Pentateuco

O Pentateuco (“cinco livros”) é o título da coleção dos primeiros cinco livros da Bíblia na tradução grega Septuaginta: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Seu conteúdo textual corresponde à Torá, que em hebraico significa em sua forma mais básica “instrução ou lei”. Entretanto, as nuances e conjunto de pressupostos que o termo Torá carrega são distintos daqueles que portam o termo Pentateuco. Torá pode ter sentido genérico de instrução (cf. Pv 1:8; 4:2), uma norma ou lei (Lv 10:11), o decálogo (Ex 24:12), mesmo o conteúdo do Pentateuco (At 13:15, At 24:14) ou de toda a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento (por exemplo, Jesus referencia Sl 82:6 como Torá em Jo 10:34).

A composição do Pentateuco é anônima, embora haja alguns trechos que impliquem a autoria de Moisés. A partir do período helenístico começa uma tendência de atribuir sua autoria a Moisés e revisão a Esdras. De certa forma, esse foi o consenso tácito por cerca de um milênio e meio. Quando as questões das fontes e autoria passaram a ser levantadas, surgiram vários modelos de composição como a autoria única em um único evento por Moisés ou outra pessoa, a hipótese documentária, a teoria suplementar e a teoria fragmentária.

O surgimento de práticas editoriais em Alexandria e a padronização dos pergaminhos no século III a.C. afetaram a materialidade do Pentateuco. Enquanto na Septuaginta a divisão do Pentateuco é em cinco livros, o Pentateuco hebraico — tanto o samaritano quanto o dos judeus — é um só livro, um rolo contínuo. Porém, as convenções editoriais hebraicas, como a separação de cada livro com quatro linhas em branco, refletem influências alexandrinas. Outros manuscritos da Antiguidade, sobretudo os Manuscritos do Mar Morto, estão em estado demasiadamente fragmentário para inferir sobre a divisão dos livros.

No entanto, a divisão da Torá em cinco livros não é mencionada explicitamente em qualquer lugar da Bíblia.

A mais antiga menção de que a Torá estava dividida em vários livros vem da pseudoepígrafa Carta de Aristeas (século II ou I a.C.) que menciona os “rolos” (ta teuche) dos judeus no plural, sem dizer qual número. A divisão em cinco partes aparece mencionada pela primeira vez por Filo de Alexandria (ca. 25 a.C-50 d.C.) no início de seu livro Sobre Abraão. Cerca de 20 anos depois de Filo, Josefo diz que nas Escrituras israelitas estão cinco livros que pertencem a Moisés (Contra Apion 1.8). Já o termo Pentateuco aparece em sua atestação mais remota na Carta de Ptolomeu a Flora (século II d.C.) preservada por Epifânio de Salamina (século V d.C.) em seu Panarion 33.3-7, no qual consta:

Primeiro, você deve aprender que toda a Lei contida no Pentateuco de Moisés não foi ordenada por um legislador – quero dizer, não apenas por Deus, alguns mandamentos são de Moisés, e alguns foram dados por outros homens.

Nas versões fixadas a partir das recensões do século II d.C. em diante (Hexapla, Vulgata, Peshitta, Texto Massorético) atesta uma padronização da divisão do Pentateuco em cinco partes. Talvez o suporte material explique tal divisão. No Egito, onde a recensão da Septuaginta se desenvolveu, havia abundante disponibilidade de papiro, mas tal suporte requer rolos menores. Já na Palestina e Mesopotâmia o uso de pergaminho — o qual costurado permite volumes maiores — favoreceu a compilação em um único livro.

Moisés

Em hebraico מֹשֶׁ֔ה Moshê, em grego Μωυσῆς Moyses. Foi o líder da libertação dos israelitas do Egito e recipiente das instruções que constituem a Lei (Torá).

Irmão de Aarão e Miriam, era da tribo de Levi.

