Arábia

Na Bíblia, a Arábia — em hebraico עֲרָב, arav; em grego Ἀραβία, Arabia — se refere às regiões habitadas por povos semitas árabes, normalmente os nômades e moradores de vilas em oásis nos desertos da Arábia.

Os árabes são chamados de “povo do Oriente” (Jz 6:3). Eram sociedades pastoralistas, linhageiras e divididas em clãs e tribos, algumas das quais são mencionadas na Bíblia: amalequitas, buzitas, dedanitas, hagaritas, ismaelitas, cadmonitas, quedaritas, queneus, meunitas, midianitas, naamatitas, sabeus e suitas.

No Antigo Testamento, a Arábia é retratada como uma região de reinos e tribos nômades, como os kedaritas, mencionados em Isaías 60:7 e Jeremias 49:28-29, conhecidos por sua habilidade com o arco e flecha (Isaías 21:17) e seu envolvimento no comércio de especiarias e incensos (Ezequiel 27:21).

A influência do reino de Israel se estendia à Arábia, evidenciada pela menção em 1 Reis 10:15 e 2 Crônicas 9:14 de que “reis da Arábia” prestariam tributo a Salomão. Profetas como Isaías (21:13-16) e Jeremias (25:24) proferem oráculos contra a Arábia, prevendo sua destruição. Ezequiel 27:21 retrata a Arábia como parceira comercial de Tiro, evidenciando sua participação nas rotas comerciais da antiguidade.

A Arábia também figura na história de Neemias, que enfrenta oposição de Geshem, o árabe (Neemias 2:19; 6:1-2, 6), durante a reconstrução dos muros de Jerusalém. Geshem, provavelmente um líder tribal ou oficial persa, tenta impedir a obra, acusando os judeus de rebelião. Essa passagem ilustra as tensões entre judeus e seus vizinhos árabes durante o domínio persa.

No Novo Testamento, a única menção explícita à Arábia ocorre em Gálatas 1:17, quando Paulo relata sua ida à Arábia após sua conversão. Em Gálatas 4:25, Paulo menciona o monte Sinai, normalmente associado com a Arábia.

Além das menções de passagens na Bíblia, é provável que os provérbios de Agur e de Lemuel, bem como a história de Jó, tenham origem e sejam ambientadas na Arábia.

Desde a última glaciação a Arábia vem se tornando um dos maiores e mais secos desertos do mundo. Esse processo se intensficou por volta 4000 a.C. levando à migração de povos para áreas mais úmidas no Crescente Fértil, oásis pela península arábica e na região montanhosa do sul, onde são hoje o Iêmem e Omã.

O reino de Dilmun, na região do golfo persa, desenvolveria contemporaneamente à Suméria e à civilização do vale do Indo. No entanto, até cerca de 1000 a.C. quando se disseminou o camelo domesticado, a maior parte desta região não suportava nenhuma população humana significativa. O deserto não permitia nem mesmo manter rotas de comércio.

A partir da Idade do Ferro surgem reinos de Sabá e de Maʿīn no sul e Dedã no norte. Já contemporâneos aos períodos helenista e romano, floresceram os reinos Nabateu e Ghassânida na região norte da península. Na região central destacavam-se cidades entrepostos e centros religiosos como Meca e Medina. A subistência dependia do pastoreio de ovelhas e do comércio incenso, intermediando rotas de caravanas desde as regiões costeiras do Oceano Índico à Crescente Fértil.

A região abrigou povos de culturas e origens diversas. Teorias de que a Arábia seria o berço da cultura semítica ou que reúne todos os árabes a só uma origem étnica hoje são descartadas pela antropologia, arqueologia e estudos genéticos.

A religião árabe variou muito em sua história. O culto do deus ‘il ou ‘ilah (equivalentes ao hebraico El e Eloá) era dominante, mas havia outros deuses em seu panteão. Todavia mais tarde surgiram formas de monoteísmo nativo (hanif), bem como formas de judaísmos e cristianismos, antes do advento do Islã no século VII d.C. Outras divindades incluíam o deus-lua Ilumquh dos sabeus, cuja esposa era a deusa do sol Shamsi, e seu filho era ‘Athtar, a estrela da manhã. Os nabateus possuíam um panteão com Dushara, o deus supremo; Allat, a deusa-mãe; Hadad, o deus da tempestade; Atargatis, a deusa-peixe; e Gad, o deus da sorte. Imagens de suas divindades esculpidas em pedra eram veneradas. Acreditavam que no deserto habitavam vários espíritos ou demônios, os jinn, de onde veio a palavra gênio. Seus rituais religiosos incluíam a circuncisão e peregrinação. Sacrifícios e consulta a oráculos sagrados (como o urim e tumim para os israelitas) eram papéis dos sacerdotes, os kāhin, como no hebraico kōhēn, os quais faziam ofertas de alimentos, animais e incenso em altares de pedra.

Os geógrafos gregos e romanos dividiam a península arábica em três componentes. A Arabia Petrea ficava ao sul da Síria, Sinai e oeste do Jordão, com centro em Petra (a Selá bíblica). A localização da Arabia Deserta (Arabia Eremos em grego) varia: às vezes indicava a região norte do Deserto da Arábia, entre o Eufrates e o Jordão, às vezes era a região central da Pensínula. Já a Arabia Felix (Arabia Eudaimon em grego, uma tradução de El-Iêmen) referia-se à região então verde do sul da Península.

Apesar de as mais antigas inscrições em árabes remontarem do século VIII a.C., somente no período abássida em diante (séc. IX d.C.) os povos da árabia tornaram-se sociedades letradas, ainda com restrições. As escritas mais antigas procedem do sabeu, da qual surgiram o ge’ez da Etiópia, o lihyânico, thamúdico e o safaítico, o nabateu, o cúfico e o árabe clássico — essas últimas derivadas e influenciadas pelo aramaico. As inscrições epigráficas nessas escritas ainda não foram totalmente coletadas e sistematizadas.