Epístola aos Colossenses

Nessa epístola paulina a identificação do crente com a morte em Cristo serve de advertência contra erros legalistas (Colossenses 2:8).

INTRODUÇÃO

Não há registros que Paulo tenha então estado em Colossos. É provável que a autoridade do apóstolo foi requisitada para resolver problemas doutrinários. Saber especificamente quais seriam os problemas da igreja em Colossos permanece um mistério, mas são certos que incluíam elementos de misticismo, legalismo, asceticismo e formalismo ritual.

Há semelhanças notáveis ​​com a epístola aos Efésios. Ambas cartas foram direcionadas à mesma região na Ásia menor (Colossos está cerca de 100 km de Éfeso). Ambas enfocam o senhorio de Cristo e já retratam os crentes com co-participantes de seu domínio e ambas possuem a Haustafeln (regras de convívio familiar). Em contraste, Efésios há uma ênfase na Igreja como o corpo de Cristo, enquanto em Colossenses a ênfase está em Cristo como a cabeça desse corpo.

Em uma leitura sob a perspectiva da Hausftafeln de ambas epístolas dá a entender que a comunidade de cristãos seria a Casa de Cristo. No Mediterrâneo da Antiguidade Clássica, um pater familias ou patrono morava em vilas e tinha um séquito de clientes, servos e parentes. Sua autoridade (domínio) sobre sua casa era absoluta na esfera doméstica.

Em Roma os clientes (pessoas livres, mas com obrigações morais ou econômicas), não importava o quanto rico ou poderoso fosse, tinha que prestar homenagem, se possível diariamente, na casa do patrono. A amicitia (amizade) era um tipo de relacionamento que somente ocorria entre iguais, nunca entre um patrono e cliente, senhor e servo. As relações eram tensas quando os clientes e servos por vezes tinham mais meios que os senhores. E muitos senhores tinham comportamentos não muito apreciáveis.

Tanto Colossenses e Efésios retratam uma relação de amor e fé dentre os membros da Casa de Cristo. Portanto, a relação interna da Casa não deveria ser por obrigação, aparência, como sicofantas (fazer obras para ganhar favor do Senhor), mas centrada em uma fé livre.

Na Epístola aos Colossenses, o apóstolo Paulo aborda a dinâmica entre maridos e esposas, empregando particularmente o termo ὑποτάσσω, hypotassō, algo como “estar sob a proteção” no que diz respeito ao relacionamento das esposas com seus maridos. No entanto, este termo contém nuances que vão além da mera autoridade hierárquica. Em vez disso, transmite a noção de acordo mútuo, em que o marido assume um papel protetor e de apoio semelhante a um abrigo ou escudo para a esposa. No contexto da sociedade greco-romana, caracterizada por estruturas patriarcais e pela necessidade de proteção em ambientes inseguros, tais dinâmicas relacionais não diziam respeito apenas à autoridade, mas também ao cuidado e salvaguarda recíprocos. Portanto, a ênfase está menos na submissão unilateral e mais no serviço e prestação mútuos dentro da unidade familiar.

A recepção teológica dessa epístola varia. A leitura tradicional dos sistemas teológicos agostinianos (luteranos e reformados principalmente) enfoca nessas epístolas o início da Ordo Salutis (a justificação). Já a leitura anabatista enfoca depois da justificação, a vida dos domésticos na fé, cujo senhorio da casa é de Cristo. Nessa perspectiva, a epístola centra-se em Cristo como cabeça e a Igreja como corpo. Assim, os crentes são chamados à santificação, fidelidade a Deus, dissipação de falsas doutrinas e práticas entre os já convertidos.

A posição da epístola no cânon paulino é antiga, classificando-a como uma das epístolas da prisão. Contudo, algumas pesquisas recentes colocam-na entre a antilegômena paulina. Como mencionado Colossenses possui paralelos com Efésios quanto a conteúdo e estrutura. Colossenses 4:9 menciona Onésimo, o escravo de Filémon, dentre outras pessoas também comuns a ambas epístolas.

