Anawim

Anawim, em hebraico עֲנָוִ֣ים, são os pobres em espírito. O termo indica o pobre dos pobres, quem depende da graça alheia. Teologicamente, seria uma pessoa que depende do Senhor para sua salvação.

Deriva-se de anav, pobre, aflito, humilde, manso, sendo frequentemente traduzido com esses termos, mas seu significado é mais amplo. Conota os despossuídos que sofrem injustiça e exploração sistêmicas. Muitos deles estavam no quádruplo de vulnerabilidade.

Presentes no Sermão da Montanha, os anawim são o foco principal dos ensinamentos e do ministério de Jesus. A expectativa de atender os anawim com justiça e equidade era um anseio presente no Antigo Testamento (Salmo 147:6; 149:4; Isaías 11:4; etc.).

Termos tardios associados inclui ebionita.

BIBLIOGRAFIA

Fiorenza, Elisabeth Schüssler. In memory of her: A feminist theological reconstruction of Christian origins. Londres: : SCM Press, 1983.

Saadia Gaon

Saadia Gaon (882-942 dC) foi um estudioso e filósofo judeu que viveu no mundo islâmico durante o período medieval. Faz parte da época dos Geonim, na cronologia dos sábios judeus.

Saadia Gaon nasceu em Fayyum no Egito, mas passou a maior parte de sua vida em Bagdá, onde serviu como chefe da comunidade judaica local e como líder da Academia de Sura.

Saadia Gaondiscorreu sobre a filosofia judaica, particularmente seus esforços para reconciliar a teologia judaica com o racionalismo da filosofia grega antiga. Ele escreveu numerosas obras sobre lei, teologia e filosofia judaicas, incluindo seu famoso “Emunot ve-Deot” (Crenças e Opiniões), que apresenta uma exposição sistemática da teologia e metafísica judaica.

Debateu com pensadores caraítas, sendo sua contribuição relevante para firmar a hegemonia intelectual rabínica.

Saadia Gaon foi um tradutor prolífico. Desempenhou um papel fundamental na tradução de muitas obras importantes do árabe para o hebraico, incluindo a Bíblia e o Talmud. Suas traduções ajudaram a disseminar o conhecimento da filosofia e da ciência árabe para o mundo judaico.

Como gramático e filólogo deixou uma contribuição importante. Em 913, aos 20 anos, Saadia completou sua primeira grande obra, o dicionário hebraico que intitulou Agron. Seu “Livro da Elegância da Língua Hebraica” (árabe: Kitab al-Fushul fi al-Lughah al-‘Ibraniyyah) é considerado o primeiro livro de gramática hebraica. Foi escrito em árabe e continua sendo uma importante obra de linguística e gramática hebraica.

O “Livro da Elegância” está organizado em trinta capítulos, cada um dos quais trata de um aspecto específico da gramática hebraica. Abrange uma ampla variedade de tópicos, incluindo o alfabeto hebraico, os princípios da morfologia e sintaxe hebraica e as nuances do vocabulário hebraico.

Uma das principais características da gramática de Saadia Gaon é o uso de conceitos linguísticos e terminologia árabe. Saadia era fluente em árabe e foi profundamente influenciado pela tradição gramatical árabe. Ele incorporou muitos termos e conceitos gramaticais árabes em sua gramática hebraica, tornando-a uma síntese única das tradições linguísticas judaica e árabe.

O “Livro da Elegância” foi um trabalho influente no desenvolvimento da língua e literatura hebraica. Foi amplamente lido e estudado por estudiosos e poetas, e ajudou a padronizar a gramática e o uso do hebraico.

Menahem ben Saruq

Menahem ben Saruq (c. 920-c. 970) foi um gramático, lexicógrafo e poeta judeu que viveu na Espanha islâmica. Foi pioneiro da gramática e lexicografia hebraica.

A principal contribuição de Menahem ben Saruq para os estudos hebraicos foi o desenvolvimento de uma abordagem sistemática para o estudo da lexicografia hebraica. Sua obra mais importante, o “Mahberet” (Thesaurus), foi um dicionário abrangente da língua hebraica que incluiu mais de 4.000 verbetes.

Judah ben David Hayyuj

Judah ben David Hayyuj (c. 945-c. 1000) foi um gramático, filólogo e poeta judeu que viveu na Espanha muçulmana.

Hayyuj inicia a história da gramática hebraica e suas obras tiveram um impacto significativo no desenvolvimento da língua hebraica.

A principal contribuição de Hayyuj aos estudos hebraicos foi o desenvolvimento de uma abordagem sistemática e filológica para o estudo da gramática hebraica. Antes de seu trabalho, a gramática hebraica era amplamente baseada na intuição e na tradição e carecia de um conjunto claro e consistente de regras. A abordagem de Hayyuj foi influenciada pela tradição gramatical árabe e ele aplicou os princípios da gramática árabe ao estudo do hebraico.

