O melhor para o Senhor: trajes para o culto

A tradição de vestir trajes distintos para o culto é comum a várias religiões, como também muitas religiões não prescreve vestimentas especiais para seus ajuntamentos ou rituais.

Embora não haja injunção no Novo Testamento para vestimentas distintas, tal como os trajes cúlticos do Templo, é provável que a tradição judaica, samaritana e caraíta de vestir um talit (manto) tenha sido logo abandonado quando da separação da igreja gentia do povo de Israel em geral.

Vale ressaltar que há indícios que desde suas origens judeus e cristãos da Arábia usavam trajes distintos para o culto. A sinagoga e a igreja de Dura-Europos, quase no limite do deserto da Arábia, registram os cultuantes vestindo trajes formais romanos, como as túnicas. Os trajes brancos constitui legado transmitido tanto para os ortodoxos etíopes atuais, quanto para muçulmanos que os vestem às sexta-feiras.

Na maior parte do mundo, porém, não havia vestimentas especiais para o culto exceto os paramentos para o clero. Entrentanto, no Renascimento europeu surgiram classes com meios para adquirir roupas para ocasiões especiais. Em restos mortais de leigos e clérigos durante a Peste Negra aparecem pessoas sepultadas com suas melhores roupas.

Na A Balada do cabreiro António, trecho de Dom Quixote (capítulo XI), há uma das primeiras menções de roupas reservadas para o domingo. As vestimentas domingueiras popularizam-se entre diversas classes sociais no século XVI.

Durante a Reforma, o uso de trajes litúrgicos foi questão controversa. No geral, anglicanos e luteranos continuaram a usarem vestimentas especiais. Os Reformados adotaram as togas talares (jurídicas) para seus pregadores. Os anabatistas e outros reformadores radicais abandonaram completamente vestimentas distintas, mas reservaram para o domingo seus trajes formais.

Durante a Revolução Industrial e o avanço colonial do século XIX, movimentos populares de avivamento evangélico prezaram por minimizar as diferenças entre os congregados. Assim, firmou-se o hábito de usar uniformes (como no Exército de Salvação e em muitas denominações africanas) ou ternos e vestidos formais nas denominações de Santidade e Pentecostais, bem como entre grupos afroamericanos. Além de fornecer dignidade, tais trajes também expressam ideais de modéstia.

Nos anos 1960 e 1970, movimentos de missões urbanas ou carismáticos, principalmente na Califórnia, popularizaram o uso de roupas cotidianas no culto. Tal tendência esparramou-se pelo mundo nas décadas seguintes.

BIBLIOGRAFIA

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