ESBOÇO ESTRUTURADO

  1. Introdução
    • Saudação – Colossenses 1:1-2
    • Ação de graças pelos crentes em Colossos – Colossenses 1:3-8
    • Oração pela maturidade baseada na preeminência de Cristo – Colossenses 1:9-23
    • O sofrimento e o ministério de Paulo – Colossenses 1:24-29
  2. A vida em Cristo.
    • Cristo, o Mistério de Deus – Colossenses 2:1-5
      • Vivificados em Cristo – Colossenses 2:6-15
  3. Liberdade cristã
    • Não sejam julgados por regras religiosas humanas – Colossenses 2:16-23
      • Buscai as coisas que são de cima – Colossenses 3:1-4
      • Abandonem a conduta antiga – Colossenses 3:5-11
      • Apelo para uma Nova Conduta – Colossenses 3:12-17
      • Responsabilidades mútuas nas relações cristãs – Colossenses 3:18-4:1
      • Conselhos adicionais para a vida cristã – Colossenses 4:2-6
  4. Conclusão
    • Exortações aos colaboradores – Colossenses 4:7-17
    • Saudação final e bênção – Colossenses 4:18

BIBLIOGRAFIA

Barth, M., and H. Blanke. Colossians: A New Translation with Introduction and Commentary. Translated by A. B. Beck. Anchor Bible 34B. New York: Doubleday, 1994.

Beale, G. K. Colossenses e Filemom: comentário exegético. Vida Nova, 2022.

Bruce, F. F. The Epistles to the Colossians, to Philemon, and to the Ephesians. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1984.

Caird, G. B. Paul’s Letters from Prison (Ephesians, Phillippians, Colossians, Philemon) in the Revised Standard Version. Oxford: Oxford University Press, 1976.

Dunn, J. D. G. The Epistles to the Colossians and to Philemon: A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1996.

Gupta, Nijay K. Colossians. Smyth & Helwys Publishing, 2013.

Houlden, J. L. Paul’s Letters from Prison: Philippians, Colossians, Philemon and Ephesians. Harmondsworth, U.K.: Penguin, 1970.

Kooten, G. H. van. Cosmic Christology in Paul and the Pauline School: Colossians and Ephesians in the Context of Graeco-Roman Cosmology, with a New Synopsis of the Greek Text. Tübingen, Germany: Mohr Siebeck, 2003.

Kümmel, W. G. Einleitung in Das Neue Testament. 21st ed. Heidelberg, Germany: Quelle & Meyer, 1983.

Lohse, E. Colossians and Philemon. Tradução inglesa de W. R. Poehlmann e R. J. Karris. Hermeneia. Philadelphia: Fortress, 1971 [1968 versão alemã].

Moule, C. F. D. The Epistles of Paul to the Colossians and to Philemon. Cambridge Greek Testament, 1957.

O’Brien, Peter Thomas. Colossians, Philemon. Word Biblical Commentary, Vol. 44. Word Books, 1982.

Olbricht, Thomas H. “The Stoicheia and the Rhetoric of Colossians: Then and Now.” Journal For The Study Of The New Testament Supplement Series (1996): 308-328.

Reicke, B. I. “The Historical Setting of Colossians.” RevExp 70 (1973): 429–438.

Schweizer, Eduard. The Letter to the Colossians. London: SPCK, 1982 [1976 in German].

Soares, Dionísio Oliveira. “O equívoco teológico de Colossos e o hino cristológico de Cl 1, 15-20.” Estudos Bíblicos 36.141 (2019): 93-106.

Stowers, S. K. Letter Writing in Greco-Roman Antiquity. Philadelphia: Westminster, 1986.

Sumney, Jerry. “Those Who” Pass Judgment”: The Identity of the Opponents in Colossians.” Biblica (1993): 366-388.

Talbert, Charles H. Ephesians and Colossians (Paideia: Commentaries on the New Testament). Baker Academic, 2007.

Witherington, B. The Letters to Philemon, the Colossians, and the Ephesians: A Socio-rhetorical Commentary on the Captivity Epistles. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 2007.

Wiles, M. E. The Divine Apostle: The Interpretation of St. Paul’s Epistles in the Early Church. Cambridge, U.K.: Cambridge University Press, 1967.

4 comentários em “Epístola aos Colossenses”

Deixe um comentário