Ezequiel 28:12 descreve o rei de Tiro como “selo da perfeição” (חֹתָם תָּכְנִית, ḥotam takhnit). A Almeida Revista e Corrigida verte como “aferidor de medidas”. A frase é complexa e tem sido interpretada de diversas maneiras.
O selo (חֹתָם, ḥotam) denota autenticidade, completude, e autoridade. No antigo Oriente Próximo, selos eram usados para marcar propriedade, validar documentos e indicar posição de poder. O selo do rei de Tiro sugere que ele personificava um ideal de perfeição ou completude, talvez em termos de beleza, sabedoria, ou poder.
Já perfeição (תָּכְנִית, takhnit) é uma palavra é menos comum e seu significado exato é debatido. Pode se referir a um plano, modelo, padrão, ou estrutura. Talvez takhnit se refere ao modelo ideal de um rei, ou mesmo à própria criação. O rei de Tiro, portanto, seria o representante terreno desse ideal.
Juntas, as palavras “selo da perfeição” podem indicar que o rei de Tiro era considerado a encarnação de um modelo ideal de realeza, beleza, ou sabedoria. Ele não era apenas um rei, mas a própria representação da perfeição em sua forma. Essa interpretação é reforçada pela descrição subsequente do rei no mesmo capítulo, onde ele é retratado com grande beleza, sabedoria e riqueza, chegando a ser comparado a um querubim e a habitar o jardim do Éden.
No entanto, a frase também pode ter uma nuance irônica. O contexto do capítulo 28 é uma condenação do orgulho do rei de Tiro, que se exaltou acima de sua condição humana e se considerou um deus. Nesse sentido, a descrição do rei como “selo da perfeição” pode ser uma forma de ridicularizar suas pretensões, mostrando a discrepância entre sua percepção de si mesmo e a realidade de sua finitude e pecado. Sua queda subsequente demonstra a fragilidade de sua suposta perfeição.
BIBLIOGRAFIA
Greenberg, Moshe. Ezekiel: A New Translation with Introduction and Commentary. Vol. 22 of The Anchor Bible. New York: Doubleday, 1997. 2:580–81.
