Torá

Torá, Torah ou תּוֹרָה em hebraico significa em sua forma mais básica “instrução ou lei”. Entretanto, as nuances e conjunto de pressupostos que o termo Torá carrega são distintos daqueles que portam o termo Pentateuco. Torá pode ter os sentidos

  1. um termo genérico para instrução (cf. Pv 1:8; 4:2);
  2. uma norma ou lei (Lv 10:11);
  3. o decálogo (Ex 24:12);
  4. o conteúdo do Pentateuco (At 13:15, At 24:14); ou
  5. toda a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento (por exemplo, Jesus referencia Sl 82:6 como Torá em Jo 10:34).

Johann Reuchlin

Johann Reuchlin (1455–1522) foi um humanista, jurista e estudioso alemão, amplamente reconhecido como um dos principais hebraístas da Renascença e defensor da preservação da literatura judaica em um período de crescente antissemitismo na Europa.

Nascido em Pforzheim, Alemanha, Reuchlin destacou-se por suas contribuições ao estudo do hebraico e pela promoção do diálogo entre tradições intelectuais judaicas e cristãs.

Oriundo de uma família nobre, Reuchlin recebeu uma formação abrangente em universidades como Freiburg, Paris e Basel. Seus estudos iniciais abrangeram artes liberais e direito, culminando na obtenção de uma licenciatura em direito pela Universidade de Poitiers, em 1481. Além disso, dedicou-se intensamente ao estudo do grego e do latim, tornando-se uma figura central no movimento humanista renascentista.

No início da década de 1490, Reuchlin desenvolveu interesse pelo hebraico, tornando-se um dos primeiros estudiosos cristãos a se dedicar seriamente ao idioma. Em 1506, publicou De Rudimentis Hebraicis, uma gramática e léxico que estabeleceu as bases para o estudo do hebraico entre os cristãos e facilitou uma compreensão mais precisa do Antigo Testamento em sua língua original. Sua obra foi inovadora, contribuindo para o desenvolvimento da filologia bíblica e para um diálogo mais profundo com os textos judaicos.

Reuchlin trabalhou na defesa da preservação dos textos judaicos em meio a esforços para sua destruição. Em 1510, publicou um tratado contra a confiscação e queima de livros judaicos, uma prática promovida por setores eclesiásticos liderados pelo inquisidor Johannes Pfefferkorn. Sua postura gerou controvérsias e lhe trouxe oposição de autoridades eclesiásticas, mas também consolidou sua reputação como um humanista filossemitista e defensor da liberdade intelectual.

Ao longo de sua vida, Reuchlin ocupou cargos judiciais em Württemberg e continuou a ensinar hebraico e grego até seus últimos anos. Influenciou uma geração de estudantes e acadêmicos.

Mesad Hashavyahu Ostracon

O Mesad Hashavyahu Ostracon ou Yavne-Yam ostracon é um pequeno fragmento de cerâmica descoberto em 1965 em um sítio arqueológico em Israel conhecido como Mesad Hashavyahu.

O Mesad Hashavyahu Ostracon é significativo porque contém um dos primeiros exemplos conhecidos de escrita hebraica, que remonta ao século VII aC. Meṣad Hashavyahu era uma antiga fortaleza na fronteira do antigo Reino de Judá, de frente para a cidade filisteia de Asdode, perto do Mar Mediterrâneo.

A inscrição no ostracon é um documento legal que se refere a uma disputa sobre a propriedade de um vinhedo e seus produtos. Registra um apelo por escrito de um camponês o ao governador da fortaleza sobre o confisco de seu manto penhorado. (cf. Êxodo 22:25). Faz a primeira menção extrabíblica do sábado.

O texto é escrito a tinta e consiste em 6 linhas com um total de 17 palavras, tornando-o um dos exemplos conhecidos de escrita hebraica.

Anawim

Anawim, em hebraico עֲנָוִ֣ים, são os pobres em espírito. O termo indica o pobre dos pobres, quem depende da graça alheia. Teologicamente, seria uma pessoa que depende do Senhor para sua salvação.

Deriva-se de anav, pobre, aflito, humilde, manso, sendo frequentemente traduzido com esses termos, mas seu significado é mais amplo. Conota os despossuídos que sofrem injustiça e exploração sistêmicas. Muitos deles estavam no quádruplo de vulnerabilidade.

Presentes no Sermão da Montanha, os anawim são o foco principal dos ensinamentos e do ministério de Jesus. A expectativa de atender os anawim com justiça e equidade era um anseio presente no Antigo Testamento (Salmo 147:6; 149:4; Isaías 11:4; etc.).

Termos tardios associados inclui ebionita.

BIBLIOGRAFIA

Fiorenza, Elisabeth Schüssler. In memory of her: A feminist theological reconstruction of Christian origins. Londres: : SCM Press, 1983.

Saadia Gaon

Saadia Gaon (882-942 dC) foi um estudioso e filósofo judeu que viveu no mundo islâmico durante o período medieval. Faz parte da época dos Geonim, na cronologia dos sábios judeus.

Saadia Gaon nasceu em Fayyum no Egito, mas passou a maior parte de sua vida em Bagdá, onde serviu como chefe da comunidade judaica local e como líder da Academia de Sura.

Saadia Gaondiscorreu sobre a filosofia judaica, particularmente seus esforços para reconciliar a teologia judaica com o racionalismo da filosofia grega antiga. Ele escreveu numerosas obras sobre lei, teologia e filosofia judaicas, incluindo seu famoso “Emunot ve-Deot” (Crenças e Opiniões), que apresenta uma exposição sistemática da teologia e metafísica judaica.

Debateu com pensadores caraítas, sendo sua contribuição relevante para firmar a hegemonia intelectual rabínica.

Saadia Gaon foi um tradutor prolífico. Desempenhou um papel fundamental na tradução de muitas obras importantes do árabe para o hebraico, incluindo a Bíblia e o Talmud. Suas traduções ajudaram a disseminar o conhecimento da filosofia e da ciência árabe para o mundo judaico.

Como gramático e filólogo deixou uma contribuição importante. Em 913, aos 20 anos, Saadia completou sua primeira grande obra, o dicionário hebraico que intitulou Agron. Seu “Livro da Elegância da Língua Hebraica” (árabe: Kitab al-Fushul fi al-Lughah al-‘Ibraniyyah) é considerado o primeiro livro de gramática hebraica. Foi escrito em árabe e continua sendo uma importante obra de linguística e gramática hebraica.

O “Livro da Elegância” está organizado em trinta capítulos, cada um dos quais trata de um aspecto específico da gramática hebraica. Abrange uma ampla variedade de tópicos, incluindo o alfabeto hebraico, os princípios da morfologia e sintaxe hebraica e as nuances do vocabulário hebraico.

Uma das principais características da gramática de Saadia Gaon é o uso de conceitos linguísticos e terminologia árabe. Saadia era fluente em árabe e foi profundamente influenciado pela tradição gramatical árabe. Ele incorporou muitos termos e conceitos gramaticais árabes em sua gramática hebraica, tornando-a uma síntese única das tradições linguísticas judaica e árabe.

O “Livro da Elegância” foi um trabalho influente no desenvolvimento da língua e literatura hebraica. Foi amplamente lido e estudado por estudiosos e poetas, e ajudou a padronizar a gramática e o uso do hebraico.