A cidade de Arade na borda do deserto do Negebe é mencionada três vezes em conexão com as peregrinação de Israel no deserto e com a conquista de Canaã. Esta cidade-estado com um rei cananeu não foi conquistada pelo povo de Israel (Nm 21:1; 33:40; Js 12:14).
Arade foi inicialmente fundada no Terceiro Milênio, depois de despovoada nos meados da Idade do Bronze até ser refundada no século X aC.
Por sua posição estratégica, Arade passou a ser um entreposto comercial e ponto de guarda de fronteira. Por essa razão, foi construído um forte.
Em Arade foram descobertos quase 200 óstracas de diversos períodos. Notavelmente importante são as óstracas do arquivo de Eliashib, datadas dos séculos VI-VII. As cartas desse destacamento militar atestam um letramento relativamente alto nessa época.
O Arquivo de Eliashib, encontrado em Arade, é uma coleção de óstracos descoberta em um cômodo específico, provavelmente um posto de guarda ou escritório administrativo, dentro da fortaleza judaíta nessa cidade. Datados do final do período monárquico, especificamente das últimas décadas do século VII ou do início do século VI a.C., pouco antes da conquista babilônica de Judá, esses documentos fornecem um vislumbre da vida cotidiana e da administração militar em uma fortaleza de fronteira. O nome Eliashib, filho de Eshiyahu, aparece recorrentemente, sugerindo fortemente que ele era o comandante ou intendente responsável pela fortaleza durante este período crítico. Os textos, escritos em escrita paleo-hebraica, consistem principalmente em correspondência administrativa curta, ordens militares e notas logísticas. Eles detalham a distribuição de suprimentos essenciais como vinho, farinha e azeite para soldados, mensageiros e, notavelmente, para grupos específicos como os Kittiyim, geralmente interpretados como mercenários possivelmente de origem cipriota ou egeia a serviço de Judá. Além das listas de nomes e das instruções de fornecimento, alguns óstracos contêm breves cartas ou memorandos dirigidos a Eliashib ou enviados por ele, tratando de assuntos da guarnição. Este arquivo é de valor inestimável por oferecer evidência direta sobre a administração militar judaíta, a economia local, as práticas de escrita e alfabetização fora da elite de Jerusalém, a composição das forças militares e a situação tensa na fronteira sul de Judá às vésperas de sua queda.
Em Arade havia um templo. Descoberto principalmente pelas expedições lideradas por Yohanan Aharoni a partir da década de 1960, o templo estava situado dentro da cidadela e funcionou aproximadamente entre os séculos IX e finais do VIII ou VII a.C. Sua arquitetura seguia um plano tripartido, reminiscente da descrição bíblica do Templo de Salomão, compreendendo um pátio aberto (ulam) que continha um altar sacrificial construído com pedras brutas, conforme prescrições bíblicas, uma sala principal (hekhal) e um santuário interno elevado, o Santo dos Santos (debir). Notavelmente, o debir não continha uma imagem antropomórfica, mas sim duas estelas de pedra verticais (massebot), uma maior que a outra, flanqueadas por dois pequenos altares de incenso. A presença destas massebot é interpretada como uma forma de culto anicônico, representando a presença divina, e tem gerado debate acadêmico sobre se simbolizavam apenas Yahweh ou Yahweh e uma divindade consorte, como Asherah, refletindo a complexidade da religião judaíta pré-exílica.
Entre as ôstracas encontradas em Arad, incluindo algumas que mencionam a “Casa de Yahweh”, reforçam a identificação do local como um centro de culto judaíta. O templo foi intencionalmente e cuidadosamente desativado – as massebot foram encontradas deitadas e o altar sacrificial coberto –, um ato frequentemente associado às reformas religiosas centralizadoras dos reis Ezequias ou Josias, que visavam confinar o culto sacrificial exclusivamente ao Templo de Jerusalém. Assim, o templo de Arade representa uma evidência arqueológica fundamental tanto da existência de culto oficial fora de Jerusalém quanto da subsequente imposição de medidas de centralização religiosa no reino de Judá.