Uma das obras mais importantes de Hayyuj foi seu “Kitab al-Tanqih” (Livro do Refinamento), que era uma gramática da língua hebraica. Nesse trabalho, ele introduziu uma série de inovações. Ele introduziu uma série de novos conceitos, como a ideia de “raiz” de uma palavra, que se tornou um conceito fundamental na gramática hebraica.

Além de seu trabalho na gramática hebraica, Hayyuj também foi um poeta prolífico e escreveu vários poemas em hebraico e árabe.

Versões hebraicas do Novo Testamento

Apesar de raras, traduções do Novo Testamento para o hebraico surgiram por vários motivos. Originalmente feitas para fins privados, polêmicos ou servindo conversos, o Novo Testamento foi traduzido do grego, latim ou outras línguas para o hebraico.

Traduções de Mateus. Há pelo menos 50 versões do Evangelho de Mateus para o hebraico. A maioria datam do Renascimento em diante.

Mateus de Du Tillet. Heb.MSS.132 da Biblioteca Nacional, em Paris. Contém reminiscências de uma antiga versão hebraica, talvez remontando da Antiguidade Tardia. O manuscrito foi obtido pelo bispo Jean du Tillet dos judeus italianos em uma visita a Roma em 1553, e publicado em 1555.

Sefer Nestor ha-Komer . “O Livro de Nestor, o Sacerdote”, século VII. Contém citações significativas de Mateus, aparentemente de um texto latino.

Toledot Yeshu. “Vida de Jesus”, século VII. Uma paráfrase polêmica.

Mateus de Shem Tov ben Isaac ben Shaprut. Feita em Aragão em 1385.

Mateus de Sebastian Münster, 1537, versão impressa do Evangelho de Mateus, dedicado ao rei Henrique VIII da Inglaterra.

Mateus de Ezekiel Rahabi, Friedrich Albert Christian e Leopold Immanuel Jacob van Dort , 1741-1756. Edição hoje perdida.

Travancore Hebrew New Testament of Rabbi Ezekiel. Um exemplar comprado por Claudius Buchanan em Cochim, Índia.

Mateus de Elias Soloweyczyk, 1869.

Epístolas aos Hebreus de Alfonso de Zamora (1526).

Bíblia dodecaglota de Hütter. O Novo Testamento completo publicado por Elias Hütter, em sua edição poliglota em doze idiomas. Feita em Nuremberg, em 1599, 1600, em dois volumes.

A partir do século XIX surgiram várias edições completas do Novo Testamento em hebraico, boa parte publicadas pelas sociedades bíblicas e traduzidas diretamente do grego.

Línguas bíblicas

A maior parte da Bíblia foi escrita em hebraico, alguns trechos em aramaico e o Novo Testamento em grego koiné. As duas primeiras línguas descendem do Proto-Semítico, um conjunto de dialetos que teria sido falado entre 3750 e 2800 a.C., constituindo um ramo do Proto-Afro-Asiático, outro proto-língua que foi falada entre 16.000 e 10.000 a.C., provavelmente no noroeste da África. Por sua vez, o grego descende do Proto-Indo-europeu, o qual foi falado por pastoralistas que viviam próximo ao Mar Negro entre 4500 e 3500 a.C. Outras línguas indo-europeias com relevância bíblica são o hitita (provavelmente os mesmos heteus bíblicos) e o persa.

Ḥerem (genocídio)

O ḥerem (hebraico חרם) era uma prática sacrifical na qual toda presa viva — quer pessoa, quer animal — é condenada à morte e devotada a um deus.

Antes, destruí-las-ás [ḥerem] totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos ferezeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor, teu Deus,

Dt 20:16

O termo ḥerem aparece nas línguas semíticas como algo interdito por razões religiosas. No entanto, em Dt 20:16; Js 10:40; na Estela de Mesa, o conceito de ḥerem indica aniquilação total da população apreendida. É nesse sentido de destruição que aparece a última palavra de Malaquias, no final do Antigo Testamento do cânone cristão.

O ḥerem oferece um dilema ético e moral, bem como uma dificuldade bíblica. O teólogo anabatista John Howard Yoder sugere de que o ḥerem evitava que a guerra se tornasse uma fonte de enriquecimento por meio de pilhagem. Assim, seria uma forma incipiente de conter a escalada de violência.

BIBLIOGRAFIA
Hofreiter, Christian. Making Sense of Old Testament Genocide: Christian Interpretations of Herem Passages. Oxford University Press, 2018.

Stern, Philip D. The Biblical Herem: A Window on Israel’s Religious Experience. Brown Judaica Studies 211; Atlanta: Scholars Press, 1991.

Trimm, Charlie. The Destruction of the Canaanites: God, Genocide, and Biblical Interpretation. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2022.