

  • Um avivamento pietista, centrado na emoção e no acesso de cada cristão a uma relação pessoal com Jesus Cristo (Haldane, Empeytaz, Ami Bost e os metodistas).
  • Um avivamento ortodoxo, voltado para um retorno às afirmações doutrinárias fundamentais do cristianismo (César Malan, Félix Neff, Adolphe Monod, Louis Gaussen e Jean de Visme).
  • Um avivamento intelectual, de tendência liberal, com ênfase na cultura da Reforma e na humanidade de Cristo (Samuel Vincent, Louis-Ferdinand Fontanès, Timothée Colani e os membros da “Escola de Estrasburgo”).

PRIMITIVISMO
Em geral, a atitude romântica de buscar um retorno do cristianismo simples, movido pelo coração, do avivamento continental gerou formas de culto e eclesiológicas populares. Em várias ocorrências, os avivados eram liderados por pregadores leigos, cuja liberdade de pregar era somente pela ação do Espírito Santo. As ênfases em práticas cristãs primitivas — ósculo santo, uso de véu, diaconia — e em um biblicismo foram preservadas em várias denominações herdeiras desse movimento.

O réveil também teve várias manifestações carismáticas, principalmente na década de 1830. Ami Bost registra cura pela fé. Outras manifestações esporádicas incluíam cânticos espirituais e pregações espontâneas, falar em línguas e profecias. Como tais manifestações estavam acontecendo entre os irvingitas britânicos, foram enviados em 1835, os missionários Pierre Méjanel e Collings Manger Carré para visitar o movimento na Suíça. Bost visitou Irving e Henry Drummond em Albury em 1831.

Na área de Yverdon, Suíça, em 1832 o pastor Marc Louis Lardon (falecido c. 1834) liderou um avivamento. Lardon, depois de renunciar sua posição e membresia na Igreja Reformada estatal em 1827, encorajou sua congregação livre de Yverdon a buscar os dons do Espírito. Praticava expulsão de demônios, profecias e foi reconhecido como apóstolo. Um ano após sua morte seu movimento terminou.

Na Prússia em 1817 ocorreram várias manifestações carismáticas no grupo de oração organizado pelo militar Gustav von Below.

PERSONALIDADES

  • Henri-Louis Empaytaz
  • César Malan
  • Louis Gaussen
  • Ami Bost
  • Henri Pyt
  • Antoine Jean-Louis Galland
  • Adolphe Monod
  • Alexandre Vinet
  • Andrew Murray
  • Paolo Geymonat

LEGADOS EM DENOMINAÇÕES, MOVIMENTOS E INSTITUIÇÕES

  • A maioria dos avivados de Genebra saiu da igreja Reformada estatal em 1831 e fundou a Sociedade Evangélica, com sua própria “escola de pregadores” fundada em 1832.
  • Em 1848, os várias congregações dissidentes uniram-se para formar a Igreja Evangélica Livre.
  • No cantão de Vaud foi formada uma Igreja Livre Reformada.
  • Várias sociedades missionárias, como a de Basileia, enviaram missionários ao redor do globo.
  • Muitas assembleias livres se uniram em torno da eclesiologia defendida por John Nelson Darby, formando as Assemblée des frères larges e outros grupos menores.
  • Os Neutäufer (Fröhlichianer ou Nazarenos) resultaram da missão de Samuel Heinrich Fröhlich entre falantes do alemão, húngaro e línguas eslavas da Europa Central. Nos Estados Unidos estão reunidos em denominações com nomes de Apostolic Christian Churches e no Brasil nas Igrejas da Paz (na Amazônia) ou Igreja Evangélica Nazareno (não confundir com a Igreja do Nazareno) no centro-sul, principalmente entre descendentes de húngaros e sérvios.
  • Diversos grupos locais se uniram aos metodistas, batistas e quakers.
  • O movimento dos Irmãos Menonitas entre teuto-russos.
  • O movimento dos Stundistas na Rússia e Ucrânia, do qual emergiram o movimento dos Cristãos de Fé Evangélica, mais tarde organizados em batistas e pentecostais.
  • Alguns movimentos de renovação entre luteranos. No Brasil, várias organizações são herdeiras desses movimentos como a Igreja Evangélica Congregacional no Brasil, a Missão Evangélica União Cristã dentro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e a Igreja do Cristianismo Decidido.
  • Exército de Salvação.
  • A Cruz Vermelha.
  • A profissão de diaconisa e, posteriormente, as profissões de enfermagem e serviço social.