O significado incerto. A relação proposta em Êxodo 2:6, 10 para o nome não é clara. Foi sugerido que se deriva do verbo raro em hebraico mashah, que ocorre apenas em 2 Sm 22:17 e Sl 18:16. Pode ser derivado do egípcio ms que aparece como sufixo “filho” em vários nomes como por exemplo Tutemés ou Ramsés. Ainda outra possibilidade em egípcio seria mw-s (“filho da água”).

Deuteronômio

Deuteronômio em grego é “a segunda lei”. O título hebraico é devarim, de “estas são as palavras“. No conjunto do Pentateuco é o último livro e serve de recapitulação da jornada e instrução da Lei aos israelitas. Consiste em três discursos de despedida (1-4, 5-26, 27-31:27) de Moisés nas planícies de Moabe, no final dos 40 anos de peregrinação pelos desertos durante o êxodo.

Em maior detalhe, o livro começa com um discurso de despedida proferido por Moisés nas planícies de Moabe (1: 1-5). Recapitula como Deus trouxe o povo à beira do Jordão (1: 1-4:43). Em um segundo discurso, Moisés explica o significado da aliança (5-11) e apresenta o Código de Leis Deuteronômicas (12-26), o cerne do livro. Seguem instruções para a renovação da aliança (27), uma lista de bênçãos e maldições (28) e uma exortação final para observar a aliança (capítulos 29-30). Seguem o Cântico de Moisés (31-32), sua bênção final a Israel (33) e o relato de sua morte no Monte Nebo (34) encerra o livro.

Na comparação do Código Deuteronômico (Dt 12-26) com o Livro da Aliança ou Código da Aliança (Êx 20: 22-23: 33) e o Código de Santidade (Lv 17-26) há cinco tópicos únicos a Deuteronômio: a centralização da adoração (12:1-32; passim); as cidades apóstatas (13: 12-16); deveres reais (17: 14-20); direito da guerra (20:1-20); e o assassino desconhecido (21: 1-9).

Números

Livro que relata parte da peregrinação dos israelitas do Sinai até a planície de Moabe, antes da entrada na Terra Prometida. O título remete ao censo com o qual o livro começa (1-4). No entanto, o livro possui gêneros textuais diversos. Há prescrições de purificação (5:1⁠–⁠10:10 ), as quais incluem as regras do voto de nazireado (6:1-21) e da bênção sacerdotal (6:22-27). Continua com as narrativas da peregrinação até Parã (10:11-12), o envio de espiões  (13:1⁠–⁠15:41 ), uma coleção de passagens diversas entre Parã e Moabe (16-36), incluindo os eventos e profecias de Balaão (22:1-25:18).

Levítico

Levítico, cujo nome refere-se aos assistentes do santuário membros da tribo de Levi não contados entre as famílias sacerdotais, registra os regulamentos dos sacrifícios, das leis de pureza e da prática de santidade para o povo de Israel.

Notavelmente, apresenta uma das antigas versões da regra áurea ou do grande mandamento: “Como o natural, entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus”. (Lv 19:34).

Tematicamente, o livro de Levítico situa-se na construção do santuário quando o povo de Israel estava acampado no Sinai. O livro continua com as instruções já apresentadas acerca do santuário desde Êxodo 25 e é continuado por outras instruções até Números 10. Estruturalmente são cinco grandes blocos:

  1. capítulos 1 a 7: o sistema sacrificial.
  2. capítulos 8 a 10: o papel sacerdotal de Aarão e dos aarônidas.
  3. capítulos 11 a 15: as purezas alimentar e ritual.
  4. capítulo 16: procedimentos para o Dia da Expiação (Yom Kippur).
  5. capítulos 17 a 26, o “código de santidade” por sua ênfase na santificação e pureza.

BIBLIOGRAFIA
Elliger, Karl. Leviticus. Tübingen: JCB Mohr Paul Siebeck, 1966.

Rendtorff, Rolf; Robert A. Kugler; Sarah Smith Bartlet, eds. The book of Leviticus: composition and reception. Vol. 3. Brill, 2003.

Schwartz, Baruch J. “Leviticus.” In The Jewish Study Bible. Edited by A. Berlin and M. Z. Brettler, 203–280. New York: Oxford University Press, 2004.