O midrash, também grafado “midraxe”, é uma interpretação expansiva das Escrituras para fins de pregação (homilética), atualização normativa (midrash halacá) ou explicação narrativa (midrash hagadá).
O midrash toma as Escrituras como ponto de partida e tenta tornar uma passagem compreensível, útil e relevante para a geração atual. Não há preocupação quanto a historicidade ou facticidade da interpretação, mas preencher lacunas interpretativas, harmonizar passagens e atualizar a aplicação de normas para situações não previstas em passagens normativas das Escrituras.
Oriundo da raiz D.R.Sh, que significa “buscar, investigar, estudar”. O termo midrash é encontrado duas vezes na Bíblia, ambas em 2 Crônicas. Em 2 Cr 13:22 menciona “no midrash do profeta Ido” e em 24:27 diz que“estão escritos no midrash do livro dos reis”, referindo-se à fonte do cronista para seu relato de Abias e a sobre os muitos atos e oráculos contra Joás e os seus filhos.
Os três tipos de midrash são:
- Midrash exegética: textos de diferentes passagens ou mesmo livros para argumentar algo. Gal 3:16 faz uma midrash de Gn 12:7, 13:15.
- Midrash homilética: exposição de uma só passagem para fins de exortação (sermões). O livro de Hebreus seria uma midrash de Sal 110.
- Midrash narrativa: a paráfrase expansiva das Escrituras. Um exemplo é essa passagem da rocha (1 Cor 10:4).
Na exegese intra-bíblica há vários exemplos putativos de midrash:
- A epístola de Hebreus poderia ser um midrash do Salmo 110;
- Mateus utiliza amplamente essa técnica aliada à tipologia para citar autores do Antigo Testamento;
- A rocha movente de 1 Cor 4:10 era um midrash corrente na Antiguidade Tardia (Tosefta, Sukka 3.114).
BIBLIOGRAFIA
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