BIBLIOGRAFIA

Bost, Ami. Mémoires pouvant servir à l’histoire du réveil religieux des Eglises protestantes de la Suisse et de la France, et à l’intelligence des principales questions théologiques et ecclésiastiques du jour, 1854.

Macchia, Frank D. Spirituality and Social Liberation: The Message of the Blumhardts in the Light of Wuerttemberg Pietism. Scarecrow Press, 1993.

Maillebouis, Christian. Les momiers (1820-1845) La dissidence religieuse à Saint-Voy, canton de Tence. Mazet-Saint-Voy: Société d’histoire de la montagne, 1990.

Meille, William. Il Risveglio del 1825 nelle Valli Valdesi. Claudiana, 1978.

Mutzenberg, Gabriel. A l’écoute du Réveil. Emmaüs, 1991.

Railton, Nicholas. No North Sea: the Anglo-German evangelical network in the middle of the nineteenth century. Brill, 2016.

Spini, Giorgio. L’Evangelo e il berretto frigio. Storia delle Chiesa Cristiana Libera in Italia, 1870-1904. Turim: Claudiana, 1971.

Stewart, Kenneth J. Restoring the Reformation: British Evangelicalism and the Francophone’Réveil’1816-1849. Wipf and Stock Publishers, 2006.Stunt, Timothy C. F. From Awakening to Secession: Radical Evangelicals in Switzerland and Britain,
1815-35. Edinburgh: T&T Clark, 2000.

Walls, Andrew F. ‘The Eighteenth-
Century Protestant Missionary Awakening in Its European Context’, in Brian Stanley (ed.), Christian Missions and the Enlightenment. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2001.

Wemyss, Alice. Histoire du Réveil 1790-1849. Paris: Les Bergers et Les Mages, 1977.

Risveglio

O risveglio italiano (réveil em francês, revival em inglês, Erweckung em alemão) fez parte de vários movimentos de renovação espiritual ou avivamento que no século XIX se espalharam pela Europa continental.

Na década de 1810 iniciou-se um avivamento em Genebra, animado por pregadores ingleses depois da derrota de Napoleão, logo se esparramou pela Itália por ação de Félix Neff.

Este avivamento foi movidos por um ímpeto missionário. Essas missões muitas vezes foram realizado não pelas estruturas organizacionais das denominações, mas por associações livres de crentes, bem como um fervor reformista dentro das Igrejas, que também poderia levar à separação em comunidades livres. Na Itália ocorreu um avivamento entre as igrejas valdenses, as igrejas livres (Chiesa Cristiana Libera in Italia e Chiesa dei Fratelli) e as denominações fundadas por missionários de língua inglesa (batistas, metodistas, anglicanos, Exército de Salvação).

A repressão ultramontana e o reacionarismo político dificultaram a pregação do evangelho na Itália, mas abriram muitas possibilidades no exterior. Muitos exilados por razões políticas também encontraram o evangelho, formando igrejas italianas em Londres e Genebra. Uma consequência foi a aliança entre ativistas liberais e evangélicos, defendendo uma Itália unida na qual haveria uma “Igreja livre em um Estado livre” (Libera chiesa in libero stato). Coincidia também com o anseio pela emancipação civil e a justiça social.

A migração, de crentes ou não, possibilitou a formação de igrejas longes do controle paroquial católico. Assim, surgiram comunidades evangélicas italianas no Uruguai, Argentina, Brasil, mas seria especialmente nos Estados Unidos que um movimento evangélico floresceria.

Dentre os principais atores se destacam Paolo Geymonat, Conde Piero Guicciardini, Bonaventura Mazzarella, Pietro Taglialatela, Alessandro Gavazzi, Carolina Dalgas, dentre outros.

Em 1861 nasceu o Reino da Itália. Nele, os evangélicos criaram escolas para os analfabetos, orfanatos, eram próximos aos imigrantes, apoiavam os mais necessitados, faziam contribuições importantes no campo da cultura, especialmente na investigação histórica ou na filologia bíblica. Renasceu o interesse pela hinologia, pela diaconia e pelas escolas dominicais.

