Pontos de Doutrina: 5. Salvação

Uma exposição bíblica do artigo 5° dos Pontos de Doutrina e de Fé, a respeito da salvação.

Regeneração

Regeneração sob o termo grego παλιγγενεσία, palingenesia, aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (Mateus 19:28 e Tito 3:5) para referir-se à recriação das coisas no Reino de Deus e ao renascimento espiritual da pessoa. Tematicamente há duas outras alusões à regeneração (re: novamente; generatio: nascimento) como novo nascimento João 3:3-8; 1 Pedro 1:3 (respectivamente gennethe anothen e anagennēsas).

Em Mateus 19:28, Jesus diz a seus discípulos que no novo mundo, “quando o Filho do Homem se assentar em seu trono glorioso”, eles também se sentarão em tronos, julgando as doze tribos de Israel. Ele então diz: “E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos ou irmãs ou pai ou mãe ou filhos ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna. Mas muitos que são os primeiros serão os últimos, e os último primeiro” (Mateus 19:29-30).

Nessa passagem o termo palingenesia descreve o novo mundo proposto por Jesus. Nele, seus seguidores receberão a vida eterna e herdarão o reino de Deus. Este novo mundo inverte radicalmente as hierarquias sociais, em que os que já foram os últimos serão os primeiros e os que já foram os primeiros serão os últimos. Essa linguagem de reversão e renovação enfatiza a natureza transformadora desse novo mundo, no qual tudo será feito novo e velhos padrões e hierarquias serão deixados para trás.

Em Tito 3:5, palingenesia descreve o processo de renascimento espiritual por meio da obra do Espírito Santo. A passagem diz: “Ele nos salvou, não por causa de obras feitas por nós em justiça, mas de acordo com sua própria misericórdia, pela lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5). Aqui, a linguagem de lavagem e renovação enfatiza a ideia de uma transformação radical, na qual velhos padrões e hábitos são eliminados e uma nova vida é abraçada.

O conceito de palingenesia tanto em Mateus 19:28 quanto em Tito 3:5 enfatiza a ideia de renovação espiritual ou renascimento como uma experiência radical e transformadora. Em Mateus 19:28, está ligada à ideia de um novo mundo onde há uma inversão radical das hierarquias sociais, enquanto em Tito 3:5, está ligada ao processo de regeneração e renovação espiritual que ocorre através da obra do Espírito Santo.

Em João 3:3-8 há a conversa entre Jesus e Nicodemos, um fariseu e membro do Sinédrio. Nicodemos possui familiaridade com a Lei e práticas de Israel, mas possui curiosidade de saber sobre Jesus. Contudo, também é temeroso de ser visto associado publicamente com Jesus. Assim vem à noite para conversar e acaba confundido quando descobre a necessidade de renascimento (“nascer novamente” ou “nascer do alto” em grego) a partir da “água” (implicitamente ele, Cristo) e do “Espírito” (o Espírito Santo) para ver e entrar no Reino de Deus.

Já 1 Pedro 1:3 faz parte de uma carta escrita a um grupo de cristãos que enfrentavam perseguição, dispersão e sofrimento. A passagem na saudação introdutória enfatiza “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Segundo a sua grande misericórdia, ele nos fez renascer para uma viva esperança, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pedro 1:3). Era normal começar uma carta agradecendo a Deus. Nesse caso, agradece-se o dom da salvação e da nova vida que se tornou possível por meio da ressurreição de Jesus. O”nascer de novo” indica essa transformação associada à “esperança viva, uma experiência contínua de graça e renovação.

Essas passagens indicam que o entendimento no Novo Testamento sobre regeneração ou novo nascimento era algo necessário para a compreensão (ver) e entrar (participar) no Reino de Deus. Isso não seria atingível por simplesmente seguir rituais, filiação a um grupo ou adesão a uma determinada ideia.

Desde o Antigo Testamento, a esperança da regeneração está ligada à fé no Criador. Deus como autor da nova criação regenera pelo poder de sua Palavra e pela obra do seu Espírito.

A passagem de Mateus 19:28 indica escatologicamente a restauração de todas as coisas, inclusive a renovação do indivíduo. Em Tito 3:5 há uma conotação individual. Já em João e 1 Pedro expressam a novidade de vida que o Espírito Santo efetua individualmente.