Igreja livre

Igrejas livres são grupos de cristãos que consideram a igreja como uma comunhão voluntária dos crentes, enfatizando o povo de Deus como comunidade ao invés de autoridades clericais, práticas sacramentais, denominacionais, estruturas ou símbolos teológicos.

O teólogo croata-americano Miroslav Volf identifica como igrejas livres, primeiramente, aquelas que tendem a um modelo de governo congregacionalista. E, em segundo lugar, aquelas igrejas que afirmam uma separação consistente entre igreja e estado. Contudo, há outras características derivadas da concepção voluntária de Igreja.

Normalmente essas igrejas desconfiam até mesmo essa designação ou qualquer outra que tenda ao denominacionalismo, preferindo identidades adenominacionais.

Eclesiologicamente, há uma ênfase à autonomia da igreja local em matéria de gestão, doutrina e disciplina. Isso resulta em uma rejeição da existência de qualquer entidade terrestre além da igreja local do povo de Deus reunida para comunhão em Cristo pelo Espírito na adoração a Deus. No entanto, nem todas igrejas livres aderem ao congregacionalismo. Várias redes de igrejas que compartilham as mesmas tradições possuem arranjos organizacionais além da congregação local.

Os ministros são mais exortadores que exatamente um clero, valorizando o ministério laico. Seu papel é mais o cuidado da comunidade, tanto na orientação espiritual quanto na função de gestores-procuradores (trustees) dos bens comunitários.

Teologicamente, valorizam a Igreja como a concretização do evangelho. Assim, essas igrejas exercem-se uma autoridade coletiva na qual Deus em Jesus Cristo seria o único cabeça. Os membros desse corpo seriam pessoas regeneradas (nascidas de novo) e que exercem pelo Espírito como “um sacerdócio real” (1 Pedro 2:9) reunidas em uma local congregação “de dois ou três” (Mt 18:20).

Outras nuances teológicas são uma abertura doutrinária, rejeitando especulações além daquilo que afete a unidade da Igreja em culto ao vivente Deus. Isso leva a um biblicismo que, frequentemente, rejeita tanto a cadeia de transmissão histórica doutrinária da cristandade estabelecida quanto a sistematização teológica.

As igrejas livres tendem a ser (mas não necessariamente) “sem credo”. Não utilizam credos nos cultos (liturgia seria um termpo impróprio para as igrejas livres) como também não utilizam confissões como uma interpretações privilegiadas das Escrituras ou critério de autoridade e de membresia. Apesar desse não credalismo, as igrejas livres tendem a ter uma rica teologia prática e congregacional, expressa principalmente no culto e na vida comunitária. Ocasionalmente, alguns grupos formulam declarações de fé que são mais testemunhos de crenças e práticas comuns que credos ou confissões.

Apesar de rejeitar envolvimento com a política secular, as igrejas livres são históricas defensoras da liberdade de culto, de consciência e de associação. Em países onde houve uma religião oficialmente estabelecida, membros das igrejas livres foram ativos como cidadãos privados em demandar a liberdade religiosa e a separação entre Estado e Religião. Foram instrumentais para garantir o registro civil de nascimento, o casamento civil e os cemitérios laicos. O lema orientador era “igreja livre em um estado livre”.

Várias tradições (e paradoxalmente, denominações) são herdeiras das igrejas livres, como as igrejas evangélicas livres continentais, congregacionais, batistas, pentecostais, menonitas e outros anabatistas, Irmãos, dentre outras.

Apesar de remontar do movimento anabatista no século XVI, foi no século XIX na Europa que as igrejas livres ganharam força em conexão com o avivamento continental.

BIBLIOGRAFIA

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