Em muitos aspectos o risveglio lançou os trilhos para depois florescer o grande avivamento pentecostal.

Michele Nardi

Michele Nardi (1850-1914) evangelista cuja obra missionária e social atendeu imigrantes italianos nos Estados Unidos e várias cidades na Itália no final do século XIX e início do XX.

Nascido em uma família de classe média de Savignano Sul Rubicone, província de Foli na Itália central, Nardi se engajou nas grandes causas de sua época, primeiro pela unidade Itália, depois pelo Evangelho. Ele lutou ao lado de Garibaldi na batalha de Mentana antes de ir para Florença para aprender sobre o comércio de antiguidades.

Depois de fazer amizade com expatriados americanos e britânicos, Nardi aprendeu a falar inglês fluentemente e ficou interessado em se mudar para os Estados Unidos.

Uma vez nos Estados unidos, Nardi começou um empreendimento como empreiteiro de ferrovias e, mais tarde, se tornou um investidor em ações. Ao conhecer um cristão americano durante uma viagem à Europa, Nardi teve seu primeiro contato com a Bíblia. Em uma viagem de negócios à Filadélfia, esse amigo americano deu mais uma vez o testemunho de Cristo. Então Nardi foi ao seu quarto de hotel e leu João 1:12. Nardi aceitou imediatamente a Cristo como seu salvador. Então ele ouviu o chamado de Deus para deixar tudo e segui-lo.

Tão profunda foi a transformação que Deus operou em seu coração, que ele vendeu seu negócio e decidiu consagrar sua vida para pregar a Cristo.

Nardi mudou-se para Nova York, onde frequentou a Missionary School, uma iniciativa de formação ministerial de A.B. Simpson e da Christian & Missionary Alliance. Naquela escola, Nardi conheceu e se casou com Blanche Phillips, uma jovem evangelista.

Adeptos da teologia da Santidade, mas sem subscrever nenhuma estrutura denominacional, Nardi e sua esposa tornaram-se evangelistas em tempo integral. Seu modus operandi consistia em pregar nas esquinas, realizar reuniões domésticas, evangelizar de porta em porta e, em seguida, alugar missões em portas comerciais para pregar e fornecer serviços sociais aos imigrantes italianos nas cidades industriais.

Em 1889, os Nardis chegaram a Chicago. Nesta cidade, Nardi reuniu um grupo de cristãos valdenses de Favale di Malvaro, uma cidade na Ligúria, e levou outros italianos a Cristo. Conforme o trabalho se desenvolvia, a Távola Valdense e o Presbitério de Chicago organizariam a Primeira Igreja Presbiteriana Italiana em 1892 e enviariam o pastor Filippo Grill da Itália para ajudá-los. Esta igreja seria o primeiro lar espiritual para Louis Francescon e Rosina Balzano Francescon, Albert diCicco e Dora diCicco, Nicolas Moles e sua esposa. Depois que a congregação se estabilizou, Nardi continuaria sua missão, espalhando o evangelho em Spring Valley, Mo; São Francisco, Ca; Vinland, NJ; Cidade de Nova York e Itália, onde morreu em Rapallo.

De seu período de missão em Chicago, o Presbitério de Chicago registra:

