Epístola de Judas

Advertências para persistir na fé diante de enganadores.

A Epístola de Judas, uma carta concisa do Novo Testamento, dirige-se a uma comunidade de judeus crentes em Cristo, instando-os a resistir à influência dos mestres antinomianos (“contra a Lei”) e a defender as implicações morais de sua fé conforme ensinada pelos apóstolos.

Posicionado como o vigésimo sexto livro do Novo Testamento do cãnon ocidental, Judas é classificado como uma “Epístola Geral” ou “Epístola Católica”, indicando seu público-alvo como a comunidade cristã mais ampla, embora alguns estudiosos modernos defendam um público mais específico.

A autoria de Judas gerou debates, com o escritor se apresentando como “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”. Enquanto alguns o associam a Judas, irmão de Jesus, outros consideram a possibilidade de autoria pseudônima. A ênfase da carta numa salvação comum é vista como indicativa de uma era pós-apostólica, promovendo uma fé partilhada.

Acredita-se que o contexto histórico de Judas varie entre 50 e 110 dC. A localização geográfica é incerta, embora a Palestina ou a Ásia Menor pareçam provávéis. A carta aborda uma comunidade que enfrenta desafios de mestres que promovem a frouxidão moral e o desrespeito pela Lei Judaica.

A perspectiva teológica de Judas enfatiza o arrependimento e as boas obras para a salvação, omitindo menções explícitas às doutrinas da expiação ou da ressurreição. Notavelmente, sua postura doutrinária alinha-se com a Epístola de Tiago e possui muitos paralelos com 2 Pedro.

O termo “fé” tem uma variedade de significados no Novo Testamento. Em Judas 3, a fé pareece referir-se ao conteúdo doutrinário e à constância (fidelidade) dos crentes, mas não ao ato de acreditar. Já advérbio “de uma vez por todas” (ἅπαξ, hapax) parece indicar que as convicções doutrinárias da igreja primitiva haviam chegado a um consenso via ensino apostólico.

Judas se envolve na interpretação tipológica das Escrituras, justapondo figuras contemporâneas com personagens bíblicos para ilustrar lições morais. Baseia-se em fontes não-canônicas, notadamente o Testamento de Moisés e 1 Enoque, sendo este último citado diretamente nos versículos 14–15.

A estrutura de Judas segue um formato típico de carta greco-romana, composta por endereço, saudação, proêmio, meio do corpo com interpretações de vários textos e uma seção de encerramento com apelos e doxologia.

Referente à canonicidade, a Epístola de Judas integra a antilegômena. No final do século II d.C., Judas foi aceito como escritura no norte da África por Tertuliano e em Alexandria por Clemente e Orígenes. Houve questionamentos acerca de sua autoria por Eusébio. A citação de 1 Enoque por Judas foi um problema para Tertuliano (de Cult. fem. 1.3) e Jerônimo (De Vir. III. 4). Aparece no Cânone Muratoriano (II-IV d.C.), na lista de Atanásio em 367 e.c., e na Bíblia Siríaca de Filoxeno no século VI, mas não em muitas recessões da Peshitta.

Apesar de sua brevidade e relativa negligência pelos exegetas, a Epístola de Judas ganhou atenção por seu uso de escrituras não canônicas, complexidade textual, retórica inflamada e sua contribuição para as primeiras ideias cristãs. Figuras posteriores como Martinho Lutero associaram Judas a controvérsias teológicas específicas e a olharam com desdém.

Nos estudos contemporâneos, a epístola Judas permite vislumbrar o cristianismo judaico primitivo, demonstrando o entrelaçamento de eventos históricos com expectativas escatológicas e o uso de interpretação tipológica para transmitir ensinamentos morais.

BIBLIOGRAFIA

Bauckham, R. Jude and the Relatives of Jesus in the Early Church. London: T&T Clark, 1990, 2004.

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