“O trabalho entre os italianos em nosso próprio presbitério tem dois centros principais, a igreja italiana na rua West Ohio, 73, perto de Halsted, e a missão Nardi na rua West Taylor, 148. Esta última foi nomeada em homenagem ao Signor Nardi, que foi um dos primeiros a inaugurar o trabalho missionário protestante entre os italianos em Chicago. A narrativa das experiências do Signor Nardi desde que veio a este país é em si muito interessante.
Bem educado e um artista notável, ele veio para a América para ser um crítico de arte. Chegando na cidade de Nova York, sua atenção foi atraída pela aflição entre seus compatriotas em Five Points e em torno dele, e ele imediatamente começou a estudar como melhorar sua condição. Quanto mais investigava, mais entusiasmado ficava e finalmente decidiu abandonar a arte por enquanto. Ele submeteu um plano a uma das ferrovias do leste para obter um contrato para a construção de seu leito usando apenas italianos como trabalhadores, ele mesmo supervisionando a obra. Sua proposta foi aceita; e embora tenha criado um grande furor entre os trabalhadores irlandeses e americanos, como muitos se lembrarão, foi executado com sucesso. Naquela época, ele recusou todas as religiões, mesmo a de sua pátria mãe, e só alguns meses depois ele aceitou a Cristo e seus ensinamentos. Depois de estudar sob a direção do Rev. AB Simpson da cidade de Nova York, o Sr. Nardi e sua esposa, também uma estudante do Dr. Simpson, começaram o trabalho evangelístico, vindo para Chicago em 1889. Sr. e Sra. Nardi juntamente com trabalhadores da Sociedade Bíblica de Chicago realizavam reuniões domésticas, nas esquinas das ruas, ou visitavam de casa em casa, pregando o evangelho aos italianos sempre que surgia a oportunidade, a sociedade bíblica fornecia folhetos e porções das Escrituras para distribuição. Na primavera seguinte, Nardi garantiu um quarto na rua South Clark, 505, e organizou uma escola dominical.
Mais ou menos na mesma época, a Associação Cristã dos Moços cedeu seu salão perto da ponte da rua Kinzie para outra escola dominical. Foi neste último lugar que o primeiro serviço de comunhão entre os protestantes italianos foi realizado, e o interesse crescente logo se concentrou naquele distrito. Havia um elemento valdense que formava o núcleo de uma igreja, e a bênção de Deus se manifestava em conversões frequentes. No inverno seguinte, alguns amigos ficaram interessados ​​no andamento do trabalho, e entre eles estava a sempre lembrada amiga da Missão Nardi, a Sra. S. G. Hubbard, cujos devotados esforços pelos italianos ainda continuam. Em 1893 o presbitério de Chicago erigiu permanentemente uma igreja e pediu ao Sr. Nardi para se tornar seu pastor regular, mas ele recusou, acreditando que Deus o havia chamado para o trabalho evangelístico. Uma chamada foi feita ao pastor atual, o Rev. Filippo Grilli, que começou seu pastorado no início do outono de 1890, com 58 membros da igreja. Em 1894, o atual edifício de tijolos substancial na rua Ohio foi erguido, em grande parte devido à generosidade do Sr. Henry Willing. Em 1891, o Sr. Nardi abriu a terceira missão, que teve início na rua Desplaines e continuou lá até que um prédio e local mais adequados fossem garantidos na rua Taylor, agora chamada de Missão Nardi.
O trabalho iniciado na rua South Clark foi posteriormente mesclado com o da Missão Metodista, e um excelente trabalho está sendo realizado. O pastor Grilli prega e continua o trabalho na igreja italiana e na Missão Nardi. A Sra. Grilli é uma ajudante muito competente, assim como a Sra. R. Francesconi, que é superintendente da escola dominical na igreja italiana. Além dos cultos regulares de pregação, sempre realizados em italiano, há uma esplêndida escola dominical, escola de costura, reunião de mães e uma aula bíblica sob a liderança da Sociedade Bíblica. O trabalho é um encorajamento contínuo para aqueles que estão prestando seus serviços, e o que é surpreendente é que esses italianos levaram sua igreja e missão a um nível de sucesso com tão pouco dinheiro. Membros da igreja que voltaram para a Itália iniciaram círculos lá visando a organização de uma igreja.
A igreja evangélica da Itália, que é a união de todas as igrejas protestantes na península, relatou cinco novas igrejas adicionadas ao seu rol durante 1897, dando um total de trinta igrejas protestantes. Cerca de 1.000 pessoas passaram a ter comunhão íntima no ano passado. “
–E. Dryer, Chicago. In Simpson 1916: 32-36.
FONTES

Bisceglia, John. Italian Evangelical Pioneers. Kansas City, Mo, 1948.

Francescon, Louis. Faithful Testimony. Chicago, 1952.

Simpson, A.B.  Michele Nardi: The Italian Evangelist, His Life and Work. New York, 1916.

Toppi, Francesco. Michele Nardi: Il Moody d’Italia. Rome: ADI-Media, 2002.